O tempo estava favorável para os casais naquele dia dos namorados. O sol tinha se escondido atrás das nuvens. Uma tímida e cálida chuva caía num dia calmo de sábado que só pedia dois corpos se amando debaixo das cobertas. O clichê dessa data comemorativa. Alice tinha saído mais cedo de casa. Rob iria trabalhar meio expediente nesse dia. A oportunidade perfeita para a ela pôr seus românticos planos em ação. Esperou ele sair para ir trabalhar e, quando virou a esquina, sorrateira entrou em sua casa.
Acariciou o gato Opie, tirou os sapatos e suspirou. Sentia seu coração bater forte. Ela só havia entrado em sua casa uma vez logo no começo do relacionamento, cerca de um mês atrás. Alice estava ansiosa, pois tinha pensado em tantas coisas para comemorar o dia. Mal sabia por onde iria começar. Sorridente, adentrou o local com suas sacolas plásticas recheadas de enfeites, doces e uma sorte de agrados. Dirigiu-se para o quarto do seu amado notando pelo caminho roupas emaranhadas, meias fedidas e pacotes de salgadinhos largados pelo chão. Riu disso e deixou as bolsas em frente à porta. Decidiu arrumar aquela bagunça antes de fazer qualquer coisa. Afinal, do que adiantaria enfeitar o quarto se a casa estava um pequeno caos? Voltou a entrada da casa e tratou de pegar os utensílios necessários.
Algum tempo depois, a pequena casa de Rob reluzia e cheirava a produtos de limpeza. Alice fez tudo com muito amor. Até pôs uma gravatinha em Opie — este que se divertia compenetrado com o acessório. Enfim, depois de aprontar tudo, finalmente foi até o quarto para iniciar sua decoração romântica. Abriu a porta cantarolando alegre, mas o que veio a seguir sequer poderia ser dito. Alice tapou seu nariz violentamente num ato de puro reflexo. O cheiro podre de carniça empesteou suas fossas nasais de modo que a moça não pode conter um refluxo repentino de puro asco.
Sobre a cama de Rob estava um corpo em estado de putrefação enrolado em lençóis sujos de sangue podre. Alice continuava a vomitar todo seu recente café da manhã se perguntando se aquela visão era de fato real. Quando seu estômago notou que nada havia sobrado que pudesse ser vomitado, ela conseguiu se recompor. Limpou sua boca com as costas da mão e com a outra tapou seu nariz. Avançou cautelosa em direção ao putrefato corpo duvidando do que seus próprios olhos viam.
“Sim, eu estava namorando uma semana atrás... Me decepcionei bastante com a pessoa e terminamos”. Em sua mente falas ditas por Rob quando eles se conheceram começaram a permear. “Ela era uma garota legal. Me amarrava nos dreads azuis dela”. Alice estava próxima o bastante para decifrar a cor dos dreads. Um dia foram azuis, mas agora eram uma mistura tenebrosa de sangue podre com azul. “Mas você sabe, não é? Aparência não conta muito... Não importa o quando goste da pessoa ela sempre vai escolher fuder com tudo”. Alice desabou em choro de desespero. Na sua frente um corpo apodrecido de uma jovem repleta de vermes. Do seu lado roupas sujas e preservativos novos e usados. Atrás dela, sem que percebesse, Rob observava em silêncio a atitude de Alice.
Suas mãos tremiam, seu corpo suave frio, suas pernas bambeavam tanto quanto um terremoto de pior escala. Alice não conseguia raciocinar. Sua mente lhe trazia frases que se encaixavam com tudo que ela estava vendo, mas era como se ela não quisesse — ou não conseguisse — acreditar. Como ela poderia imaginar que seu namorado havia matado alguém? Pior, feito atrocidades que ela sequer tentava pensar. Alice estava em choque e sentia que precisava sair dali enquanto podia, mas ela sentia tanto medo e desespero que era como se seus pés estivessem fincados no chão. A pobre moça já não conseguia respirar tamanha força dos seus batimentos cardíacos. Ela não podia se ver, mas sabia que em seus olhos estava o puro terror.
Foi então que, num impulso de sobrevivência totalmente guiado pelo instinto, ela se virou pronta para correr, mas foi nesse momento que ela viu justamente quem menos queria ver. Rob já a observava algum tempo, só estava a divertir-se com seu desespero. Alice gritou apavorada e recuou até encontrar a parede. Implorava entre gemidos e um choro desesperador que ele a poupasse, pois ela o amava. Rob permanecia em silêncio com um sorriso de canto.
— Que bom que você veio até mim! É um saco construir relação — revirou os olhos .
— Por... Por fav... — Rob pôs um dedo sobre a boca e a interrompeu com um chiado baixo.
— Espero que você demore a apodrecer mais do que ela. — Rob disse tranquilo enquanto jogava o conteúdo da sacola plástica no chão.
Alice desesperou-se por completo quando o viu esticar a sacola debochadamente. Começou a berrar indiscriminadamente por socorro. Reuniu todas as suas forças para aquela súplica copiosa. Batia no guarda-roupas na vã tentativa de chamar atenção dos vizinhos com o barulho.
— Ei, não faça isso! Não quero seu corpo com hematomas! Vamos, pare! — Rob avançou até a jovem acuada e segurou-lhe pelos braços — Não se debata! Vou acabar te marcando!
Cansado de ter suas ordens ignoradas, Rob segurou seus dois braços com apenas uma mão e com a outra levou a sacola plástica para a face de Alice. Sufocou-lhe até que seus movimentos parassem. A pobre moça teve como última visão o logo da loja de presentes românticos. E então não mais respirou.