Ele não tem mais o que fazer, já se livrou de tudo o que não acrescentava em sua vida para dar espaço a novas coisas, agora com ele estão novas maneiras de guardar momentos. Sua câmera a tira colo, sua filmadora perto de si, seu quarto lotado de sentimentos expostos por móveis brancos e outro pálidos de cores não ditas. Ele tem um nome, data de nascimento e também acredita em astrologia. Ele é taurino, do signo de touro, mas não acredita que seja como manda o figurino.
Ele tem suas deveras características, continua mantendo coisas sem sentido ao seu lado, continua comendo, dormindo e esquecendo de viver para sobreviver, ele é possessivo e também tem suas crises de ciúme, mas isso seria completamente normal se toda essa carga sentimental fosse por alguém especial e não por seu objetos de coleção.
Ele não está sozinho no mundo, existem com ele outros garotos materialistas, tão difíceis de lidar como, mas porque ambos não se encontram? Será porque a humanidade de tais não tem nada a acrescentar ao outro? Ou porque uma presença humana sozinha não supre suas necessidades de estar com algo menos vivo?
Com certeza ele é o pior deles, prefere uma noite de televisão ao sair com os amigos que antes tinha, prefere ficar em casa ao viajar para algum novo lugar, mas qual sua culpa no cartório se seus pais o criaram assim? Em vez de um amigo lhe deram um vídeo game, em vez de uma viagem lhe deram um computador, em vez de amor lhe deram dinheiro, talvez os outros garotos materialistas como ele, sejam melhor em relações, até ele se considera o pior deles, até ele.
O que ele pode fazer? A sociedade o fez assim, o ensinando a trabalhar para ter suas coisas, o mandando para o colégio para arranjar um emprego melhor e comprar algo para si, uma casa, um carro, um iate. O que ele pode fazer se o consumismo é a nova lei natural? Agora ele só precisa suprir suas necessidades materialistas comprando coisas para si mesmo.
Ele é materialista, ele compra porque precisa, talvez também seja um compulsivo, compulsivo de companhia não viva, ele está sempre com seu celular, seu tablet e seu computador. Vítima do consumismo desenfreado do capitalismo retrógrado ele continua subindo, subindo a um lugar que não conhece, talvez subindo para uma nova loja onde o produto principal é amor.