A neve caía impetuosa era noite de inverno rigoroso
Pelo orfanato o frade caminhava devagar, pois estava deveras ocioso
Disperso em seus pensamentos ouviu um choro pesaroso
Correu até a entrada e encontrou um lindo bebê, porém “milindroso”.
Seu chorinho era interrompido pelo seu pequeno esqueleto a tremer
Envolto em cobertas finas que jamais poderiam o aquecer
“Pobrezinha! Quem poderia tal maldade cometer?”
Foi levada correndo para a clareira para que sua vida pudesse manter.
Ao findar a terceira mamadeira as bochechas pálidas tornaram-se rosadas
As freiras revesaram-se nos cuidados, pois rapidamente ficaram cansadas
Após se alimentar dormiu rápida e serenamente se sentindo amada.
Foi então na fria madrugada do berço foi silenciosamente levada.
“Um orfanato cristão oferecerá à minha criança o que não posso lhe dar
Comida quentinha, uma cama e estudos com certeza ela terá
Na casa de Deus, estudando sobre os santos e tudo mais, em paz viverá
Que me perdoe pelo abandono, mas o que uma camponesa poderia lhe entregar?”
Em sua simplória casa a mãe da criança chora para si mesma tentando da culpa se livrar
Imaginava o futuro que sua doce menina como freira iria levar
Sorria a pensar que fome, violência e diversas outras intempestes ela não iria experimentar
Até que adormeceu confortada por si mesma e as certezas que tentou pensar.
Contudo, o que é dito ser real pode, certamente, não existir
As figuras divinas, bíblias e estátuas angelicais podem o mal enrustir
Os anjos retradados são a legião satânica que blasfema e o inferno faz surtir
Às três da manhã as cruzes se invertem e uma grande maldita reza se faz emitir
As freiras outrora atenciosas e gentis transam e mutilam-se bebendo sangue de animais
O padre e a freira mor relacionam-se com carcaças podres juntamente com os demais
Entoam alto hinos luxuriosos em latim. Relembram cada ritual desde os primeiros natais
Beijam os pés das estátuas e clamam pelos respectivos nomes sem pensamentos morais
A criança permanece a dormir. Tamanho seu cansaço que todo o barulho não é ouvido
O que sua mãe teria feito ao imaginar que poderia um futuro melhor ter-lhe provido?
No centro do recinto, nua a criança foi colocada sob um pentagrama negro
As freiras sodomizavam-se em louvor gritando a esmo
A criança acordou e então todo o barulho cessou
De repente do pentagrama uma fumaça espessa brotou
O cheiro de enxofre por todo local se espalhou
E pelos bracinhos o demônio a criança segurou
Toda sorte de maldade ele cometeu
A dor e o sofrimento ele a submeteu
Foi então que, antes do sol nascer, ele a abateu
Sua alma inocente para o inferno subverteu
As cruzes desviraram-se e para o inferno retornou
A maldade e sujeira das janelas externou
Tudo então como era antes voltou