‘’Dizem que matar um animal não é pecado, mas um homem sim.
Contudo, aonde começa um e termina o outro?’’
Gwen – O Lobisomem
A lua cheia ascendia ao céu negro, mostrando-se formosa e forte em seu esplendor platinado. Passos pesados, mas cautelosos, caminhavam sobre a grama molhada, enquanto os sons tenebrosos vindos da floresta densa e úmida arrepiavam ouvintes temerosos e assombrados. A tempestade, cuja uma hora atrás era impiedosa, cessara, dando espaço para as criaturas noturnas – que não se atreveriam, de modo algum, caçar com trovejos fatais – fazerem suas vítimas livremente.
O clima era desoladora para qualquer viajante que tivesse que cruzar a mata, ainda mais para a assustada típica mãe viúva chamada Elisa. Quando em casa, ouvira um barulho alto e rouco vindo de fora. Pela janela, de supetão, vira uma sombra se locomovendo em uma velocidade assombrosa em linha reta. Com isso, saíra para o quintal. O medo fez-se presente, mas o instinto protetor materno sobressaíra-se ao sentimento que se mostrará perdurável. Posteriormente, a criatura misteriosa a atacara, obrigando a correr.
E então, começara a perseguição.
...
Presentemente, Elisa encontrava-se descansando sobre um tronco derrubado. Sua respiração, ofegante e trêmula, denunciava os quilômetros que percorrera; entrementes, as lágrimas constantemente derrubadas demonstravam o pavor, tanto pela ameaça à sua vida, quanto às dos filhos que deixara. O monstro nem se quer dera as caras, o que fazia a mente da mulher vagar por campos demasiados horrorosos para uma mãe. Imaginara a caçula jogada no chão cinza, a barriga pálida à mostra, os olhos arregalados de terror, as feridas visíveis de garras enormes em todo corpo, as roupas rasgadas e...
Seus pensamentos foram interrompidos por um quebrar de galho seco perto dela. Sobressaltara-se, levantando-se e agarrando com força um pedaço de pau morto. Não era a melhor arma, ela tinha consciência disso, contudo, era a única que podia encontrar por lá. Se seu marido estivesse com ela, afugentaria a fera como um bom cavaleiro protegendo sua donzela.
Se ele estivesse, claro.
Afastando qualquer distração, Elise se concentrou em ouvir as pisadas céleres na terra. A clareira em que se metera não era extensa o bastante para a criatura ficasse longe da mulher. Não, era bem pequena, e o monstro aproximava-se de modo fugaz.
De repente, um raio caiu próximo aos dois, e então, a viúva pôde ver de relance a verdadeira face da fera: o rosto era afilado, revelando um focinho repleto de pêlos negros e ásperos; a boca, naquele momento aberta, era cheia de dentes afiados, grossos e amarelos; o olho vermelho vivo e as pupilas dilatadas, gritavam o desejo imenso da criatura por sangue e carne relativamente jovem.
O monstro era horrendo.
Assustada, gritou pedindo socorro, enquanto corria. Contudo, o cansaço tentava vencê-la, de modo a querer deixá-la caída. Alguma parte dela, talvez a racional, já tinha aceitado o fato de que não havia mais escapatória e sua morte era certeira, portanto, apenas queria deixar seu vestido rodado tocar a terra molhada da floresta.
Mas não, seu instinto de sobrevivência era mais forte. Elise nunca fora uma mulher movida ao racional, e sim, ao emocional e ao instintivo, tal qual a criatura que a perseguia.
Entrementes, o lugar ia ficando silencioso, como se tentasse escutar qualquer mínimo ruído que ousasse irromper a tranquilidade da mata. E então, um barulho estrondoso atreveu-se, corajosamente, como um herói honrado entrando em uma cena de luta.
Posteriormente, tudo cessou, menos a tempestade que voltara vitoriosa e gloriosa. A Lua, escondida pelas nuvens carregadas, fazia-se de tímida, igualitária às crianças sem mãe numa casa escura e fria.
‘’Mas tudo irá passar’’, dizia a sábia irmã mais velha dos pequeninhos, conhecedora do destino de todos assim que ouvira o herói orgulhoso e triunfante.