Venho lhe dizer o que há dentro de meu peito
Estou embrulhada por esta carne e ossos
Estão grampeados
Frouxos por cima de meu espírito
E impossíveis quereres.
Venho lhe dizer, se aproxime
Eu sou estereotipada de anjo
Que não sofre,
Que não fede,
Que nunca precisou ser forte
Com olhos verdes
E bochechas rosadas
E dentes delicados
Eu sou angelical,
Eu não sangro,
Eu não ganho,
Nada da miséria...
Então, qual a razão do ardor por detrás da língua?
É a dor,
A dor que me fez acreditar,
Que entre minhas engranagens,
Há uma que não quer rodar,
Há uma massa negra no lugar no meu coração,
Murchando dentro de meu tórax,
Me deixando sem respirar,
Me impede de respeitar,
Meu tempo.
Eu preciso crescer, mas eles estão lá,
Nas janelas,
Nos espelhos,
Nas vírgulas e nos finais das frases,
No silêncio dilarecerante,
Que cala os cachorros,
Que faz os cadeados clamarem meu nome
Em agudo,
Eu me faço acreditar,
Eu me faço rebobinar
Todos os acontecimentos.
Revirando os olhos
Enquanto os imagino sussurrar meu nome
Uivos de lobos
E miados de gatos
Gota de água,
Mancha de sangue,
Por dentro da camisa,
Estampado em minha face.
ELES ESTÃO LÁ!!!
ESTÃO ALI!
LÁ EM CIMA,
ATRÁS DAS PORTAS,
BEIJANDO MEUS PÉS...
Nos corredores,
Nos olhares que eu não compreendo,
Nos abraços que não são apertados,
Nas mãos que se encostam às minhas costelas,
Eu acredito, eu acredito, eu vejo, eu sinto
Eu penso...
São como murais de pré-escola
Rebocados de tinta branca
Pelo décimo sétimo ano consecutivo,
Áspero,
Espesso,
Rugoso,
Cheio de nomes,
Folhas,
Rostos,
Apenas fingindo que se apagam dali,
Mas basta chegar mais perto,
Que se observa que todos ainda permanecem firmes,
Colados à parede,
Inutilmente existindo,
Fazendo as minhas estruturas se abalarem
Fazendo meus dedos se auto roerem.
FAZENDO MEUS OLHOS CLAROS VIBRAREM,
Meus dentes amigáveis se travarem,
Meus braços finos se contorcerem,
ELES ESTÃO LÁ!
Estão aqui,
Dentro de mim,
Todos eles.
Anjos e demônios,
Dando as mãos
Brincando de roda,
Arremessando minhas veias
Nas fogueiras santas,
E nas verdadeiras lareiras do inferno.
Eles todos me vigiam
E eu não sei mais em quem confiar
Os anjos se acampam ao redor,
Apenas para acorbertar as pragas,
As pestes,
As desgraças,
Os demônios canibais comedores de espírito,
Ambos grupos me despiram.
E riram de meu corpo,
E do meu jogo,
E de minhas regras,
Eu não suporto as risadas afogadas em minha garganta,
Elas querem sair!
Mas estão acorrentadas:
Junto com a alma.
Anjos e demônios, clamo para que me li-ber-tem!
Jamais poderei agradar a qualquer um de vocês.
Eu sou meu próprio pecado.
E eu lido com esta verdade
Universal em minhas esferas internas
Que se esfarelam,
Os grãos azuis
Sobem para os olhos,
Fabricam o clamor matituno,
Eu choro o meu interior,
Estou limpando a casa hoje,
Para me livrar dos monstros:
Sejam eles louros ou vermelhos.
Quem sou eu?
A qual entidade eu pertenço?
Se eu me esqueço dos anjos, então eu sou o pior deles,
Se tento fugir de meus demônios,
Eles há muito, já se tatuaram em meu seio.
Não há mesmo uma escapatória.
Eu pertenço aos dois.
E eu estou aqui,
Gritando dentro deste casulo banal,
Pedindo para sair.
Eu sou o contraste,
A discrepância,
Eu sou apenas o pior do que há de melhor
Em meu ser rastejante;
Sou uma caricatura
Da pior e mais luminosa das criaturas:
Eu sou também o mais passional exagero.
Sou um blefe, uma auto alienação
Um equívoco,
Uma corrupção por meio de meus votos,
Sem talento algum,
Eu sou o dia a noite e tudo que há entre isso,
Eu posso varrer minhas lágrimas para longe,
Aonde a escuridão jamais as alncançarão,
Até eu me dar por conta,
De que as estrelas,
Por toda a história do maldito universo,
Pertencem apenas ao escuro
E à solidão
Assim como eu,
E meus terríveis vigias noturnos,
Que persistem
Batendo minha testa na mesa,
Até que eu me convença,
De que são eles que têm de me guiar,
Pelo resto do túnel,
Até o findar do meu respirar.