Chovia fortemente por toda a cidade. As gotas de água espatifavam-se contra o asfalto. Contra o vidro das janelas. Os trovões cortavam o silêncio e os raios o céu com seu clarão. E antes que eu soubesse, ou pudesse perceber, já estava a correr em meus pensamentos até você. Meus olhos fitavam atentos a chuva lá fora, e me perguntava se aquele seu medo de trovões havia se superado, ou se ainda estava a abraçar os ursos de pelúcia, a chorar por estar sozinha. Demorou para acontecer. Demorou para minha mente voltar a você. Mas agora, havia o feito. Sentei-me na cadeira de balanço em frente a janela; o céu cinza lembrava-me de você, também. Eu sabia que o adoravas.
Quando chove na cidade, eu sempre lembro-me de ti. Daquela primeira vez em que aninhei-te no meu peito, e choraste. Seu coração batendo quente de dor e de amor. Daquela vez que o céu caiu sobre a nossa capital, pintando as ruas de negro-molhado. O asfalto quente havia esfriado. O vento gelado balançava as árvores.
Pensei no quanto já estava a te esperar. No quanto ainda esperaria. Pensei no quanto um dia você havia sido a vida que movia a minha vida. Pensava no meu coração ainda tão cheio de nós. Pensei no quanto eu ainda estaria aqui, mesmo que se passassem anos.
Quando chove na cidade, eu lembro-me de você.