Quando Alessandro encontrou no chão da loja de brinquedos o pequeno frasco azul de comprimidos, sentiu o cansaço de dias compridos bater em suas costas. Faltavam poucos minutos para que fechassem, e o fluxo de pessoas comprando e gritando pelo presente perfeito parecia não querer diminuir.
Então, ele teve que tomar uma decisão. Largou seu avental branco em alguma cadeira ou cliente (não teve tempo de conferir) e disparou porta afora, se embrenhando nos milhares de corpos de uma Nova Iorque agitada.
Alessandro conhecia aquele remédio. Sabia o que sua ausência causaria no corpo dependente, e mesmo com tantas distintas cabeças à sua frente, ergueu a própria para procurar pelo dono. Talvez não o encontrasse. Mas pouco importava debaixo do frio sereno que caia dos céus escuros.
Era véspera de Natal. Aqueles minutos que se passavam eram os mais mágicos do ano.
E como em filmes antigos, aconteceu. Os cabelos ruivos se agitaram na calçada à sua frente, Alessandro não podia conter a calma em seu peito. Atravessou a rua sem se preocupar com os carros que levavam afoitos motoristas à ceias abundantes.
Entrelaçando seus dedos aos da jovem, ele lhe devolveu a caixinha. Aqueles eram remédios para corações feridos.