Maldita praia! O que eu faço aqui? Eu não nasci para isso. Eu não consigo tolerar esse ambiente hostil. Pergunto-me: quem tem o espírito para tolera essa água cristalina e azul anil do mar calmo do litoral nordestino? Para tolerar esses rapazes fortes e bronzeados que trazem esses camarões minúsculos e esse champanhe de segunda categoria? Bem, pergunto-me de besta que sou. Esse lugar me faz mal e por isso, às vezes, esqueço do alguém que me arrasta para esses lugares sem graça e os acha sensacional.
É complicado reclamar desse alguém, porque, analisando friamente, ele tem seus charmes, seus atributos, suas vantagens, que o fazem um bom partido. Mesmo eu tendo outras preferências, ele me proporciona experiências que muitas pessoas certamente nunca sonharão em ter. Conheci vários atrativos sul-americanos, várias culturas, várias gastronomias. Corri alguns riscos para minha saúde física, mental e financeira que somente alguém com seus poderes poderia me salvar. É um grande companheiro, inegavelmente.
No entanto, as vezes ele deixa a desejar. Como aquela vez, em Bariloche, na Argentina, que tive minhas vontades oprimidas. Com um chocolate-quente em um quiosque aconchegante ao pé da montanha, eu tomava coragem para esquiar aquela grande montanha branca. Meus equipamentos eram da melhor qualidade, mas muito discreto para o meu gosto. Eu adoro cores! E como poderia ser notada vestindo cores ofuscadas como vermelho e verde? Eu queria algo mais chamativo, mas meu companheiro não me permitiu. Situações como essa chateiam-me muito.
E é por isso que lamento tanto. Sou uma mulher de classe e não nasci para esses luxos básicos. Tudo que meu bom partido me proporciona é muito bom, mas não é ótimo. Falta aquele mais. Aquele poder de atender minhas frescuras e exigências fúteis e exageradas. Preciso sentir-me capaz de ter aquilo que me proporciona prazer momentâneo instantaneamente. Em suma, eu preciso de mais. Eu quero mais.
Por vezes, coloco-me a pensar sobre o meu passado longínquo e lembro-me das inúmeras experiências e sensações vividas no Velho Continente. Esses momentos nostálgicos são a minha maior alegria e tristeza. Sorrio e choro ao lembrar que na Europa todas as edificações demonstram e exalam história, beleza, poder e riqueza. As pessoas, mais cultas e intelectuais, te proporcionam uma vasta variedade de prazeres corpóreos e espirituais.
Cada cidade tem suas peculiaridades. Londres, uma cidade que nunca para, recebe milhares de pessoas de todas as nacionalidades. O povo inglês construiu e mantem uma atmosfera imperial e de superioridade que me encanta e faz me sentir a própria rainha Elizabeth. Paris, a cidade luz e rica em história, com sua pompa de elegância e bom gosto, leva-me à estase por me permitir eu ser eu na essência, no auge de toda minha beleza e soberba. Florença, com seus museus, me leva ao passado e me permite beber uma taça de café juntamente com Michelangelo.
Enfim, não existem adjetivos suficientes somados em todas as línguas existentes capazes de descrever a vida plena vivida na Europa. A gastronomia, a arte, o clima, a paisagem, a consciência ambiental e social. Tudo é superior.
Por isso volto a lamentar. Enquanto aquele mundo corre paralelamente com o mundo onde eu vivo agora, torno-me prisioneira de uma realidade que não me agrada e não me completa. Em mim, existe um vazio que precisa ser preenchido. Eu não queria ter que fazer isso, mas, infelizmente, não vejo outra alternativa plausível. Terei que largar meu estimado, mas não perfeito companheiro. Terei que implorar pela volta daquele que já me fez completamente feliz outrora.
— Suplico-te, Cartão de Crédito Platinun! Volte a ser meu companheiro e preencha esse vazio em mim!