Todo esse gado programado para ser abatido. As cabeças de gado baixas, com o olhar fixo num único ponto apontado para a morte.
Não há medo em suas almas, muito menos consciência em sua origem. Todos serão malhados mais cedo ou numa esteira que não tardará ao motim.
Antes de berrarem por suas medíocres vidas, estes gados fazem questão de não olharem um para os outros no empasse de obter uma individualidade eterna...
Os gados comem alfafas travestida de açúcar mascavo e se sentem satisfeitos com isso. Eles não se reproduzem para a continuação da linhagem, eles apenas se acasalam para esvaziar seus combustíveis de sexualidade contidos em seus órgãos genitais e mentes.
A linha que faz a divisa com a humanidade racional e a irracionalidade animal, é tão tênue quanto a descoberta de um amor munido de estruturas, estruturas estas que pedestam o alicerce do poder perante a fragilidade do outro.
Olho esta linhagem marcada a ferro quente se encaminhar diariamente para matadouros e sinto um vômito quente proliferar em minhas pupilas gustativas, mas não sei ao certo se isso é algo bom, muito bom e sádico ou, como os conservadores intelectuais diriam, algo extremamente ruim.
Hoje é um daqueles dias gloriosos e gástricos. Hoje eu me encontro na fila do abate, mas não temo minha morte, pois a vida continua após o corpo padecer em vida.
Gado número; 8/3/1991. Esse seria eu, caso esse não fosse meu número da sorte, ou eu estivesse esperando o próximo carro no vão entre o trem e a plataforma.