A desconhecida já tinha decidido saltar do prédio quando cheguei. Havia pranto mal contido em seus olhos ao nos encararmos e a luz do sol poente incidia sobre seu olhar marejado de modo que pude notar uma minúscula e breve iridescência nele antes de um par de lágrimas despencarem rumo ao chão.
Foi a coisa mais linda e mais triste que eu já tinha visto na minha "vida".
- N-Nem tenta me impedir! - ela disse com a voz embargada, tornando a fitar o horizonte.
- Não vou. - afirmei enquanto escalava a mureta. - Na verdade, vim fazer a mesma coisa que você. - meu coração bateu estranho nessa hora, mas ignorei.
Ficamos lado a lado, um tanto longe e em silêncio por um instante.
Ela parecia um pouquinho confusa. Não esperava aquela resposta, acho. Mas, depois deu uma risada curta, apática e talvez conformada. A garota realmente queria ou precisava morrer. Eu também. Palavras ou atos não mudariam nossa decisão. Nada mais importava naquela altura (ou seria melhor dizer profundidade?) dos acontecimentos.
Só uma queda livre para acabar com outra queda livre...
- A gente podia... Fazer isso juntos. - ela sugeriu por fim, com toda a convicção e dor do mundo.
Uma pausa que pareceu durar uma eternidade.
Inspirei. Suspirei. Por que não? Lentamente fui me aproximando lateralmente e lhe estendi a mão. Era pequena, quente e macia. Houve dois fortes apertos, um das mãos e outro no peito quando pulamos.
Despencamos quietos como um par de lágrimas rumo ao chão.
Mas, depois que nossos corpos se despedaçaram, seguimos em paz os fachos de luz solar rumo a seja lá o que houvesse depois de tudo aquilo.
Ainda de mãos dadas.