Uma vez pela manhã um pássaro pousou em meu ombro, se aninhou em meus cabelos e se pôs a dormir
Eu achei fantástico até porque pássaros não pousam todas as manhãs em ombros alheios, tirei uma foto e guardei na cabeceira da cama.
Durante uma semana o pássaro me visitou sempre no mesmo horário e no mesmo lugar, e mesmo que eu tentasse ir para outro cômodo da casa ele me seguia piando, aflito e cansado em busca de seu próprio lar. O emaranhado de meus fios.
Ele era lindo, tinha penas azuis e cinzas, seu canto era estridente e ao mesmo tempo doce, me lembrava de tempos bonitos que não voltam mais.
Exatamente uma semana depois você chegou também, embrulhadinho como um pão recém saído do forno que vai direto para a freguesa, mas o seu cheiro era melhor que qualquer pão francês. Você era como um passarinho mas o seu lar era no calor dos meus braços, o seu canto não era tão belo mas foi se aperfeiçoando ao longo dos meses e logo pode pela primeira vez me chamar de mama, assim, de qualquer jeito com os olhinhos sonolentos, estava cansado, queria sua casa.
Com o tempo aprendeu a me seguir por toda a casa, de passinho em passinho, depois aprendeu a correr e não tardaria muito para aprender a voar. Me sentei na varanda de casa e assisti você a bater as suas asinhas, tomar coragem e alçar voo pela primeira vez, confesso que tive que te ajudar a levantar algumas vezes mas você nunca desistiu, então um belo dia voou. Por coincidência nesse mesmo dia um pássaro muito parecido com o que vinha me visitar a alguns anos atrás pousou em minha mão, então eu tive a certeza que algumas espécies podem até voar para longe mas um dia sempre acabam voltando para o conforto do seu ninho. Espero meu lindo passarinho, que você seja um desses.