Já passam das duas da manhã; do outro lado da minha janela, raios inundam os céus e a chuva, hora caudalosa, hora não, realizam o contraste simples e belo entre o escuro da noite e a reflexão da luz em suas finas gotículas. Perco-me das minhas desilusões por um segundo e quase caio cadeira a baixo - talvez o sono tenha finalmente pego a mim - desço os pés, apesar da temperatura aconchegante que faz com a casa lacrada de ponta a ponta, o chão me aguça os sentidos, talvez só agora tenha relembrado o frio tão costumeiro da madrugada... Caminho até a cozinha em busca d'água para a garganta que a uma hora dessas, já arranha; percebo que o silêncio entre mim e o ar ao meu redor já durava horas, a solidão não me fazia mal, não nesta noite, poderia ter sido como qualquer outra, debruçado sobre os livros ou ouvindo os diálogos relutantes que o computador emitia, no entanto, tocar os lábios meus nos teus fez de hoje um dia incomum; não me recordo de ter dado muita atenção ao que meus sentidos me informaram, não desde nosso último encontro, o dia ao meu redor pareceu-me bastante ordinário, comum em todos os sentidos, e ainda sim, não pude evitar, recluso de minhas faculdades mentais, sorri baixinho e sozinho de modo a esconder minha felicidade e guardá-la para mim.
Já perdi noites de sono por todos os tipos de preocupações, por incontáveis motivos, mas hoje, esta noite, negarei até a morte que eu a tenha perdido.