O estranho caso da senhora Alice
Yvi
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 10/03/17 14:01
Editado: 17/04/21 14:26
Avaliação: 9.92
Tempo de Leitura: 3min a 4min
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Não recomendado para menores de catorze anos
Capítulo Único O estranho caso da senhora Alice

O crucifixo prateado podia ser avistado de longe no pescoço da senhora Alice. Mulher desprezível aquela! Já chegou a querer “purificar meus pecados” diversas vezes, mas nunca nem se quer pensou em fazer algo do tipo com a filha puta, de trinta anos, que viva sob o mesmo teto que ela.

Um dia desses eu estava andando de mãos dadas com meu namorado e ela começou a gritar pela rua para que nos afastássemos dela e ainda falou algo sobre demônios, caminho da perdição e tentações. Até hoje não sei o que aquela criatura “divina” tinha contra mim. Certo, não sou uma pessoa religiosa... Na verdade, não possuo religião alguma, mas ainda assim acho que ela exagerava muito quando o assunto era eu.

Allan quase morreu do coração uma vez, por culpa dela. Ele estava saindo lá de casa quando ela apareceu, com um terço nas mãos, dizendo que não era tarde para ele, que a salvação ainda poderia ser alcançada e que ele deveria abandonar as tentações do mundo (eu) e se voltar para o céu. Sério, tenho certeza de que não sou a única pessoa por aqui a achar que ela deveria ter sido internada em algum hospício bem longe há muito tempo.

Lilly, a filha mais nova da vizinha, chegou a apanhar da mãe por causa dos fuxicos da velha Alice. A menina saiu escondida uma vez, para uma festa na rua de cima,com o novo namorado, e a mãe nem saberia de nada se não fosse por ela. Quer dizer, qual o pecado que a menina – maior de idade – cometeu? Se divertir havia virado uma coisa terrível e abominável e por isso Lilly não iria mais para o céu?

Para começo de conversa, esse lance de ir ou não para o céu é meio relativo. Me recuso a acreditar que tenha uma vaga para a “santa” Alice por lá. Essa mulher infernizava a vida de todos. Eu soube que até o pastor da igreja que ela frequentava já tentou expulsar a velha de lá. Vai por mim, essa mulher era doente. Vai ver, o marido a deixou por não aguentar mais toda a “santidade” dela.

Não posso dizer que estou feliz com o que aconteceu e até me sinto um pouco culpado por isso. Allan e eu estávamos nos despedindo, com um beijo, quando ela estava passando na calçada da minha casa. Não que eu ache que temos total culpa, afinal, só estávamos fazendo o que qualquer casal faz. Depois daquilo, a senhora Alice saiu correndo e gritando umas frases que não consegui entender e acabou sendo atropelada pelo ex-marido. Morreu na hora. Ficou meio comprovado que não foi a intenção dele fazer aquilo, mas eu tenho para mim que foi! Acho que ele quis apressar a viajem dela para o “céu”, com a desculpa de que Jesus precisava mais dela lá do que aqui, infernizando a vida de todos.

Depois que ela se foi, a nossa vida ficou bem mais tranquila. Eu e Allan não precisamos mais nos preocupar em nos esconder para evitar cenas extravagantes e desnecessárias. Claro que muita gente não nos vê com bons olhos, mas pelo menos ninguém vai ficar tentando nos exorcizar... Espero eu. Lilly foi morar com o namorado umas casas mais para baixo da minha, mas está sempre visitando a mãe. Até o ex-marido da senhora Alice leva uma vida melhor, ele voltou para dentro de casa e conseguiu colocar juízo na cabeça da filha.

Esse pode até não ser exatamente um final, mas até que é bem feliz.

❖❖❖
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Postado 23/04/17 17:39 Editado 23/04/17 17:41

Toda vez que leio esse texto eu me pego rindo da desgraça da Alice. Normal? Claro que sim. Aliás, já disse o quanto amo esse sem humor negro? É uma inveja boa, ok? Não conte isso para a senhora Alice...

Primeiro, adorei a mudança de foco, que aliás, foi muito bem detalhada e escrita.

É muito fácil apontar os erros alheios quando estamos cegos diante de nós mesmos, principalmente daqueles que são parte de nós, e foi essa a situação da senhora Alice. Tão hipócrita e ranzinza, ela prefere praticar sua "santidade" com aqueles que não lhe deve satisfações e que não fizeram nada para merecer a sua atenção, além de, aos olhos dela, estarem no caminho direto para o inferno.

Alice prefere tentar adulterar o casal apenas por serem homossexuais, que não fazem mal e muito menos perturbam alguém, ao invés de cuidar da própria filha, que prestava serviços comunitários na cama alheia. Hipócrita, era isso que ela havia se tornado. E por quê? Talvez por culpa? Um peso na consciência por ter errado na criação da filha e não poder concertá-lo pela mesma já estar na casa dos trinta? Talvez isso explicasse sua obsessão em exorcizar a todos.

Ou talvez era falta de sexo que a deixou mais insuportável do que aparentava ser antes do marido lhe abandonar.

É incrível como a ausência de alguém tem tanta influência no cotidiano. De fato não era um final, mas um começo de uma vida mais calma e feliz.

(Allan <3)

Postado 23/04/17 22:19

Não sonho em contar! A velha faria um inferno.

Alice é a personagem mais chata que minha mente doente já inventou. Sério, nem eu surporto a ideia dessa senhorinha do capeta. Misericórdia!

Muiro obrigada!

(Allan <3)

Postado 10/03/17 19:23

A certo de que há muitas "Alices", afirmo por experiencia própria que para tais fanáticos, senão doentes, não é algo bastante dificultoso firmar um panorama de ego em crenças inabaláveis, benéficas e indiscutíveis. Como se devêssemos segui-los em seus adeptos e ideais. Creio de que é quase frustrante não poder apagá-los do cotidiano, mas não podemos. Infelizmente é a vida.

Adorei, muito bom...

Parabéns! ^^

Postado 16/03/17 14:42

Pois é, nesse modelo!

Muito obrigada!

Postado 14/03/17 19:55

Ou eu estou ficando cada vez mais doente ou este foi um dos seus textos mais leves, embora a crítica contida nele seja mensurável. Acredito que um dos maiores problemas do ser humano é a incompreensão, pois ela gera todo este conflito bem narrado da obra. Esta, aliás, bem realista e até mesmo comum e recorrente, infelizmente.

Foi... Diferente ler algo assim advindo da senhorita. Ficava aquela sensação de que haveria uma trucidação ou algo do tipo conforme a trama seguia, mas no fim tudo se resolveu de uma maneira mais mundana mesmo, deixando ao leitor apenas a reflexão acerca do quanto da "vilã" ele possui dentro de si.

Bom, é isso.

Atenciosamente,

Um ser incompreensível e incompreendido, Diablai.

Postado 16/03/17 14:43

Na verdade não é nenhuma coisa e nem outra... Ou algo do tipo. Esse texto é beeeeem antigo, moço! Na época eu só sonhava em ser a moça das facas... Por isso você estranhou! kkkkkkkkkkkk

Obrigada! <3

Postado 28/03/17 21:11

Acho q já li isso em algum lugar.... Anyway, reitero td q disse daquela vez :)

Postado 31/03/17 19:45

Já sim!

Postado 04/05/17 23:11

A crítica nesse texto é estupenda. Sensacional.

Podia usar de exemplo para quem enche o saco do pessoal, hein :)

Postado 05/05/17 13:41

Obrigada! :)

Postado 10/12/17 00:06

Como assim, um final feliz? rsrs

"Lilly, a filha mais nova da vizinha, chegou a apanhar da mãe por causa dos fuxicos da velha Alice". Diga-me que vc se inspirou na minha Lilly! Até o jeito que se escreve é o mesmo \\0/

Outra coisa: vc se baseou em alguma história que conhece? Meu sexto sentido diz que sim rsrsrs

Postado 10/12/17 00:50

Pois eu acho que o seu sexto está falhando.

Claro que sempre vai esistir uma vizinha curiosa e/ou beata, mas esse texto eu meio que fiz do zero. Nenhum fato dali foi tirado de algo real (ao menos não intensionalmente. Tipo, vai que aconteceu algo assim e eu meio que psicografei ou sei lá. Nunca se sabe, né?)

Postado 16/12/17 22:38

Punição AD - 001

Estou delirando com esse final "não final", cômico, HAHHAHHA.

Esse narrativa estilo relato de investigação e/ou fofoca com a vizinha ficou explendorosa e muito bem humorada. O que faz tudo valer a pena foi a última frase (não que o todo o texto valha a pena, só dando exaltação ao trecho em si):

"Esse pode até não ser exatamente um final, mas até que é bem feliz"

Outra coisinha que devo chamar a atenção são os comentários do narrador que caracterição ainda mais a figura Alice e os demais personagens da trama.

Contudo não posso esquecer de dizer que a harmonia calma e de certa maneira alivia da narração deixa ainda mais engraçado o final.

De tudo mais, obrigado por postar essa incrível obra aqui, foi um grande prazer lê-la.

<3

Postado 17/12/17 18:16

Muito obrigada!

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