Fui arrastada para perto do núcleo por um véu que me sugou ao se espalhar, deslizando pela praia - as sombras então, enegreceram a costa e vagaram rapidamente através das profundidades, chegando a pior escuridão, jamais vista pelo ser humano.
E eu ainda ousei respirar o pouco de ar restante em meus pulmões, enquanto o vento salgado me varreu para longe - para perto do caos - embaralhando meus ossos, fazendo-me ficar apenas apenas com retalhos velhos que eu decidi chamar de pele.
O sal do oceano temperou meus olhos e me lembrou de nomes e sentimentos que há muito morreram, presos ou afogados em meus dedos e garganta.
Pouco a pouco, fui afundada em minhas mais sinceras tristezas, caí de cabeça em uma parte rasa demais, que eu sempre pensei conhecer tão bem, porém, este nível de profundidade, foi apenas mais uma singela miragem.
E neste segundo, no qual me encontro, não sou capaz de sentir meus pés flutuando acima de minha cabeça; esqueci-me de como respirar, vou me encrustando magicamente a esta sensação distante e ao mesmo tempo querida, que aos poucos me afaga os lábios rachados, os retalhos enrugados, as veias estufadas, os olhos marinados e a mente enevoada.
Existe nome para isso...
Será que eu apenas o imagino...?
Não, de fato está presente, ao meu redor, tendo o controle sobre mim...
Que gosto é este? Que sela e permanecerá por fim, como a última das memórias fabricadas por algum ser pequeno dentro de mim; afinal, que gosto é este que adormece pálido em minha língua...?
Esta deve ser a sensação pela qual contei os segundos em ordem decrescente, desde que eu abrira os olhos pela primeira vez, esta deve ser a sensação pela qual eu ansiei e temi, durante todo o tempo que pensei ter controle sobre aquilo que leigos costumam chamar de vida.
Eu sou um volume vacilante que se dissolve na calmaria de um grande nada da cor azul-marinha.
Está quase chegando aquela hora pela qual sempre e quase que nunca esperamos... Ela me faz ser devastadoramente bela, e já foge de meus dedos, antes mesmo que eu desapareça.
Mas ela hesita, surpreendentemente, permanece, me ajuda a contar, agora, ao vivo, meus últimos grãos de areia da grande ampulheta, que pêndula, na ponta de uma colher, logo mais, se espatifa.