Eu nunca guardei sonhos,
Nem os colecionei
Por pertencerem ao tempo.
A gente cresce e para de voar,
Aterrissagem profunda agora é chão,
Piso gelado do lado do beliche
Entre os amargurados ossos,
Precisam levantar, volver-se.
Atirar-se do desfiladeiro
Mole todos os dias.
Minha’lma é sopro infinito,
Pensar-la-ei incomensurável,
Um pote d’ouro no fim do arco-íris.
Leve, logo se perde nas tantas linhas,
Lidas da vida, incontáveis
Feito estações recíprocas,
Uma apazigua a outra
O sorriso recolhido do frio agora são flores
Entre sol e lua, vem vento, ventania,
Tempestades.
Mas vale...
“Toda a paz da natureza sem gente”,
Dar-se um tempo, respirar-se;
Envolver-se de si simplesmente,
Desarquivar lembranças boas,
Deixar brotar sentimentos de instantes,
Repentinos sorrisos de canto.
O sol vem sentar ao meu lado,
Não precisando eu de nada
Recebo presente.
As noites chegam embriagadas,
Entorpecidas de ilusões sóbrias,
Querem de mim fragilidade avulsa,
Dou no queixo, acerto bem na cara,
Não tardia e chega a manhã,
Lembram-me que sou ‘Caxias’,
Que os sonhos estão no subconsciente
Na cama da infância, no armário
Que sonhos são desejos, desejos são metas,
Metas levam tempo, o tempo quer me roubar.
Não tenho tristeza suficiente que empaque,
Nem tão pouco felicidade abundante,
Tenho mesmo nos bolsos é a realidade
Às vezes, dura demais,
Às vezes, mansa demais
Na minha época não tinha pinico
Meu sossego era observar os outros
Aprendia como o ser se destornava humano
“Como um ruído de chocalhos”,
Cascavéis eram as culpadas, elas mordiam.
As pessoas mudam com tempo,
Ele se alia as estripulias
Enquanto sonho vira vontade;
Se possível for, vamos;
Se não for, ficamos.
Quando na bunda água quente escalda
Dá-se um jeito pra tudo sem pestanejos,
Heis que surgem às férias de pelotão,
Reunião em casa de parente
Não esquecer de levar os sorrisos.
Ser poeta não é uma ilusão antecipada,
Pertenço à perene peneira periódica
Inda bem que não estou só nessa!
Dizem que loucos todos somos,
Que deputado não ganha trinta mil,
Nem tão pouco senador os quarenta,
Quiçá os ministros, fiusss...
Minha mãe não ensinou a falar palavrão,
Ela falava quando estava brava,
Eu quem não quis aprender.
Desejava que as pessoas parassem
Não de sonhar como eu
Ou fazer amizade com a insônia,
Desejava que enxergassem o trajeto
Sem dantes dele terem pisado,
Que não esperassem a mega-sena
A quina, a loto ou o raio que parta,
Nem mesmo as tantas bolsas esdrúxulas
Embutidas num comodismo sem fundo.
Desejava ajudar sem causar estragos.
O sonho não me apanhou de ocasião,
Fui rápida demais a vida toda,
Não tive opção, assim ou assado, fui.
Deixei a cultura berrar no meu ouvido
Por muitos anos doutrinas manipuladas,
A amplitude sempre me gritava
Não caber a lugar nenhum
O que carregava no peito,
Um fardo de infância, uma sina
Tamanha serenidade.