Apanhador de Sonhos
Andréia Kmita
Tipo: Lírico
Postado: 28/02/17 20:33
Gênero(s): Poema
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 2min a 3min
Apreciadores: 3
Comentários: 1
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Palavras: 467
Livre para todos os públicos
Capítulo Único Apanhador de Sonhos

Eu nunca guardei sonhos,

Nem os colecionei

Por pertencerem ao tempo.

A gente cresce e para de voar,

Aterrissagem profunda agora é chão,

Piso gelado do lado do beliche

Entre os amargurados ossos,

Precisam levantar, volver-se.

Atirar-se do desfiladeiro

Mole todos os dias.

Minha’lma é sopro infinito,

Pensar-la-ei incomensurável,

Um pote d’ouro no fim do arco-íris.

Leve, logo se perde nas tantas linhas,

Lidas da vida, incontáveis

Feito estações recíprocas,

Uma apazigua a outra

O sorriso recolhido do frio agora são flores

Entre sol e lua, vem vento, ventania,

Tempestades.

Mas vale...

“Toda a paz da natureza sem gente”,

Dar-se um tempo, respirar-se;

Envolver-se de si simplesmente,

Desarquivar lembranças boas,

Deixar brotar sentimentos de instantes,

Repentinos sorrisos de canto.

O sol vem sentar ao meu lado,

Não precisando eu de nada

Recebo presente.

As noites chegam embriagadas,

Entorpecidas de ilusões sóbrias,

Querem de mim fragilidade avulsa,

Dou no queixo, acerto bem na cara,

Não tardia e chega a manhã,

Lembram-me que sou ‘Caxias’,

Que os sonhos estão no subconsciente

Na cama da infância, no armário

Que sonhos são desejos, desejos são metas,

Metas levam tempo, o tempo quer me roubar.

Não tenho tristeza suficiente que empaque,

Nem tão pouco felicidade abundante,

Tenho mesmo nos bolsos é a realidade

Às vezes, dura demais,

Às vezes, mansa demais

Na minha época não tinha pinico

Meu sossego era observar os outros

Aprendia como o ser se destornava humano

“Como um ruído de chocalhos”,

Cascavéis eram as culpadas, elas mordiam.

As pessoas mudam com tempo,

Ele se alia as estripulias

Enquanto sonho vira vontade;

Se possível for, vamos;

Se não for, ficamos.

Quando na bunda água quente escalda

Dá-se um jeito pra tudo sem pestanejos,

Heis que surgem às férias de pelotão,

Reunião em casa de parente

Não esquecer de levar os sorrisos.

Ser poeta não é uma ilusão antecipada,

Pertenço à perene peneira periódica

Inda bem que não estou só nessa!

Dizem que loucos todos somos,

Que deputado não ganha trinta mil,

Nem tão pouco senador os quarenta,

Quiçá os ministros, fiusss...

Minha mãe não ensinou a falar palavrão,

Ela falava quando estava brava,

Eu quem não quis aprender.

Desejava que as pessoas parassem

Não de sonhar como eu

Ou fazer amizade com a insônia,

Desejava que enxergassem o trajeto

Sem dantes dele terem pisado,

Que não esperassem a mega-sena

A quina, a loto ou o raio que parta,

Nem mesmo as tantas bolsas esdrúxulas

Embutidas num comodismo sem fundo.

Desejava ajudar sem causar estragos.

O sonho não me apanhou de ocasião,

Fui rápida demais a vida toda,

Não tive opção, assim ou assado, fui.

Deixei a cultura berrar no meu ouvido

Por muitos anos doutrinas manipuladas,

A amplitude sempre me gritava

Não caber a lugar nenhum

O que carregava no peito,

Um fardo de infância, uma sina

Tamanha serenidade.

❖❖❖
Apreciadores (3)
Comentários (1)
Postado 29/01/19 00:26

Belo poema! A estrutura, a escolha de palavras e os assuntos abordados são construídos e elaborados de uma maneira incrível. É como se cada elemento tivesse sido trabalhado com muito afinco. Os assuntos abordados pelo eu-poético são variados, mas conseguem se ligar de uma maneira sensacional.

Meus parabéns ♡

Postado 24/03/19 11:16

Algumas técnicas quebradiças deixan-no como numa colagem de memórias, a primeira pessoa às vezes fala mais que a própria história. Bjs querida Sabrina.