Em um quarto qualquer um corpo feminino repousa.
Exposto aos olhos de um certo alguém, que observa atencioso cada detalhe. Um olhar apaixonado.
Desde o dedo da mão caída para fora do sofá, que encosta delicada os pelos negros de um gato; até a perna esticada sobre a outra, dobrada. Lindas pernas brancas com pelos sem cor, extremamente macias sem marquinhas.
A cabeça, cheia de finos fios de cabelo castanho, amassa o braço preso, usado como travesseiro. Cortava a circulação do sangue, deste.
O corpo que está e não está de lado, mal mexe-se. Não seria agradável para expectador, se por acaso, movesse um centímetro, um milésimo, por um segundo...
Saboroso era aquele momento, a camiseta preta permitia revelar uma tatuagem nas costas formosas, não mostrava tudo; só o necessário. O pouco.
Aquela pintura permanente, servia para esconder uma cicatriz, que percorria a espinha inteira. Uma fenda entre esse e um outro mundo, possibilidades.
"Por que esconde o seu passado com tal maquiagem?"
Quem não perguntaria o mesmo? Um som sai do monte de carne, relaxada: "-Não..."
E um movimento realiza-se, a perna, até então esticada, agora juntasse com sua colega, gemia. E o braço, sem circulação sanguínea, agora liberta-se do cativeiro. Virando uma ponte, que leva a lugar nenhum.
O ser presente não importou-se, pelo contrário... gosta. Pois, parece que a arte redeu-se a melhora do momento, a satisfação do consumidor ou a sua própria realização.
Revelou, o terremoto, um novo espaço. Olhos fixos na calcinha de renda que mais mostrava do que escondia, o charme da parte íntima e pervertida, insana e desejada, cautelosa e faminta.
Esta protetora, não era muito gorda, nem muito magra, um tamanho gentil, assim como sua cor... Azul turquesa. Para aquela calcinha, tudo era festa a fantasia.
Quem espera o despertar do corpo, agora, decide por nervosismo acender um cigarro e observar mais alguns detalhes. Olhar melhor o material artístico da noite passada e da futura.
"Desejo desenhar na sua pele, minha querida obra escultural."
No braço, que formiga, na articulação... Um roxo. Seria, este causado por uma agulha? Talvez, seja um pouco de tinta!? Ou só sua imaginação?... Quem sabe?
A cabeça mexesse, revelando uma marca roxo-azulada na nuca. Seria, ele o causador do mesmo? Outro ser a tocou? Ou outros seres a tocaram? Poderia ela ser tão fácil de encantar? Ou cara de pagar? Tudo era possível... Ou não.
As lembranças de uma noite agitada, podem ficar enroladas e serem difíceis de organizar.
Quando você seca três garrafas de Vodka sozinho, não vai ser só difícil lembrar do que aconteceu. Será impossível! Caso perdido, desista!! É, serio!
"-Bom dia..."
Diz o corpo levantado do pobre sofá e dirigindo-se ao banheiro imundo e mal feito, do motel.
"-Quem é você? O que aconteceu ontem?"
Bebeu o que não devia... Acordou com quem não conhecia. Não a necessidade de terminar o que nem ele lembra ter começado e duvido que ela lembre de algo. Afinal, ela não lembra nem aonde mora... Faz tempo.