Não parou de chover desde que cheguei: deve ser o próprio firmamento lamentando sua morte, moça. Sabe, eu realmente cheguei a te admirar depois que conheci melhor o seu legado. Quero dizer, todas aquelas chacinas, torturas, trucidações... Era tudo quase tão lindo quanto você. Me deleitei com cada uma de suas obras. Juro.
Eu te achava de fato Imperatriz da Carnificina, como te chamavam no auge da sua carreira. E quando finalmente te encontrei... Uau, que madrugadas insanas tivemos ao compartilharmos ideias e histórias! Foi tudo tão divertido e proveitoso! Realmente, você era incrível!
Pena que, depois de um tempo, tudo mudou. Você foi ficando medrosa, só pode. Foi diminuindo a frequência dos espetáculos. As mortes foram cessando. E, numa bela noite, você virou para mim e disse que tinha que manter as aparências. Que não era total terror. Que não podia mais matar um pivete e comer pão com atum em seguida.
A moça que conheci estava morta. Foi o que ouvi e senti naquela noite. E é por isso que estamos aqui hoje, no meio dessa floresta. Ei, pare de se sacudir e tentar gritar! Com estas correntes e mordaça, soa mais sexy do que prático, sabia? A cova já está prontinha, só falta providenciar o cadáver. No caso, tu. Que desperdício...
Sabe, estou decepcionado. De verdade. Mas, ok. Acontece.
Não se preocupe, gatona. Eu trouxe suas velhas amigas, as facas. E vou enterrar cada uma delas com você. Aliás, em você. Terminando nos seus olhos, porque sim. Pronta? É hora de morrer de verdade e de vez, moça. Foi um prazer. Juro. E vai ser até o fim.
O seu fim, claro.
Te vejo no Inferno, moça.