Sempre quis te comer
É difícil esconder
Tanto desejo
Quando te vejo
Indo e vindo
Descendo ou subindo
A ladeira
A semana inteira
Novinha
Branquinha
Gatinha
Magrinha
Quietinha
Delicinha
Ficaria mais bela
Na minha panela
Seus pedacinhos
Bem cozidos
Assados
Refogados
Temperados
Decorados
Tantos pratos
Requintados
Eu faria
Contigo, guria...
Comer-te-ia
Todo dia
Com alegria
Com regalia
Com cada fatia
Me satisfaria
Me acabaria
Ave, Maria!
Tu inteira
Seria uma ceia
Sobre a mesa
Sobremesa?
Seus olhos
Cautelosos
Medrosos
Gostosos
Te chuparia
Os ossos, sabia?
A cabeleira, lavada?
Uma baita salada!
Seu sangue beberia
Nada sobraria
Comeria você toda
Até sua roupa
De tanta gula...
E a culpa
É toda sua,
Minha doçura,
Por eu querer
Te comer
E lá vai você
Outra vez
Voltando pra casa...
(A boca enche d'água)
Você é especial
A escolha ideal
Sonho de consumo
Que não assumo
Publicamente
Só que, na mente,
Você preenche
O espaço existente
Na minha barriga
Agora vazia
Que ronca teu nome:
Nossa, que fome...
Te comeria crua
No meio da rua
No meio do povo!
E lá vem de novo...
Vem, sobe a rua...
Que ternura
Que gostosura
Ah, que tortura!
Perto da visão,
Longe do fogão...
Haja coração!
Tem problema não:
Quem sabe um dia
Eu te como, menina...?