Coisas amáveis
Geovanna Almeida
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 03/03/16 09:12
Editado: 07/03/16 08:07
Gênero(s): Cotidiano LGBT
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 6min a 8min
Apreciadores: 5
Comentários: 5
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Usuários que Visualizaram: 13
Palavras: 968
Não recomendado para menores de doze anos
Notas de Cabeçalho

+Texto postado também no social spirit, na minha conta onde uso esse mesmo nick.

Capítulo Único Coisas amáveis

Oliver odiava a páscoa. Odiava todo aquele clima cor de rosa cheio de coelhos e ovinhos. Odiava essa obrigação que todos sentiam em ter que dar chocolate a todos. Aquela ideia ridícula que as pessoas faziam aquilo para mostrar carinho lhe irritava acima de tudo, em sua opinião não era mais do que materialismo e consumismo exagerado. Materialismo esse já tão enraizado na mente das pessoas que elas não viam como algo ruim.

Correu os olhos pela sala. Seus colegas de classe trocavam chocolate, cartões e pelúcias de coelho com sorrisos bobos no rosto. "Irritante" pensou em quanto se afundava mais na cadeira. Seria tão bom se pudesse sair da sala.

Discretamente olhou para Danilo. Um garoto moreno, de olhos amendoados e pele escura que sentava na primeira cadeira próxima a porta. Estudava naquela turma há apenas duas semanas, durante esse pequeno tempo havia desenvolvido uma atração platônica por ele, desde o dia que tinham feito revezamento no mesmo time de natação, ate mesmo um hétero iria se derreter diante daquele corpo coberto apenas por uma sunga. Observou que a mesa de Danilo estava lotada de doces, cartas e cartões e que ele recebia tudo com um sorriso e cortesia. Oliver suspirou, desapontado por seu príncipe fazer parte daqueles tolos consumistas.

Cansado de ver aquelas cenas ele encarou o teto. A marca de infiltração no telhado bem acima de sua mesa de repente lhe pareceu muito interessante.

— Oliver — cantarolou uma voz masculina. — Ei Oliver!

Oliver encarou irritado o dono da voz. Seu semblante rabugento se desfez em segundos ao perceber que era Danilo que o chamava, em suas mãos ele trazia um pequeno embrulho branco, foi fácil supor o que havia dentro.

— Danilo — Oliver balançou a cabeça tentando parecer calmo.

— Você é novato então não deve ter recebido muito chocolate — ele estendeu o pacote branco. — Resolvi que devia te dar algo.

Oliver encarou o pacote, mesmo sendo presente de Danilo ele não queria aceitar, não queria fazer parte do rebanho que é iludido pelas propagandas da televisão. Afastou gentilmente a mão de Danilo mostrando sua recusa.

— Obrigada por lembrar-se de mim, mas terei que recusar.

— Por quê? Se você acha que eu gastei muito saiba que...

— A questão não é o valor. — interrompeu Oliver. — É o modo como todos os feriados estão se tornando materialistas. Você já não da presentes para deixar os outros felizes e sim por obrigação, por status, pelo mero prazer de mostrar que pode. Tudo isso me enoja.

Danilo piscou confuso. Oliver mordeu o lábio, ótima maneira de começar a falar com seu "crush" realizando um discurso e dizendo que odeia algo que ele está fazendo. Oli tinha certeza que seria a ultima vez que Danilo falaria com ele quando, do nada, o outro começou a rir.

— Nossa você pensa mesmo assim? — soltou Danilo. — Quanto solitário você é?

— O que? — Oliver estava ofendido.

— Escuta, vivemos em um mundo materialista onde sete em cada dez pessoas só pensa no próprio bem, mas pensar que todos são assim é uma maneira horrível de ver a humanidade. Em um mundo onde o material é visto como tão importante percebe como é essencial dar e receber presentes? Você acha que eu vim te dar chocolate só por que me senti obrigado? Cara, eu não sou obrigado nem a amarrar meu sapato de manha.

— Você não passa de um otimista, do que adianta se apenas três pessoas pensam assim e as outras sete estão rindo de você?

Danilo se aproximou mais, colocou as mãos sobre a mesa e encarou Oliver bem de perto.

— Chegara o dia que olharei para trás e nem vou lembrar-me dessas sete pessoas, mas aquelas três, as três que me ajudaram, eu jamais vou esquecer. Essa não é a verdadeira riqueza do mundo? Ser lembrado por coisas boas?

Oliver estava meio atordoado pela proximidade, mas se manteve firme.

— Está me dizendo que as pessoas estão dando presentes para serem lembradas? Isso também não é egoísta?

— Qual o problema em querer marca a vida de seus amigos? É uma forma de eles saberem que jamais estarão sozinhos.

— Não consigo imaginar alguém com tamanha presença para ser lembrado dessa forma. Cedo ou tarde todos vão lhe esquecer, vão achar outras pessoas, outros amigos e as preciosas lembranças vão ser jogadas fora como papel de presente rasgado.

Danilo ergueu uma sobrancelha pensativo antes de sorrir como se tivesse percebido algo importante.

— Foi isso que aconteceu com você? — questionou Danilo. — Soube que sua família está sempre se mudando, que esse já é seu quinto colégio...

— Sexto na verdade — Oliver mordeu o lábio. — Antes eu me esforçava para fazer amigos, mas faz um tempo que desisti. No fim todos sempre me esquecem...

— Bom, eu não vou esquecer você e nem você de mim!

— Olha, não acho que chocolate barato fabricado em massa vai me fazer...

Oliver engoliu o resto da frase. Estava envolvido no beijo que Danilo tinha acabado de lhe dar. Lá no meio da sala com todos vendo que ele, o garoto novo, tinha acabado de ser beijado por um garoto lindo parecia ate que estava dentro de um filme ou em sonho. “Por Deus que eu esteja acordado" pediu Oliver mentalmente.

— Páscoa é mais que chocolate — disse Danilo quando se separaram. — É renascimento e libertação. Se me permite ser egoísta eu posso te ajudar a renascer?

— Eu... Eu...

— Só diga sim! — gritou o resto da classe que, ate então, apenas observava.

Oliver corou. Será que devia dar uma chance? Ninguém o culparia por tentar certo? Abrir mão de suas ideologias por um garoto era impensável, mas ele não estava pedindo isso, Danilo estava pedindo apenas para que ele lhe desse uma chance.

— Eu meio que desisti de gentilezas, rio de doçuras e zombo de atitudes amigáveis — admitiu Oliver. — Mas para as coisas amáveis ainda darei uma chance.

❖❖❖
Notas de Rodapé

não curti muito o final, mas...

Apreciadores (5)
Comentários (5)
Postado 03/03/16 13:43

Não curtiu o final? É o melhor <3

Postado 03/03/16 18:57

Eu curti a frase, mas sei lá :v

Postado 05/03/16 18:15

Já falei pra parar de paranóia! Esse final ficou muito fofo! Só você pra me fazer ler uns yaoi de vez em quando! Kkkkkkkkk!! Enfim, amei demais, ok? Ficou fofo demais! <3

Postado 07/03/16 08:00

kkkkkk nem é yaoi, é shoen-ai, eu não faria vc ler um lemon :v

e deixa minhas paranoias pq vc ainda vai ter que aturar muitas XD

Arigatou mana :3

Postado 07/03/16 17:00

me surpreendi com o final...muito show...parabéns...

Postado 07/03/16 18:58

brigada :3

Postado 23/03/16 23:26

Oh meu deus, que amor *u* eu amei essa história, ainda mais nessa época de Páscoa, hsuahsu. Tenho que admitir, se eu estivesse nessa sala e ouvisse a conversa dos dois, eu provavelmente diria "Não quer o chocolate? Bom, eu quero", sem quere soar egoísta, mas: a) é chocolate, b) está sendo dado pelo seu crush '_', c) ele está sendo amável e não obrigado ù.ú, d) dane-se ideologias que você fez, cara, olhe a situação, o que tem de mal em apenas um ato carinhoso? (e chocolate)

Mas no fim tudo se resolveu e eu adorei ese final, ainda que você não tenha gostado, shuahsu. Me sinto tão bem ao ler histórias assim, shounen-ai, estava com saudades de algo fluffy. Isso me deu ideias para uma fic que eu estou devendo para uma amiga minha... posso usar a sua como inspiração? Eu posso até te mandar o link se eu realmente escrever *-*

Até o/

Postado 23/04/16 11:26

owww que comentario fofo, passei um tempo sem entrar aqui e ai me deparo com isso <3

Pode usar sim flor e me mande o link que eu quero ler o/

Postado 14/07/16 21:10

Gostei da fluência do texto.

Da maneira com que você vai construindo a história dos dois.

;)