Vinhas todos os belos dias
Ficava na cama até tarde
Agora não se importa mais
Deixou esta cavidade fria
Um esquerdo buraco profundo
Dantes habitava aqui tanta alegria
E por fim foi crescendo por fora
Não tinha pressa, tinha sede
Fome de conhecimento são
Mas quando a inocência deixa a flor
Os jardins tornam-se invisíveis
O inverno nunca se dissipa
O espaço vasto continua ali
Num mecanismo fulminante
Talvez só você não o veja
Talvez só você não tenha
Expectativas tão vivas
Tão febris
A solidão tem deixado focado
Trabalhos, amigos, baralhos
Desapareceu no processo
não vem mais
Preciso da trégua do tempo
Voltar às trilhas das matas
Subir penhascos íngremes
Ver o pôr do sol
Sentir a brisa aquecida
Por seus sussurros de amor
Voar de asa delta
Gritar emoções
Tão belas, tão lindas...
Abrem os braços pra mim!
Ainda quero preencher-me
De sonhos
Tão incrivelmente bons
Quando nas noites frias aparece
Tão sublimemente lindo
Quando nos dias me segue
O sonho sumiu
Entendi pois os erros
A selvageria do mundo
Propaga-se aos galopes ligeiros
Demorou muito tempo
Para os olhos enxergarem
O que os donos fazem com os seus
Aniquilação da casca
A nuvem não é mais de branco algodão
Os ventos não estão mais mansos
Há um vermelho sangue espalhado
Não queria ver
Mais vi!
Adeus sonhos...
Não posso lhe sugerir permanência
Nem mesmo crianças os têm
Que farei!?
Aquele buraco profundo
Esquerdo que era mundo
Não veio...
Não vem...
A. K.
Setembro/2015