Construí meus sonhos em um castelo de areia a beira mar. O mar avançava e batia nas paredes, mas elas sempre aguentavam tal fúria selvagem.
Meus sonhos às vezes iam e caminhavam por aí, mas sempre retornavam ao local de repouso quando eu pedia.
Quando eu mais necessitava, eles levantavam meu rosto e me faziam ir em frente, mesmo com as pernas bambas. Mas, como eu queria ser forte em sua frente, mostrava orgulho e coragem em meu rosto.
Em pouco tempo o castelo cresceu, criou mais pontes, mas nunca, jamais, criou muros ou virou uma fortaleza cheia de armadilhas. O castelo de areia que guardava meus sonhos estava sempre na beira da praia, sem temer as ondas, que acariciava-o todos os dias de todos os anos.
Uma tempestade surgiu ao horizonte, sem tempo para procurar por abrigo ou retornar a chuva veio e me encobriu, encharcou minha alma e me lançou ao mar. Fui engolida por diversas ondas que, por ventura, bateram contra as cuidadosamente construídas e frágeis paredes do meu castelo. A areia usada nas paredes retornou à sua mãe, mas meus sonhos se afogaram naquela noite.
As pessoas me diziam, anteriormente, para cuidar dos meus sonhos e colocar-os em uma fortaleza cheia de armadilhas, construída no mais alto morro de concreto. Não foi culpa minha, ninguém previu o que iria acontecer e eu engolhi tanta água quanto eles(a), embora eu fosse maior.
Agora, meus sonhos estão enterrados a sete palmos, presos sob camadas de madeira e concreto, em um local frio e de luto. Algumas escrituras mostram que, um dia, meus sonhos viveram à beira do mar.
Em cima da lápide, um jornal, que estampa uma matéria triste e lutosa em sua capa:
"Tempestade atinge barco de pesca e criança morre afogada no mar. Mãe e tio sobrevivem."