Sorriso grampeado
6 de Janeiro
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 13/02/17 19:57
Editado: 13/02/17 20:00
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 2min a 3min
Apreciadores: 6
Comentários: 2
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Palavras: 402
[Texto Divulgado] "Não Pare de Olhar" Uma mulher, isolada em seu apartamento, começa a acreditar que está sendo observada por alguém no prédio em frente. A paranóia começa a crescer levando o limite entre sanidade e loucura se tornar cada vez mais tênue.
Não recomendado para menores de catorze anos
Capítulo Único Sorriso grampeado

A minha desgastada pele cicatrizada atingiu seu ponto de ruptura,

Agora ela toca minhas antigas e próximas memórias empilhadas...

A vida seria mais fácil se eu pudesse me esquecer delas:

Destas feridas escondidas,

Que reabrem a cada tentativa falha de mostrar força.

Eu não pude achar uma boa corda,

Para coroar o meu pescoço,

Todas elas são tão fracas que jamais aguentariam até o último momento;

Todos os meus pesados e tristonhos pesadelos:

Por isso eu enlaço todo o meu corpo,

Nesse cordão de lágrimas que escorre pelo meu rosto.

O sorriso forçado, que grampeia minha pele

Não parece surtir efeito,

Nessas conversas diárias.

- Ah, será que eles percebem mesmo,

Que este belo rosto, vê uma vida que não é, assim,

Tão esteticamente, amada?

Minhas mentiras, elas se espalham,

Nadam e brincam entre si,

Me torno um ser tão maquinário,

Minha única função, é assentir com o topo da cabeça.

Sou apenas decorada por fora,

Brilhante por fora,

Tão fraca e exposta.

Será que eles percebem mesmo,

Que eu temo quando estou certa, às vezes?

Será que eles percebem mesmo,

Que eu me magôo tão fácil assim?

Por alguns segundos,

Eu consigo ser a frágil boneca,

Que aceita tudo que levam à sua boca,

Mas basta o interior fermentar,

Que logo meu suor lava

Toda essa máscara tão lisa de toda a minha cara.

E então, ninguém mais me suporta,

Tudo que sobrou de mim,

É um pétala murcha,

Marrom, feia, amassada,

Ninguém quer uma flor podre,

Eu sou logo dispensada.

Eu sou um retalho de emoções,

Que quer se pregar por segurança,

À qualquer coleção de horrores.

Toda essa pele que eu retirei de mim mesma,

Ainda parece estar respirando...

Meu rosto despedaçado, continua a me encarar

No espelho,

Alguém está dançando sozinho no meu corredor,

O silêncio é capaz de dissipar os meus gritos:

Tem alguém aí?

Eu grito e gemo,

Mas sou deixada em cativeiro,

Pelo meu próprio eu - às vezes.

O que eu ainda faço presa a este corpo?

Eu estou congelada como a chuva,

Tentando conhecer uma sensação real,

Eu seguro o meu escalpo, e todos os meus membros

Que espalhei pela cama...

É tão distorcido,

Tudo o que eu penso e sinto.

Eu ando, eu ando,

Eu respiro,

Eu canto,

Eu preparo o meu rosto novamente,

Para viver mais um outro dia.

Para desembarcar em mais uma estação fria

Dentro de minha própria mente...

Permanecendo grampeada.

❖❖❖
Notas de Rodapé

Obrigada por aplaudir este espetáculo sem sentido.

Apreciadores (6)
Comentários (2)
Postado 19/02/17 10:34

Magnificamente chocante! Sem mais.

Postado 19/02/17 21:40

AAAAA , obrigada! <3

Postado 20/08/17 22:22 Editado 24/08/17 00:31

Que saudades de ler tuas obras... E que saudades desta autora tão excelsa e peculiar...!

Sabe, eu lhe... Eu me vi em muitas destas linhas (com a diferença que, no meu caso, existe/adiciona-se a Doença ao menu)... Tudo soa tão melancólico, desesperançoso, infeliz...

Tão... Familiar.

Eu realmente senti falta disso, ainda que seja como rastelar a alma com arame farpado embebido em álcool...

Belíssima composição, Srta Janeiro. Foi de uma emoção e feflexão tremendas. Meus sinceros parabéns... E pêsames.

Por nós dois.

Atenciosamente,

Um ser sem grampo ou sorriso, Diablair.

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Postado 21/08/17 23:59

Pêsames por nós dois, mas um dia, a vida vai ser plena, se é que já não seja, a gente nem se deu por conta... Obrigada por tudo!