Becos
6 de Janeiro
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 07/02/17 23:59
Editado: 08/02/17 00:05
Gênero(s): Cotidiano Drama
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 1min a 2min
Apreciadores: 3
Comentários: 2
Total de Visualizações: 851
Usuários que Visualizaram: 9
Palavras: 278
Livre para todos os públicos
Capítulo Único Becos

São estas noites ingratas

De prazeres duvidosos

Que os levava para as ruas,

Para os becos,

Para os banheiros,

Em lágrimas.

São noites como esta,

Que gente se perde

Mesmo dentro de casa -

Um sussurro é um alvoroço

Um bater de asas

No peito uma bomba

Nos músculos

A rigidez da alma

A deturpação

Da poesia

O gás para os cegos

A arma letal

É um link acessado

É um que diz:

"Precisamos conversar".

É outro que cambaleia

Que se rende aos degraus -

É aquela que bambeia

Entre as linhas de decepção

E clica

E acessa

E perde ali sua paixão

É a verdade nua,

A verdade na rua,

A deturpação.

Alegoria encendiou-se

Resta apenas um pulmão

Quente pelas cinzas.

Resta apenas um vazio

Na mansão litorânea,

Resta apenas uma corda

Amarrada na pilastra.

Restam dúvidas

E giram

E rodam

E pulsam

O peito pula com dor:

"Pulo ou não pulo?"

"O que vão pensar de mim?"

"Perder a vida assim?"

Qual a vida que me resta?

Vagar sentado por aí.

Qual é a vida que me cabe

Aqui...

Perdão, Jesus

Pequei, perdão.

Perdão tia Rosa,

Esta é a última das prosas.

Perdão à criança

Da casa ao lado:

A pipa que cair aqui,

Está destinada a ser esquecida.

Nunca mais terá vida,

Nunca mais voará sobre nada.

Adeus para as ruas

Para os becos

Para sangue,

Suor e lágrimas no chuveiro.

Perdão meu Deus,

Não estou me esforçando para lidar com meu erro.

Agora eu vejo, agora, creio eu,

Que de nada valho neste mundo

Senão sendo um corpo imundo

Pendurado, balançando.

Pendido.

Frio e jorrando

Por fim,

E sem mais tempo

Este último e mortal arrependimento.

❖❖❖
Notas de Rodapé

Obrigada. E sinto muito.

Apreciadores (3)
Comentários (2)
Postado 19/02/17 10:23

Adorei a maneira como retratou o tema, bem profundo e significativo esse poema. :D

Postado 19/02/17 21:52

Obrigada por mais um comentário do amor! <3

Postado 14/05/17 02:32

Quantos pensamentos e sentimentos a Srta Janeiro consegue nos extrair com seus textos? Textos como este, tão belos quanto a própria autora e tão soturnos/sombrios quanto a alma de leitores como eu próprio?

Eu me encanto/surpreendo com a forma como a senhorita lida com as palavras... É praticamente mágica a forma como a senhorita narra e imbue lirismo do mais alto grau a cada linha, tornando cada obra uma manifestação física da alma, um fragmento mensurável do que jaz no coraçåo... É absolutamente surreal de tão incrível.

Parabèns, Srta Janeiro! Seu dom é absolutamente fascinante! Que poema memorável!

Atenciosamente,

Um ser que deveria ter pulado, Diablair.

Postado 14/05/17 22:40

Muito obrigada, e muito obrigada por não ter pulado, e por resistir até aqui, como eu, como nós. Seres cinzas dos becos.