São estas noites ingratas
De prazeres duvidosos
Que os levava para as ruas,
Para os becos,
Para os banheiros,
Em lágrimas.
São noites como esta,
Que gente se perde
Mesmo dentro de casa -
Um sussurro é um alvoroço
Um bater de asas
No peito uma bomba
Nos músculos
A rigidez da alma
A deturpação
Da poesia
O gás para os cegos
A arma letal
É um link acessado
É um que diz:
"Precisamos conversar".
É outro que cambaleia
Que se rende aos degraus -
É aquela que bambeia
Entre as linhas de decepção
E clica
E acessa
E perde ali sua paixão
É a verdade nua,
A verdade na rua,
A deturpação.
Alegoria encendiou-se
Resta apenas um pulmão
Quente pelas cinzas.
Resta apenas um vazio
Na mansão litorânea,
Resta apenas uma corda
Amarrada na pilastra.
Restam dúvidas
E giram
E rodam
E pulsam
O peito pula com dor:
"Pulo ou não pulo?"
"O que vão pensar de mim?"
"Perder a vida assim?"
Qual a vida que me resta?
Vagar sentado por aí.
Qual é a vida que me cabe
Aqui...
Perdão, Jesus
Pequei, perdão.
Perdão tia Rosa,
Esta é a última das prosas.
Perdão à criança
Da casa ao lado:
A pipa que cair aqui,
Está destinada a ser esquecida.
Nunca mais terá vida,
Nunca mais voará sobre nada.
Adeus para as ruas
Para os becos
Para sangue,
Suor e lágrimas no chuveiro.
Perdão meu Deus,
Não estou me esforçando para lidar com meu erro.
Agora eu vejo, agora, creio eu,
Que de nada valho neste mundo
Senão sendo um corpo imundo
Pendurado, balançando.
Pendido.
Frio e jorrando
Por fim,
E sem mais tempo
Este último e mortal arrependimento.