O sol já havia se posto, deixando a garagem onde a banda tocava iluminada somente por uma lâmpada amarelada. Mesmo assim, ninguém ali parecia cansado ou entediado.
— Ei, Mark, seu idiota. Larga essa porra de cigarro e presta atenção no que você tá fazendo.
No total, quatro integrantes formavam a banda The Kings: Mark, o baterista, tinha cabelos loiros, algumas espinhas no rosto e vivia com um cigarro pendurado nos lábios; era ele que sempre ficava com todas as meninas, utilizando-se da clássica “eu tenho uma banda”, mesmo que não tivesse exatamente uma posição de destaque e não fosse tão atraente assim.
— Eu tô tocando muito bem, obrigado. — ele reclamou, mas terminou o cigarro que fumava e jogou o que sobrou no chão, esmagando com a ponta do sapato. — Desconta esse seu mau-humor do caralho no Todd, que errou os últimos três acordes da última música.
Todd era o baixista e o mais jovem de todos ali: tímido, raramente tomava iniciativas e normalmente era carregado pelo resto do grupo para as farras nos fins de semana. Tocava bem, mas o principal motivo de fazer parte da banda era a ausência de outros baixistas na região.
— Cala a boca, idiota. — ele respondeu, girando a palheta do baixo entre os dedos. — Que tal cuidar da sua vida em vez de se preocupar com a minha? Vai ver assim o Noah para de encher seu saco.
Noah era o vocalista e líder da banda, além de dono da garagem onde tocavam. Altura média, cabelos negros perfeitamente penteados em um topete finalizado com brilhantina, uma veia rebelde que o fazia ser viciado em cigarros, whisky e carros e uma jaqueta de couro só para complementar o visual.
— Cala a boca você, seu... — Mark largou as baquetas de lado, levantando-se com a intenção de avançar no amigo.
— Ei, ei, ei, gente, menos, por favor. — foi o quarto integrante da banda que apartou a briga, estendendo as mãos e separando Mark e Todd antes que eles estivessem próximos o suficiente para se agredirem.
Era Adam, o guitarrista. O rapaz era alto e tinha uma compleição física mais magra do que musculosa; seus cabelos eram castanho-claros, assim como os olhos, e estavam quase sempre penteados num topete meio bagunçado. Ele também fumava, mas com uma frequência bem menor que Mark; preferia bem mais o whisky roubado do armário de bebidas de seu pai.
— Vocês ouviram o garoto Adam aqui. — Noah pousou o braço sobre os ombros de Adam. — Não sou babá e não vou cuidar de porra de criança nenhuma nessa merda. Agora vamos tocar a próxima merda de música. — ele completou, aproximando-se novamente do microfone.
Mark e Todd, mesmo emburrados, voltaram a suas posições originais, mantendo-se o mais longe possível um do outro. Noah simplesmente os ignorou, segurando o microfone com a mão direita e acompanhando a batida do início da música com o pé no chão.
Adam apertou o braço da guitarra e, no tempo exato, começou seu riff, acompanhando o ritmo que Mark marcava na bateria.
— Have you got colour in your cheeks?
A voz de Noah era rouca e, acompanhando o ritmo compassado, se tornava ainda mais interessante.
Afinal, Adam tinha sorte de ser um bom guitarrista. Caso contrário, não conseguiria acompanhar os riffs daquela música, pois sua concentração estava completamente voltada para o vocalista.
— Do you ever get that fear that you can't shift the type that sticks around like something in your teeth?
Não que ele soubesse exatamente quando ou como havia começado, mas de repente ver Noah agarrando o microfone com a mão direita e cantando arranjos com influências punk tornou-se, aos poucos, uma de suas obsessões.
— Have you no idea that you're in deep? I've dreamt about you nearly every night this week...
Chegava quase a ser ridículo, na opinião de Adam. Tanto que, quando utilizava a razão, quase dava risada de si mesmo. No entanto, bastava estar bêbado ou, simplesmente, ouvir Noah cantar com toda aquela atitude rebelde que beirava o exagero e pronto: estava feito o estrago. Ficava impossível acalmar o arrepio em sua espinha, o calor latejante que se alojava em seu corpo, bem atrás de sua guitarra.
—... and I play it on repeat... Until I fall asleep, spilling drinks on my settee...
Adam não era somente guitarrista; fazia também a função de backing vocal. Por isso, aproximou-se do outro microfone em questão de segundos, inclinando-se para frente para pronunciar uma frase ridiculamente adequada para o momento:
— Do I wanna know? — indagou, para que Noah respondesse, ainda cantando.
— If this feeling flows both ways...
Talvez Adam simplesmente não quisesse a resposta daquela pergunta. Preferia tentar ignorar todo o Noah ao seu lado e a forma tão óbvia com que ele virava a cabeça, parecendo querer exaltar os traços perfeitamente desenhados do queixo e da linha da mandíbula.
— Ever though of calling when you've had a few? 'Cause I always do...
Preferia ignorar aquilo tudo e pensar somente na série de acordes que precisava fazer em seguida, até a música finalmente acabar.
— E tá bom por hoje. — Mark largou as baquetas assim que Adam fez o último acorde, despertando os demais colegas de banda da imersão que as músicas por vezes causavam.
— Quem disse, filho da puta? — foi o que Noah indagou, ainda tendo sua voz amplificada pelo microfone. Voltou-se irritado para Mark.
— Eu disse. Já são nove horas e eu marquei com uma garota. Não vou ficar olhando pra essas caras de merda de vocês por mais tempo.
— A gente não passou metade da merda das músicas que combinamos. E você é o único que quer ir embora mais cedo. — o líder da banda ralhou, mas foi interrompido por um Todd que, após deixar seu baixo no apoio, ergueu uma mão hesitante. — O que foi, porra?
— É que... — o garoto gaguejou, como se não estivesse acostumado com o nada delicado vocabulário de Noah. — Eu também... preciso... ir.
O vocalista bufou, dando-se por vencido. Era OK brigar com um dos integrantes da banda por sair mais cedo do ensaio, mas não fazia sentido irritar-se com metade do grupo.
— Façam a porra que vocês quiserem. — murmurou, apenas para não dar o braço a torcer. Outro vício de Noah era o uso de palavrões.
— Tchau pra vocês. E, Noah... Vai dar essa bunda pra ver se esse seu mau humor melhora. Porque tá uma merda te aguentar. — foi o que Mark falou antes de deixar a garagem, acendendo mais um cigarro entre os lábios.
Todd não foi tão incisivo assim para sair e apenas despediu-se com um aceno, deixando o líder da banda jogado num sofá velho enquanto o guitarrista afinava seu instrumento encostado na parede oposta.
— E você, Adam boy? — Noah indagou, com um sorriso nos lábios, quando se viram sozinhos. — Não vai sair com ninguém hoje?
O guitarrista ergueu uma sobrancelha, passando o olhar da sua guitarra para o rosto de Noah, que acendia um cigarro entre os lábios sem tirar o sorriso da expressão.
Too busy being yours to fall for somebody new.
— Não hoje. — ele respondeu amigavelmente, correspondendo ao sorriso do colega de banda. Felizmente, ainda tinha controle o suficiente de si mesmo para disfarçar quaisquer outros pensamentos que surgissem sem convite.
— Nem eu. — Noah respondeu, soprando fumaça para cima e se levantando do sofá. — Já que você não vai enfiar o pinto em nenhuma garota, nem ajudar a mamãe com o jantar... O que acha de darmos um passeio por aí? Eu tenho isso.
Os olhos de Adam brilharam quando Noah tirou uma garrafa ainda lacrada de whisky caro de um esconderijo ao lado do sofá velho.
— Muito convincente da sua parte. — o rapaz alto riu de lado, largando a guitarra com certo cuidado e acompanhando Noah para fora da garagem.
Mesmo que Adam não entendesse muito bem a fascinação que o líder da banda tinha por carros, era fácil perceber que o rapaz tinha bom gosto; afinal, seu Cadillac conversível preto reluzente, com uma eterna aparência de novo, não o deixava mentir.
— Para onde quer ir, Adam boy? — Noah indagou, após se instalar confortavelmente atrás do volante. O cigarro ainda pendia despretensiosamente de seus lábios e seus olhos negros fitavam o guitarrista.
— Você escolhe. — o rapaz mais alto encolheu os ombros, buscando logo depois a garrafa que Noah havia colocado entre os dois bancos.
O Cadillac finalmente acelerou, fazendo com que Adam sorrisse sentindo o vento despentear seus cabelos. Aquela, definitivamente, estava entre as melhores sensações do mundo, em sua opinião. Quase era capaz de fazê-lo esquecer que quem dirigia o carro, bem ao seu lado, era Noah, inclinando a cabeça para soprar fumaça em direção ao céu, sorrindo e demonstrando que, se por ventura agia com certa arrogância, era porque tinha toda razão.
— O que acha de um pega pra esquentar a noite, Adam boy? — Noah abriu um sorriso quase maldoso a certo ponto, roubando a garrafa que repousava no colo de Adam e saboreando um gole da bebida forte, que lhe desceu ardendo.
Mesmo que se conhecessem havia relativamente pouco tempo — a banda, que estava próxima de completar um ano de existência, havia os reunido — o vocalista, por qualquer motivo, sabia muito bem do prazer que Adam sentia, além do álcool, pela velocidade.
E, naquele exato momento, o sorriso que repuxou os lábios de Noah foi tão sugestivo e tão pertinente que o guitarrista, que normalmente precisava estar bêbado ou muito distraído para ser pego de surpresa, arfou ao sentir um maldito e nada novo calor lhe concentrar em um ponto desconfortavelmente específico.
— Perfeito. — Adam respondeu simplesmente, abrindo um sorriso e fingindo que absolutamente nada havia acontecido.
Noah soltou uma risada rouca e acelerou com o carro, enquanto o guitarrista tentava ao máximo reduzir o calor que lhe subia pelo corpo com a ajuda do álcool.
A estrada da saída da cidade — apelidada Estrada da Morte, porque uma de suas marginais não era nada além de um barranco íngreme — era o local onde a maioria dos pegas acontecia E, não à toa, havia mais um carro ali quando Noah e Adam chegaram, rindo e dividindo a garrafa de whisky, que àquela altura já tinha um terço a menos de bebida que no começo.
— Lewis!
O grito veio do dono do veículo, um Bandit igualmente preto, porém com uma pintura dourada e quase infantil que imitava fogo na lateral. Era Leo Deezen, um rapaz que, por mais que se assemelhasse a Noah no estilo e em alguns comportamentos, se distanciava do vocalista da The Kings pelo seu prazer quase doentio em arrumar confusão.
— Deezen. — Noah respondeu ao cumprimento, fechando a expressão que, segundos atrás, ainda era sorridente, devido a um comentário cômico feito por Adam.
— Que bom que veio participar da brincadeira. — Leo riu, apoiando-se no capô do carro. Seu braço direito rodeava a cintura de Jamie, a namorada. — Trouxe o namoradinho também? — indagou então, erguendo as sobrancelhas e olhando para Adam, que fechou a expressão.
— Você é um idiota fodido, Deezen. Quer me provocar porque não consegue ganhar de mim na porra de um pega.
A expressão de Leo se fechou diante das palavras de Noah, que pareceram o irritar de verdade.
— Quer apostar?
Noah riu.
— É óbvio que sim, porra.
Deezen afastou-se da namorada, dando-lhe um tapinha no quadril, e se aproximou de Noah, com um sorriso presunçoso nos lábios.
— Se eu ganhar, fico com ele. — propôs, passando a mão sobre o capô reluzente do Cadillac e causando uma reação quase automática de defesa por parte de Noah. — Se você ganhar...
O vocalista soltou uma risada pelo nariz, todo desprezo.
— Vou provar pra você a porra da verdade: que eu sou o melhor aqui. Não preciso dessa sua merda de carroça. — quase cuspiu, jogando o que sobrara do cigarro no chão, diante de Leo, e esmagando-o com o sapato.
— Vou adorar ter um carro novo pra minha coleção. — os olhos de Deezen brilharam, cheios de cobiça, para o Cadillac, mas Adam se interpôs, atrapalhando a visão.
— Na merda dos seus sonhos. — Noah riu pelo nariz e se afastou, dando a volta e tomando novamente seu lugar atrás do volante. Adam o acompanhou, postando-se no banco do passageiro.
Pelo retrovisor, os dois ainda puderam ver uma amostra de afeto em público quando Deezen tomou a namorada nos braços, roubando-lhe algo que deveria ser um “beijo de boa sorte”.
Segundos depois, os dois carros estavam lado a lado. Leo e Noah se encaravam, como que competindo pela expressão mais desafiadora. Entre os dois, Jamie sorria.
— Prontos, rapazes? — ela indagou, desatando do pescoço o lenço vermelho que usava e erguendo-o no ar. — Três, dois, um e... — ela abaixou o braço de uma vez, dando o sinal, e os dois carros aceleraram juntos.
Se não fosse a ridícula ameaça ao maior amor de Noah — o Cadillac —, Adam não se importaria nem um pouco com o resultado daquela competição. Pessoalmente, já havia ganhado sua gratificação: a alta velocidade, o vento noturno lhe soprando o rosto e os cabelos, a expressão enraivecida de Noah, a maestria com a qual ele parecia calcular perfeitamente cada troca de marcha e fazer o veículo se impulsionar, voando no asfalto.
— Esse filho da... — o vocalista ainda tentou xingar, mas a adrenalina não o permitiu terminar a frase; havia sido ultrapassado por Leo, mas, no segundo seguinte, conseguiu retomar sua posição à frente.
As regras eram simples: ida e volta, sendo uma placa de sinalização a referência; sob ela, os dois veículos viraram, Leo em um drift quase perfeito, e Noah deslizando minimamente antes de retomar o controle do carro. Na volta, o Cadillac ficou do lado perigoso da estrada; o barranco íngreme se desenrolava em toda sua escuridão logo ao lado de Adam, que não sentia um pingo de medo; a adrenalina era muito mais forte.
— Porra! — Noah berrou, quando, numa tentativa quase homicida de o atrasar, Deezen usou o próprio carro para bater no Cadillac, com a intenção de empurrá-lo para a direita. — Filho da puta! — voltou a vociferar, girando o volante e voltando à parte segura da estrada.
Na segunda tentativa de Deezen, Noah foi mais rápido e desviou do impacto. O carro voltou a deslizar, mas se estabilizou; dessa vez, em vez de lado a lado, o Cadillac estava completamente à frente do Bandit.
Noah tinha raiva quando levou a mão à marcha, mudando-a com agilidade e acelerando ainda mais o carro. Aquele pedaço, que era uma descida simples na ida, tornava-se uma subida incômoda na volta, atrasando o percurso.
Leo também estava irritado, sobretudo por estar perdendo. E, não tendo a menor vergonha de jogar sujo, acelerou ainda mais o Bandit.
Dessa vez, o impacto veio por trás, assustando Adam e atiçando ainda mais o ódio de Noah.
— Caralho, filho da...
Noah acelerou ainda mais, se é que aquilo era possível. Adam, respirando adrenalina, se perguntou se era possível que os pneus queimassem com o atrito no asfalto.
Repentinamente, Leo surgiu ao lado de Noah, sorrindo desafiadoramente.
— Você não tem chance, idiota. — gritou por cima do ruído dos motores, rindo e acelerando o Bandit, que os ultrapassou.
Adam perdeu o fôlego, mas, ao seu lado, Noah estava sorrindo. Com certa agressividade, trocou de marcha novamente e pisou no acelerador, ficando apenas por alguns segundos ao lado do Bandit. No segundo seguinte, não somente o ultrapassou, mas, com uma virada violenta no volante, fechou o veículo de Leo, cantando pneu, e parou com um drift a menos de cinco metros de onde Jamie esperava, ainda com o lenço na mão.
— Filho da puta! — Leo praguejou, socando o volante.
Noah ofegava como se tivesse, ele mesmo, corrido uma maratona. Adam tinha o coração acelerado.
— Você é louco, filho da puta. — o guitarrista xingou, mas havia um sorriso passeando no canto do seu lábio. Noah riu baixo, mas uma risada também brincava em sua expressão.
— Sair daqui? — indagou simplesmente, voltando a dar partida no Cadillac.
Adam fez que sim com a cabeça e, cantando pneu novamente, deixaram Leo Deezen e aquele lugar para trás.
— Você... — Adam ofegou, enquanto dirigiam de volta para a parte central da cidade. Havia acabado de sorver mais uma dose de whisky. — É o filho da mãe mais louco... — interrompeu-se novamente, rindo. — Que eu conheço.
Noah, que também ria, mal tirou os olhos da rua para pegar a garrafa de Adam e virar mais alguns goles.
— Deezen é um idiota.
Adam riu.
— Você também. — respondeu simplesmente, tirando um cigarro do bolso da calça e acendendo-o entre os lábios sem se preocupar muito com o hálito quase inflamável. Antes que pudesse tragar, no entanto, Noah roubou-o dele, tragando lentamente e soprando a fumaça para o alto.
Agora, com níveis bem mais altos de álcool no sangue, Adam sentia o calor crescer cada vez mais na parte inferior do abdome, sobretudo depois daquela atitude.
— Eu falei...
Noah riu largamente; seu humor, normalmente péssimo, costumava melhorar depois de algumas — muitas — doses de whisky. Estacionou o carro de qualquer jeito ao lado de um meio-fio e ergueu os olhos, encarando o céu escuro e respirando o ar frio da noite. Tragou novamente o cigarro, soprando para o céu, transformando a fumaça em uma nuvem acima de sua cabeça.
Adam, com o olhar voltado para o rapaz ao seu lado, não conseguiu deixar de acompanhar com os olhos o desenho anguloso que a mandíbula e o queixo de Noah faziam, contrastando com a escuridão e a jaqueta preta de couro.
Do I wanna know?
— Eu gostaria do meu cigarro de volta, cuzão.
Noah riu pelo nariz, soprando um pouco mais de fumaça, e tirou o cigarro dos lábios, encarando Adam com os olhos escuros.
If this feeling flows both ways.
Foi tudo tão estupidamente rápido que o cérebro de Adam, confuso pela bebida, não raciocinou ou calculou absolutamente nada. Seus lábios tocaram os de Noah e o gosto de tabaco e whisky tornou-se, por alguns segundos, uma ponte entre os dois.
Porém, quando se separaram, Adam sentiu como se fosse vomitar. Perguntou-se, insistentemente e sem encontrar resposta, por que havia feito aquilo. Se repreendeu por ter bebido tanto e baixado a guarda logo ali. Engoliu em seco e virou mais algumas doses de whisky, decidindo tentar fingir que absolutamente nada havia acontecido.
Filho da puta, pensou ter ouvido Noah sussurrar, e, no instante seguinte, a garrafa, que havia esvaziado, foi jogada pelas mãos do vocalista no asfalto, espatifando-se.
Adam, em sua mente enevoada, chegou a se perguntar se iria apanhar, mas mal completou o pensamento. Noah agarrou-o com certa violência pela frente da camiseta branca, puxando-o para perto e pressionando os lábios nos dele, de modo que sua única fuga foi pousar a mão na nuca do outro e correr os dedos pelos cabelos negros.
O beijo foi intenso, quase doloroso. Adam arfou, mas correspondeu a altura, de uma maneira que parecia deixar Noah cada vez mais irritado, se é que aquilo fazia algum sentido.
— Filho da puta do caralho. — o vocalista xingou, arfando, quando se separaram. O calor no baixo ventre de Adam parecia prestes a explodir; chegava a doer. Ele tocou a própria testa, perguntando-se, por alguns segundos, se aquilo de fato estava acontecendo.
Noah se endireitou no banco e voltou a dar partida no Cadillac, manobrando-o apenas o suficiente para que entrasse na garagem. Quando parou novamente, deixou o carro, chamando Adam com a cabeça.
A casa do líder da banda era grande, em comparação a outras da vizinhança. E, convenientemente, seu quarto era afastado do dos pais, localizado num cômodo que servira de atelier quando sua mãe tentara trabalhar com pintura. De qualquer forma, era um local confortável, com uma cama grande; tudo que era necessário naquele instante.
Mal a porta havia fechado e outro beijo começou. De pé e sendo empurrado contra uma parede, Adam entendeu que tudo aquilo não era irritação; tinha outro nome bastante conhecido.
Baby, we both know...
Uma jaqueta de couro foi parar no chão, juntamente com uma camiseta branca. Em seguida, outra camiseta fez companhia à primeira. Àquela altura, não haviam mais topetes; os cabelos haviam sido completamente desordenados. Logo, cintos fizeram companhia às camisas. Os jeans de Adam revelaram um maço de cigarros no bolso de trás quando foram displicentemente largados de lado. Os de Noah estavam vazios.
That the nights were mainly made for saying things
that you can't say tomorrow day.
— Adam...