Chove forte,
O sol esconde-se entre as nuvens,
O frio pede agasalho e contemplação,
Não diferente do que pede a mente.
Um brilho inconveniente e incessante existe,
Esperança de um amor, dizem,
Bem sabe ela que,
Sem a sorte da hora exata,
Não importava quanto quisesse,
As tão desejadas memórias não viriam
E mesmo que deste a ela quinhentos dias de verão,
Inverno, outono, de fato, em qualquer estação,
Nada lhe mudaria o pensamento,
Toda e qualquer tentativa seria em vão
"Amor acima das dores."
Poderia ser o lema dela
Já que de quebra
Rimaria com "cores".
Por qual motivo "cores", me pergunta?
É que como a mistura de sentimentos,
Como as mágoas e arrependimentos,
Como os dias nublados e chuvosos,
Como os ensolarados e graciosos,
Como as amizades de infância
E os amores, em uma última instância,
As cores nos explicitam pela visão
Que somos todos um punhado de acasos,
Nunca iguais,
Presos entre paisagens,
Sempre de passagem.
Somos por vezes comicidade
E, em não oportunas atividades,
Tragicidades.
Pedindo licença à situação
E acolhendo a dor e riso dos demais,
Somos o produto final de ambas,
Arte por inteiros,
Somos não um,
Mas uma aquarela de desfeitos.
Tal qual como as cores
Tecemo-nos nas misturas,
Criamo-nos, quando possível, no riso,
E quando não, aceitando quem traga paz.