Às Profundezas
Calígula
Tipo: Lírico
Postado: 23/01/17 20:11
Editado: 26/01/17 21:28
Gênero(s): Poema Reflexivo
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 1min a 2min
Apreciadores: 7
Comentários: 2
Total de Visualizações: 1130
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Palavras: 285
Livre para todos os públicos
Notas de Cabeçalho

Não houve dúvida quando vi as sugestões.

Que Conrad e Melville me perdoem. Poe acharia graça, mas só para depois me esculhambar, como aliás seria muito merecido.

Capítulo Único Às Profundezas

Longe do sol, longe de mim,

minhas mãos se erguem ao firmamento,

minhas preces baixam à profundeza.

Sobre minha cabeça paira uma coroa de nuvens,

e cada raio é o espinho na carne do Salvador...

e meu vinagre são as ondas --

minhas feridas são fendas abissais.

Não ouço as ondas chorarem.

Sento sobre um trono de corais,

minha pele é esfolada pelos cnidários,

e minhas mãos queimadas pelo sal.

Só chora o vento ao Sul do Paraíso,

e soluçam os anjos marinhos do holocausto...

Estremecem em lamúrias secas os cachalotes,

os brancos espermas,

reis chacinados nas areias da matança.

Ergue-se em mim o vapor,

fria neblina do fim do mundo.

As lesmas expelem o veneno lácteo,

fumaça roxa em águas de resignação,

geratriz de hediondas pinturas rubras,

o vômito sanguíneo dos condenados.

Observo uma baía de peixes mortos...

Afundo em carcaças e lodo...

Cheiro deletério de desgraças e apocalipse...

Os redemoinhos sussurram sob meus pés,

e assim caminho sobre escuridões líquidas.

Um Messias selvagem,

uma esperança vazia,

um naufrágio anunciado.

Agulhas de gelo em meus ossos vítreos...

Vermelho e negro:

banhado em óleo,

batizado em sangue,

no néctar de meus irmãos predadores.

Sugado junto à imensidão,

o violador de um oceano moribundo...

As correntes gritam meu nome,

os braços da ressaca me apertam cálidos...

Fosca mortalha de esperanças leprosas,

um convite à queda muito implorada,

invocação da milenar delícia do afogamento...

Última oração.

Derradeiro crepúsculo naval.

Netuno tomou minhas mãos,

acariciou minhas asas decompostas,

abriu-me o caminho da tormenta,

estraçalhou o espelho basáltico das águas.

Abdiquei à coroa dos Céus,

despenquei das ilusórias graças,

acolhido nos abismos de qualquer mar,

meu palácio de cadáveres,

meu inferno adorado,

minha fossa prometida,

submerso lamaçal dos primeiros dias...

❖❖❖
Notas de Rodapé

LHPoeta, espero que essas palavras estejam do teu agrado.

Quanto ao meu juíz... bom, espero que você também aprecie essa coisinha bem deplorável, sinceramente.

Apreciadores (7)
Comentários (2)
Postado 26/01/17 10:32

Só o amigo secreto pra te fazer voltar, hem!

Inveja do LHPoeta hehehe.

Muito foda, cara. Essa narração então... Dá até um medo euhedhd

Postado 26/01/17 11:15 Editado 26/01/17 15:40

Estou sempre por aqui. Às vezes escondido, às vezes nem tanto.

É bom ver que você continua gostando dos meus pecadilhos literários. Talvez não tenha perdido o pouco de jeito que achava que possuía, afinal.

Postado 27/01/17 21:22

Satanás seja louvado... Meu Mestre deu o ar da (des)graça novamente! E de um modo que imediatamente me lembrou o que senti ao ler um texto dele pela primeira vez...!

Horror.

Prazer.

Inspiração.

Adoração.

Direção.

Oh, meu Mestre/Irmão... Pudera eu ter um vestígio que fosse da tua grandiosidade a qual possues e tanto (re)negas! Quisera eu ter uma visão tão apurada e ao mesmo tempo deturpada da escrita! Oh, Lúcifer... Quisera eu conseguir ser mais como o senhor e bem menos como eu!

Que obra magnífica! Horrenda de uma forma sublime e magistral! Bravíssimo! Bravíssimo!

Atenciosamente,

Um ser de existência vexatória e abissal, Diablair.

Ps: Garou reina.

Postado 01/02/17 13:33 Editado 01/02/17 13:34

Eu não vejo nada, e o que não vejo finjo que vejo mal para poder me gabar ao menos disso. É a natureza das sanguessugas...

Porra, então você leu o mangá do ONE? O que ele não tem de desenhista tem de todo o resto. Inclusive:http://static.comicvine.com/uploads/original/14/142926/4391243-r+3.jpg