Vazia.
"Solidão não é estar só. É estar vazio."
- Séneca.
Quando ouvi sua voz sussurrar aquelas palavras belas, que todas as pessoas acreditavam e desejavam com todas as sua força ouvirem, soube que estávamos destinados a algo. Sempre que seus olhos tão parecidos com pequenas amêndoas encontravam os meus, o pequeno arrepio retornava na mesma intensidade de quando havíamos nos conhecido.
Quando seus lábios tocavam os meu, causava aquela leve sensação de prazer e de borboletas no estômago. E eu permanecia repetindo a mim mesma que estávamos destinados. As pequenas ações românticas, como me levar a jantares, piqueniques, ao cinema ou simplesmente observar as estrelas eram presentes belíssimos e importantíssimos para mim. Apenas a sua companhia, o leve toque de seus dedos em qualquer parte de meu corpo; eram pequenas frações de sentimentos transformados em ações, e eu me deleitava com aquilo.
Naquele momento ele estava deitado na cama, os cabelos cheios de cachos negros caídos pelo travesseiro. O corpo estava coberto somente por um lençol e o sol batia em seu rosto, dando lhe um aspecto angelical. Um sorriso brincalhão estampado em seu rosto, os olhos fixados em minha reação.
Eu nunca esperara ouvir aquelas palavras de alguém, ou pelo menos de alguém que não pertencesse a minha família. Estava tão acostumada a não acreditar nelas que preferia simplesmente ignorar qualquer coisa que se relacionasse a elas, e estava vivendo alegremente com isso até agora.
- Eu te amo.
Sua voz estava rouca, como se ele tivesse acabado de acordar. A sua beleza, personalidade, inteligência eram tudo que uma mulher poderia querer. Ele seria exatamente o tipo de pessoa a sorrir para sua parceira e dizer que tudo ficaria bem no meio de uma briga; seria o homem que riria de piadas estúpidas e sujaria seu nariz de sorvete apenas para poder lambê-lo; diria que o amor de vocês estava escrito nas estrelas e que atravessaria o tempo e o espaço.
Por isso, quando aquelas palavras saíram de sua boca, lágrimas escorreram dos meus olhos. Eu toquei suas bochechas delicadamente, sentindo a sua barba mal feita. Meus olhos nunca deixaram os deles, um sorriso triste estampado em meu rosto.
Naqueles poucos segundos eu me lembrei de meus pais e o ódio que nutriram um pelo outro por tantos anos. As lágrimas, gritos, raiva e dor que minha irmã sentira quando se apaixonou e as terríveis histórias de amor que eu sempre ouvia e só acabavam com sofrimento para o casal.
- Me desculpe. – O sorriso dele desapareceu e foi substituído por uma expressão confusa.
Desde o começo eu sabia que nunca poderia me aproximar do amor. Eu descobri através das inúmeras experiências ao meu redor que tal sentimento só levava a outros sentimentos ruins. Era uma promessa que havia feito na minha consciência muitos anos, em que me recusava a experimentar aquela profunda tristeza. Havia um muro de titânio que mantive ao redor do coração e nunca permiti que ninguém o atravessasse. Ele provavelmente diria que estava destinado a destruí-lo. E eu... Eu estava destinada a mantê-lo.
- Mas nós estamos destinados a acabar, uma hora ou outra. – Ele estava empurrando minha mão. E quando eu permaneci em silêncio, ele se levantou e pegou suas roupas sem dizer absolutamente mais nada; a expressão dura e indecifrável.
Eu tinha certeza absoluta de que não iriamos nos falar novamente quando ouvi o som da porta da frente sendo fechada. Enrolada nos lençóis brancos, ainda sentindo o calor que restava de seu corpo eu sequei minhas lágrimas. Eu havia evitado uma sucessão de acontecimentos que me deixariam extremamente mal, e esta deveria ser uma vitória. Eu estava no lindo apartamento que comprara, com minha gata dormindo no sofá, e era exatamente como as coisas deveriam ser. Eu sabia que não havia algo com amor verdadeiro e eterno.
E sabia que eu estava destinada a ficar sozinha.