O cabelo dela chegava na cintura, era de um tom castanho tão amável e possuía cachinhos adoráveis. Ele balançava em torno do seu corpo como algas abraçando uma sereia enquanto ela dança nas correntes do mar, um marrom escuro serpenteando naquela água levemente opaca, a areia fina diluída junto do sal que queimava seus olhos por debaixo das pálpebras.
Naquele momento, eu vi apenas seu cabelo caindo no chão e seu corpo sendo levado pelo vento, os fios grossos juntando-se e se entrelaçando de modo a formar um par de asas de mariposa que a permitiriam voar para onde quisesse. Era liberdade e tinha um gosto esquisito, um pouco adstringente, o “sabor que amarra a língua”.
Noutro momento, eu a vi por trás das lentes de contato coloridas. Ela estava imersa em um ambiente amarelo, a cor do ouro e da amizade, sorrindo como alguém que possui um universo inteiro na mente e não o dividiria com qualquer pessoa, alguém que possuía uma poça de segredos e um mar de honestidade, alguém que ficaria acordada até as três da manhã para inventar uma nova língua.
Então estávamos sentadas no terraço, ambas com nossas almas miradas para a Lua e uma câmera quebrada debaixo dos nossos pés cinco metros abaixo. De certo modo, nossa aura se intercalava em padrões listrados e horizontais, listrados e verticais, formando uma confusão de linhas que se traduziram em uma captura de cena com efeito moiré.
Não importa, no entanto, o que vale são nossos sorrisos distorcidos pelos caminhos não-uniformizados que constituem uma fórmula mais complexa que quimioluminescência e tem resultado tão lindo quanto. Uma explosão de luzes quentes e frias, cores de todos os tipos, pedaços de vidro da lente da câmera fornecendo um leque de possibilidades.
O ponto de vista é das estrelas – e todos sabem que elas não têm ouvidos –, por isso ninguém escutou a pergunta que findou a reação química do nosso encontro.
Deixa eu fazer parte da sua galáxia,
enquanto rimos de alguma piada sem graça?