A porta já estava aberta, ela adentrou no estabelecimento, a penumbra em comunhão com alguns pontos de luz distribuídos na bancada indicava o local. Seguiu em frente, sem olhar para os inúmeros ‘’rapazes’’ que a dissecavam.
Era uma banqueta macia, apesar de carecer de encosto para sua coluna vertebral. Estava bom.
-Para a senhorita?
Enquanto observava a infinidade de recados rabiscados naquela pobre madeira que compunha o balcão, tardou a perceber que a pergunta se dirigia a ela.
-Moça!
Levantou paulatinamente seu tronco, como quem não tem pressa: uma dose de nada por favor!
-Como?
-De nada.
- Nada até temos, mas não sabemos servir.
Encantou-se com a resposta, ele sabia brincar.
- Dá-me o amigo do homem engarrafado!
-Whisky?
- Este mesmo, o mais barato e o mais forte.
Ela não olhou marca, não olhou cor, não olhou ano, não era de seu feitio. Mas o sabor, este não passaria despercebido, prestava atenção em suas papilas gustativas. Era amargo. Não costumava beber, era o nada que a moça queria e não este gosto.
Depois da terceira dose ela conseguiu. O que exatamente? Discursava frases inconclusivas e sentia-se agitada:
- Uma dose de nada, uma dose de nada!
O homem que a atendeu compreendera: a moça necessitava fugir de tudo e de todos por um momento, era o nada que ela buscava, era o nada que sua mente atordoada com tanta informação lhe negava.