Era uma terça-feira de um mês abstrato, de um ano que não se sonha. O tempo estava nublado, porém abafado, sem nenhum sinal de garoa.
Em um lago de águas cristalinas, algumas crianças brincavam após a aula, se atiram no mesmo, seus pais, ao descobrirem a brincadeira, se irritam e logo perdoam os pequenos.
Longe das idades descritas no cenário, uma menina caminha lentamente para casa, após mais um dia exaustivo na escola.
- Que seja. - Ela suspirou, para logo então olhar para o céu. - Apenas que seja.
Ninguém mais pode ouvir suas reclamações, já que sua casa era no lado oposto da modernidade da cidade. A menina que morava no chamado "meio do mato" sempre adorou a região de onde vinha, apesar de se sentir sozinha nos finais de semana.
Ao chegar em casa, não há alegria pelo seu retorno. Os móveis permanecem intocados, apesar da comida gelada de algumas horas estar em cima da mesa.
- Que seja. - Suspirou outra vez.
A menina se sentou na mesa e comeu a comida, sem sequer esquentá-la. "Não tenho tempo à perder", era sua justificativa, embora ela não tivesse programação alguma para a tarde.
- Não quer vir para minha casa? - Um menino perguntou, meio embriagado, para a garota que outrora ficava na casa solitária.
- Nananinanão! - Exclamou a garota, que agora parecia mais velha, em um bar, durante a noite.
- Ah, venha! - Ele falou perto do rosto da mesma, que se sentiu um pouco enjoada pelo hálito de cerveja. - Vai ser divertido.
- Pena que eu não gosto de cerveja. - Calmamente, a garota desviou do bêbado impertinente.
Ela olhou no relógio e tornou a seguir o longo caminho para casa, uma vez que alguém deveria chegar em casa dali a trinta minutos. O caminho era igual, todos os dias, todos os meses, todos os anos. Não havia originalidade ou criatividade, apenas a mesmice.
- Que seja. - Ela suspirou dizendo sua frase predileta. - Ninguém vai ligar, de qualquer modo.
A menina resmungava enquanto seguia o caminho de sempre, com um rosto levemente mais triste que ontem.