Skyler
Hoje era o aniversário de 21 anos de Blair e por este motivo, nós estamos levando-a para beber. Eu posso não ser muito chegada a festas, mas como ela gosta e essa sendo uma das condições para bebermos até cair, não vi motivos para recusar.
Lola havia escolhido uma festa de uma das fraternidades que havia no campus e só não gostei disso porquê vou ter que cuidar muito de Blair para ela não entrar em um coma alcoólico ou para que nenhum bêbado engraçadinho queira se aproveitar dela.
– Pensei que fossemos para algum bar, ou algo do tipo – Blair comentou enquanto caminhávamos para a entrada da casa da fraternidade.
– Lá, nós teríamos que pagar pelas bebidas, honey – falou Lola, que já andava mais a frente exibindo seu magnífico corpo naquele magnífico vestido.
Minha querida e velha amiga Lola, é daquele tipo de garota que ama se arrumar e que é bonita até quando tá feia. Não sai de casa sem ao menos por batom e gosta de exibir o corpo que tem com roupas curtas. Mas não é como se ela saísse de minissaia num frio de lascar, ela coloca roupas curtas apenas no calor. Gosta de ser comparada com a maldita boneca Barbie e principalmente quando esfrega na cara das invejosas que nada é artificial.
Blair é mais recatada. Gosta de se arrumar e odeia que a achemos fofa e de ser chamada de baixinha. Parece ser inofensível, mas é só irritar ela um pouquinho que é bom sair de perto. Está naquela fase de achar todos os caras idiotas e que nenhum presta, tudo por causa do ex-namorado babaca que partiu o coração dela.
E eu? Bem, eu sou a garota romântica eternamente apaixonada por palavras bonitas e todo tipo de clichê que o amor pode proporcionar. Já amei e já sofri ao menos umas cinco vezes. Não tenho medo de me apaixonar novamente, pois sei que quando encontrar o cara certo, tudo vai ter valido a pena.
– Acho que nunca estive numa festa tão grande assim. – Escutei Blair falar ao meu lado assim que entramos na casa. Ela sorria e olhava em volta como se nunca tivesse estava em uma festa antes. Ela é um bichinho curioso e sempre que fica desse jeito ela fica fofa. Que ela não me escute falando isso.
– Lembre-se que se algum cara tentar te tocar sem seu consentimento é só me chamar que eu vou socar a cara dele.
Ela riu e concordou batendo continência, o que me fez sorrir também.
– Vamos pegar algo para beber – Lola falou parando em nossa frente e começou a andar outra vez. Seguimos ela que acabou parando apenas no lado exterior da casa, onde haviam uns caras perto de umas caixas térmicas. Ela cumprimentou a todos e então nos apresentou enquanto pegava três cervejas em uma das caixas.
Blair falou que queria voltar para dentro e ir dançar, então segui com ela até lá. Ainda não havia tocado em minha cerveja e estava longe de me sentir confiante o suficiente para tentar fazer qualquer passo de dança. Fiquei escorada em uma parede enquanto bebericava minha cerveja, eu ria algumas vezes de minha pequenina amiga tentar cantar enquanto dançava e tomava cerveja.
– Olha só quem eu encontrei em uma festa. – Ri e sabendo que era Andy estava do meu lado, não tirei os olhos de Blair.
– Já está bêbado? – questionei divertida e dei mais um gole em minha cerveja.
– Para você. – Entregou-me uma flor falsa que eu não faço ideia de como a achou. Andy tem o costume de tentar me conquistar quando está bêbado. Ri e peguei a flor.
– Se você não tentasse só quando está bêbado, talvez eu beijasse você. – Ele riu.
– Pensei que gostasse de se embebedar com vodka.
– Estou começando leve para que Blair consiga acompanhar – expliquei e dei um longo gole em minha cerveja. Mexi a garrafa percebendo que estava no fim, não tardei em tomar todo o restante da bebida. – Segura pra mim – pedi e Andy pegou a garrafa. Coloquei a flor falsa no gargalo e segui até onde Blair estava. Ela ainda tinha sua cerveja e sorriu quando me viu se aproximando. Fiquei com ela por umas duas músicas e então puxei-a dali para irmos atrás de mais álcool. Novamente para as caixas térmicas.
Um dos caras que estava perto começou a flertar com Blair enquanto eu pegava mais cerveja. Só quando entreguei-lhe a garrafa ela parou de dar risadinhas para o cara e foi a vez dela de me puxar para dentro após de despedir do cara.
Após mais umas boas garrafas de cerveja eu já me sentia soltinha o suficiente para remexer os quadris sem vergonha. A única coisa que me fez me afastar das garrafas de cerveja, foi quando Andy apareceu outra vez e disse que tinha tequila. Não era vodka, mas estava quase lá. Levei Blair junto comigo e assim que paramos na cozinha eu já havia entendido o que Andy queria.
Revanche.
Só que ele não sabe que vai perder de novo.
Já haviam copos dos dois lados da bancada que fica no meio da cozinha, como uma ilha e quando Andy me entregou uma bolinha de ping pong eu ri.
– Você não vai ganhar dessa vez – assegurou.
– É o que veremos.
Foi até o outro lado e cumprimentou o cara de cabelos negros que estava ali. Escutei Blair me perguntar o que tinha que fazer.
– Acertar a bola nos copos. – Encarei-a. – Dai eles bebem e se acertarem no nosso, nós bebemos. – Franziu o nariz em desagrado.
– Eu sou ruim de mira – reclamou fazendo bico, o que me fez rir.
– Sorte sua que está comigo.
Andy se aproximou com o cara e após, desnecessariamente, ter me chamado de boneca apresentou o cara.
– Este é Hans e nem tente que ele é do meu time – falou e eu tentei, juro que tentei reprimir a vontade de zoar com a cara dele, mas ele deu uma abertura enorme.
– Ele é gay? – Até Hans riu enquanto Andy me encarava indignado e então murmurou algo do tipo “me aguarde”.
– Pimenta e Cotoco, agora vamos jogar – disse e tentou puxar Hans até o outro lado do balcão.
– Hey! – Eu e Blair reclamamos ao mesmo tempo, mas foi eu quem falou.
– Só eu posso chamar ela de Cotoco. – Isso fez Blair reclamar de novo e me encarar enraivecida, mas apenas ficava fofa desse jeito. – Não fica assim, Cotoco. – Abracei-a e ela virou o rosto reclamando que não queria beijar meus peitos. – Eu acho que você é mais baixa do que isso, mas tudo bem – disse erguendo as mãos em rendição.
Assim que estávamos posicionados nos dois lados do balcão, Andy falou para as damas irem primeiro. De novo, eu juro que tentei, mas é impossível. Irritar meus amigos é algo que não dá pra parar de fazer.
– Então sinta-se a vontade. – Jogou a bolinha que segurava em mim, mas eu consegui pegá-la.
– No fundo, toda essa hostilidade é amor – falou com certeza que só me fez rir mais e jogar a bola de volta nele.
– Blair começa – digo e lhe entrego a bola. Ela quase errou, mas por pouco conseguiu acertar um copo nos fazendo comemorar.
Muitos copos depois e com uma Blair bem alegrinha, que ainda não vomitou graças a Deus, paramos com o jogo após Andy, também muito alegrinho, aceitar que havia perdido e então ele voltou com a flor falsa que havia me dado antes.
– Você não pode jogar meu amor fora – declarou e se aproximou de mim escorada na bancada.
– Seu amor de bêbado – retruquei e ele riu colocando no meu cabelo. – Ela tá cheirando a cerveja, mano, meu cabelo vai ficar um nojo – reclamei.
– Agora você tem um motivo pra lavar o cabelo, tá pior que ninho de rato. – Soquei seu ombro e ele reclamou.
– Eu lavei o cabelo – disse e então arrumei a flor que ele havia prendido no rabo de um jeito complicado no prendedor. Droga! Meu cabelo vai ficar mais anosado do que já está.
Percebi Blair tentar sentar no balcão ao meu lado e Andy não demorou para ajudá-la, até por que a Cotoco ali nunca ia conseguir subir sozinha. Eu ri de seus pés mais para cima da metade do balcão e ela cruzou os braços irritada. Mas então revidou dizendo que passou do meu ombro. Arqueei as sobrancelhas aceitando o desafio e apenas fiz um leve impulso para me sentar no balcão ao seu lado.
– Sua vaca, assim não tem graça. – Fez bico e pediu uma bebida para Andy que logo acatou seu pedido fazendo uma reverência engraçada antes de sair. Logo Blair ficou novamente de bom humor e começou a cantarolar a música que tocava e meio que dançar em cima do balcão.
– Então. – Hans, que estava escorado no balcão ao meu lado, falou atraindo minha atenção. – Você tem um nome ou é pra chamar de Pimenta mesmo? – Ri e pousei as mãos ao lado de minhas pernas no balcão me inclinando levemente para frente. Ele virou o rosto na minha direção quando eu disse:
– Skyler. – Sorriu e só com isso senti vontade de sorrir também. O sorriso dele é contagiante.
Agora, de perto, eu consegui perceber que seu cabelo não era negro e sim castanho escuro, assim como seus olhos. Seu cabelo é mais curto nas laterais e provavelmente é proposital esse topete desarrumado que ele usa. Não posso negar, ele é lindo com esse cabelo desarrumado. E ele tem barba, eu amo barba.
– Hansel, Pimentinha – falou pegando minha mão e em seguida beijando o dorso dela. Ri e não resisti a vontade de perguntar.
– Andou perguntando para Andy como conquistar alguém? – Sorriu torto.
– Bem, ainda não funcionou as técnicas dele com você, e você está parcialmente bêbada, então eu prefiro não confiar nele. – Tentei segurar a vontade de rir. Eu bêbada sou tão facinha.
Quando Andy chegou cantarolando e entregou uma garrafa de cerveja para Blair ele logo retirou-a de cima do balcão e falou que queria dançar com ela enquanto conduzia-a para a sala.
– É bom você não abusar dela – falo um pouco mais alto por conta da música, ele riu e falou algo que não consegui entender. Eu juro que se ele tarar ela eu vou arrancar as bolas dele.
– Quer ir buscar alguma coisa pra beber? – Hans questiona e eu estrito os olhos torcendo a boca, olho para o outro lado da cozinha e aponto.
– Quero aquela garrafa de vodka. – Escuto ele rir abafado e então o observo ir até a garrafa e se meter no meio de um casal para pegá-la. Eu rio de ele falando alguma coisa para o casal e eles de cara feia. Falaram alguma coisa, provavelmente mandaram ele a merda ou derivados. Aproximou-se e enquanto abriu a garrafa lacrada, ele falou.
– Não entendi por que tanta violência. – Ri abafado.
– Talvez porquê eles estavam quase trepando e você se meteu no meio? – Sorriu torto ainda sem me olhar. Estendeu a garrafa.
– Eu ia dizer primeiro as damas, mas não vou arriscar. – Rimos juntos e eu peguei a garrafa dando a primeira golada.
– Ainda não temos intimidade pra eu zoar você – digo séria enquanto ele pega a garrafa.
– E que tipo de intimidade precisamos ter para isso acontecer? – perguntou sugestivo antes de dar um gole na bebida.
– Não pense coisas erradas de mim, preciso de romance antes de começar a sugerir coisas. – Riu abafado.
– Você? Romance?
– É. Por quê? Não posso gostar? – Pego a garrafa.
– Pode. Apenas... você não parece esse tipo de garota – explicou enquanto eu bebia.
– Mas eu sou – falo convicta e ele olha pro meu cabelo.
– Por isso a flor? – Concordo.
– Ele sabe que gosto de romance e quando bebe tenta me conquistar.
– E funciona? – Nego com a cabeça. – Mas você gosta de romance.
– Mas ele está bêbado.
– E se não estivesse? – questiona antes de beber da garrafa.
– Provavelmente não. Eu não consigo imaginar coisas além de amizade com Andy.
Só deu tempo de eu pegar a garrafa e logo Lola apareceu do meu lado. Ela é um pouco mais alta que Blair, ainda mais de saltos, mas ela também não passa de meus ombros.
– Princesa do meu coração. – Uniu as mãos em frente ao rosto como se fosse rezar, provavelmente para apelar pra cima de mim. Só que ela deveria saber que usar o apelido que o babaca do meu ex me deu, não é um bom jeito de tentar apelar. – Vem comigo? – Franzo o cenho.
– Pra onde e por quê?
– Não quero ser a única garota e você vai ver se ir comigo.
Maldita! Ela sabe como eu sou curiosa.
– Eu vou, mas você sabe o porquê. – Riu e pegou meu braço para tentar me puxar. Bufei e desci do balcão, olhei para Hansel. – Quer vir também não sei pra onde? – Sorriu torto e concordou. Entreguei-lhe a garrafa quando senti Lola dar um puxão no meu braço. – Para com isso Gnomuda. – Ela só não me mandou a merda porquê queria que eu fosse junto, e eu amei isso. Voltei a olhar para Hans e peguei sua mão para ele poder nos acompanhar melhor. Eu sei que Lola é capaz de sair correndo a qualquer momento e me levar junto.
Seguimos em meio as pessoas pela sala até o corredor do andar de baixo da fraternidade. Lola parecia examinar as portas até ir em uma entreaberta. Finalmente me soltou e abriu o resto após passar a mão pelos cabelos me fazendo rir.
Era uma sala de jogos onde tinham alguns caras em volta da mesa de sinuca. Haviam umas garotas também, mas elas estavam ocupadas demais beijando uns caras pelos cantos da sala que é como se nem estivessem ali. Lola logo foi até uns dos caras na mesa que não recuou em beijar ela. Reprimi a vontade de revirar os olhos e fui até onde Hans me conduziu ainda segurando minha mão. Nos sentamos no sofá que havia ali, no canto oposto ao casal se agarrando.
– É minha ou sua vez? – questionou mostrando a garrafa.
– Primeiro as damas, esqueceu? – Peguei a garrafa e dei um gole enquanto ele ria.
– Tudo bem, garota romântica. – Revirei os olhos.
– Não fale com esse tom de gozação, mocinho. – Ameaço apontando o dedo. Sorriu e com a mão que não segurava a garrafa, abaixou minha mão.
– Não estou duvidando, se é o que pensa. – Estreito os olhos e ele só tira o sorrisinho do rosto para dar um golada na vodka. – Qual seu filme de romance preferido? – perguntou enquanto me estendia a garrafa.
– Por quê?
– Já que você é romântica, não tem problema falar disso e estou curioso para saber do seu gosto por romance. – Reprimo a vontade de falar que vou socar a cara dele e apenas dou um longo gole na garrafa.
– Love, Rosie. Já ouviu falar? – Concorda com a cabeça. – Assistiu? – Negou. – Já assistiu algum romance? – Pareceu pensar ao pegar a garrafa de mim.
– Já. – Deu um gole e eu sorri sem descolar os lábios, arqueei as sobrancelhas e provoquei.
– Sério? Você não parece o tipo de cara que olha essas coisas. – Riu.
– Eu tava namorando, eu tinha que agradar ela de jeitos diferentes. – Deu de ombros, como se isso explicasse tudo. E realmente explicava.
– Não sei porquê, mas eu acho que você ganhou mais do que ela – acusei fazendo com que ele risse abafado.
– Isso é passado, vamos nos focar nessa garrafa e o que mais dessas coisas clichês você gosta. – Outro gole e me entregou a garrafa. – Flores? – Concordo enquanto apenas passo meu dedo pelo gargalo da garrafa. – Chocolate?
– Quem não gosta? – Rimos. Ele se ajeitou melhor no sofá ficando meio virado para mim e com um braço no encosto do sofá passando por trás de mim. – Por que eu não tenho cara de ser romântica? – questionei e dei um novo gole. Ele pareceu ponderar se me falava ou não, por fim, disse.
– Todas as garotas românticas que eu conheço, usam roupas bem... – Parecia não encontrar a palavra certa, então sugeri:
– Femininas? De mulherzinha? Fofas?
– Por ai.
Eu observava meu dedo enquanto contornava o bico da garrafa, logo ele fez sua mão envolver a minha e então acariciá-la com o polegar.
– O que mais? – questionei e virei meu corpo um pouco mais na sua direção. Capturei seu olhar e aguardei que ele voltasse a falar.
– Elas não bebem mais que meus amigos e se tentam elas ficam podre de bêbadas. Diferente de você, nem parece que bebeu.
– Sinto muito que eu saiba beber e Andy que é mulherzinha. – Riu.
– Usam maquiagem. – Levantou o braço que estava no encosto apenas para poder apoiar o rosto na mão. Sorriu torto enquanto aguardava minha resposta.
– Em minha defesa, se eu fosse passar aquelas coisas na cara, teria que passar no corpo inteiro porquê, se não percebeu, tem milhares de sardas aqui. – Gesticulei pro meu rosto e ele apenas abriu seu sorriso. – Batom pra que? Eu vim pra beber e ficaria tudo borrado ou manchando copos ou garrafas ou outras coisas, sei lá. – Riu abafado. – E nos olhos é dispensável, porque se eu chegasse ao estágio de bêbada chorona eu ia virar um panda. Não. Pandas são fofos demais para isso. Um guaxinim. – Riu outra vez.
– Até que faz sentido esse seu raciocínio.
– Lógico que faz – afirmei. – São só essas coisas? Não vai falar que elas penteiam o cabelo?
– Pra que? Pelo jeito você já sabe.
Dei um tapa com as costas da mão em seu peito, mas não resisti a vontade de rir com ele. Olhei para a mesa de sinuca, onde Lola ainda estava com aquele cara, agora ele a ensinava a jogar. Aproveitador.
– Pensei em outra coisa – disse e voltei a olhar para ele. – Cartas. Você gosta de cartas? – Neguei. – Por quê? Esse é um clichê enorme.
– Mas quem é que ainda escreve em pleno século XXI? Eu posso gostar de clichês, mas também sou realista. – Balançou a cabeça negativamente, como se estivesse decepcionado.
– Você não pode se denominar uma garota romântica se não gosta disso – afirmou e eu apenas ri.
– Posso sim – tentei retrucar.
– Não pode, não. Pra isso, você tem que gostar de todos os clichês de romance.
– Vale no celular? – Negou com a cabeça. – Mas ninguém escreve nos dias de hoje – reclamo. Arqueou as sobrancelhas, encarou-me como se tivesse sido desafiado.
– Já que é assim. – Começou. – Eu vou escrever cartas para você. – Ri. – É sério, não ria. E você ainda vai gostar e se apaixonar por mim. – Tentou falar sem ao menos sorrir, mas sua boca se curvou levemente para cima em um dos cantos.
– Tão convencido.
– Você ainda vai se apaixonar – afirmou.