Você se lembra quando deixou de acreditar em Papai Noel? Percebi que muitas pessoas não se lembram, mas eu tenho a lembrança bem nítida na minha mente e acho histórias como essa que vou contar muito divertidas. Fui o último do meu circulo de amigos e familiares que descobriu isso, talvez porque tive que descobrir usando minha dedução lógica.
Lembro que minha relação com o Papai Noel na semana do natal era muito parecida com Tom e Jerry, Coyote e Papa-Leguas, Cebolinha e Monica, etc... Não porque eu odiava o Papai Noel, mas é que todo ano eu e minha prima tentavamos a todo custo vê-lo entregar os presentes em nossas casas. Eu e minha prima sabíamos que os papai-noeis nos shoppings e nas ruas eram na verdade pessoas comuns que ajudavam o verdadeiro Noel com a tarefa de saber quem foi realmente comportado ou não. Então todo ano eu fazia vigília em volta de casa... eu e minha prima... mas sempre falhamos, sempre tínhamos o momento de deslize: tomar banho e quando sair ver todos os presentes debaixo da arvore, ou sair com o nosso tio para comprar doces e na volta ver os presentes debaixo da arvore, etc... era divertido a surpresa de saber que o Papai Noel havia passado por lá e deixado os presentes sem ninguém ter visto, sempre surgia a pergunta “como ele faz isso?”, mas a frustração de nunca ter visto ele permanecia até o natal seguinte.
Acho que as crianças foram se cansando da frustração e acabavam inventando que tinham visto o Papai Noel, ou acabavam descobrindo a verdade e só queriam zombar de quem ainda acreditava, de qualquer maneira quando fiz 7 anos(dias antes do natal), um primo bem mais velho me disse que já tinha visto o bom velhinho adentrar em sua casa e deixar o presente debaixo da arvore e pra piorar minha prima e companheira de vigília também disse que havia visto o Papai Noel... Que merda! Eu era o único que não conseguia ver, todo mundo já tinha visto e logo acabei sendo corrompido pelo pensamento de que eu não precisava ver, eu só precisava mentir e dizer que vi!
A ideia parecia genial para mim, mas como um protótipo de escritor eu teria que elaborar toda uma história de tal forma que até eu acreditaria: na antevéspera de natal acordei de madrugada, fui até a sala e me imaginei escondido na escada que dava para meu quarto, vendo o Papai Noel chegar pela porta de casa escancarada com o trenó parecendo uma nave planadora, pousar rapidamente perto da arvore de natal, depositar os presentes estralando os dedos e fazendo cada um deles aparecer com a magia de natal debaixo da arvore. Logo em seguida subiria de volta no treno, olharia na minha direção e piscaria para mostrar que sabia que eu estava lá e sumiria no instante seguinte deixando um brilho parecendo pequeninos fogos no ar. Cheguei até imaginar uma cena final diferente onde o bom velhinho daria um gole numa garrafa de coca-cola após dar sua famosa gargalhada ao passar a mão na própria barriga, mas achei que seria forçar a barra.
Aguardei meus primos chegarem para o almoço do natal com seus novos presentes, esperei o pequeno momento de confraternização e comecei a falar toda a coisa incrível que vi na noite passada. O problema é que, diferente dos pais dos meus primos, os meus pais não deixavam eu mentir nem em relação ao Papai Noel e quando eu disse que o mesmo havia entrado na sala com seu trenó tecnológico parecendo uma nave do Star Wars, minha mãe apareceu na porta da cozinha censurando com o olhar que sempre faz quando percebe que estou com intenção de fazer algo de errado e, quebrando toda a minha narrativa fantástica disse “que papo de maluco é esse, menino? Para de falar besteira”. Todos caíram na gargalhada, tanto os meus tios quanto meus primos, eu fui o único que fiquei com cara de interrogação me perguntando como minha mãe sabia que era mentira...? e como todos os outros também pareciam saber que eu estava mentindo?
Só fui saber o porquê de tudo aquilo no ano seguinte, quando já desconfiado procurei não pelo Papai Noel, mas por onde os meus presentes poderiam estar guardados e veja que surpresa! O modus operandi do Papai Noel para esconder os presentes era o mesmo dos meus pais para esconder no dia das crianças e no meu aniversário: Esconder os presentes num quarto que usávamos como porão e que as crianças nunca entravam, meu único raciocínio diante da situação foi “preciso passar esse trote adiante”. Sim meus amigos, como um corno prodigioso fui o último a saber que o Papai Noel e meu pai tinham a mesma grafia, mas isso rendeu uma boa história e vocês não sabem o quanto é divertido ouvir histórias como essa, nunca é da mesma maneira e a criança sempre se comporta diferente ao descobrir.