Era quase madrugada, o tempo estava ameno e as ruas silenciosas. Tudo conspirava para que esse ano fosse o melhor natal da (miserável) vida das pessoas de Longitude. Olhei para os lados mais uma vez e não encontrei nenhuma testemunha. Reuni fôlego e saltei me segurando na janela do corredor. Com a mão esquerda a abri silenciosamente, entrei e fechei novamente. Após me recompor abri uma mochila com as cartas. Eu precisava lembrar do pedido da pessoa daquela casa antes de qualquer coisa. Passado alguns segundos folheando, encontrei. O rapaz queria “conseguir viver com memórias mortas em seu coração”. Seja lá o que ele quisesse dizer, eu estava lá para o pedido de natal.
Deixei a mochila ao lado de um vaso de plantas e saí em passos lentos e cuidadosos em busca do homem. Subi alguns lances de escadas e vi que uma luz estava acesa dentro de um cômodo, cuja porta estava entreaberta. Ouvi com atenção e notei grunhidos agudos adivindos do local. Parece que ele estava lá. Aproximei-me empurrando lentamente a porta a fim de ver o que se passava. Foi então que vi perdido em seu próprio sangue e vômito deitado no chão grunhindo de dor pelos pulsos sangrando – estes cujos cortes não pareciam com a intenção de se matar. Acima da tampa do vaso sanitário havia uma garrafa de vodka. Ele era patético, mas pelo menos tinha bom gosto.
Empunhei uma pequena faca e rapidamente invadi o banheiro fincando-a no seu pulso direito, surpreendendo-o de tal forma que quase fiquei surdo com o seu grito histérico. Agarrei um generoso tufo de cabelo e bati com sua cabeça no chão diversas vezes até que seus fios desprendessem do couro cabeludo.
— Desejo realizado, mas da próxima vez estude para saber que as suas memórias ficam no cérebro.