Todo mundo é de plástico
Em suas faces sorridentes pelo nosso feed
E até os que estão tristes
São todos plastificados
Com seus discursos decorados
E seus movimentos calibrados
São todos plastificados
Enquanto olham para a paisagem
São todos plastificados
Não vivem o momento intensamente
Preferem congelá-lo,
Antes que ele se acabe
São todos plastificados
Cheios de si
Cheios de nada
São todos bem adestrados
E até os que falam alto
Esses sim, são os mais treinados
E, sim, são todos de plástico
Com as cantadas baratas
E o amor entorpecido
São todos de plástico,
Só pensam em ouvir,
Quando necessitam do próprio ouvido
São todos de plástico,
Excluem seus filhos, mulheres e maridos
Daquele plano de fundo tão bonito,
Só para sair bem na foto, ao lado do Cristo
São todos tão rasos
Tão estáticos
Tão maquinalmente bem resolvidos
E como podemos querer ser daquele jeito
Que nos mostram superficialmente?
É que, nós somos de plástico.
Eu sou de plástico.
A mais plastificada de todas,
Por diversas vezes menti no meu discurso,
Pedi perdão por esquecer de alguém,
Que nem sequer importa,
Falei que amava, só pra não passar em branco
Quando eu mesma sabia,
Que eu mal importava.
Eu sou a mais plastificada,
Que escrevo tanto sobre todo esse sistema brilhante
Quando eu queria destruir tudo
Que pode ser ligado na tomada
Eu sou a mais plastificada,
Eu sou a mais treinada,
Eu sou a mais hipócrita,
Eu sou a mais falsa,
Sou a mais covarde,
Sou a mais maquinalmente movimentada,
Eu sou a pior pecadora,
Eu sou a mais cheia de nada.