Ela é tão linda. Lembra-me uma manhã de primavera, em que acordo com o cantar dos pássaros e, ao abrir os olhos, vejo borboletas voando sobre minha cabeça, vindas pela janela do meu quarto após uma longa viagem sobre o lago azul e o gramado verde que cercam a pequena casa de madeira no pé das montanhas da remota região do país. Sim, ela é muito linda, muito mais linda do que qualquer coisa que possa existir.
A noite, coloco minha cabeça no travesseiro, fecho os olhos e começo a pensar — minto, continuo a pensar — na linda garota que me cativa. Imagino-me com ela passeando pela rua mais iluminada de uma grande cidade americana; ela está vibrante, com os dentes visíveis e com a luz de seu olhar tão forte que chega a ofuscar os grandes letreiros no alto dos prédios. Vejo-me entrando num desses prédio, de forma sorrateira, com ela me seguindo, curiosa para saber onde pretendo a levar. Tomamos o elevador e descemos para o segundo subsolo. Ela está tremula de ansiedade e, assim, agarra-se em mim e me dá um beijo para aliviar a tensão. Meu Deus, isso me deixa maluco!
Minha mente trabalha fortemente e me coloca em situações cada vez mais intensas, mais prazerosas. Pululam imagens em minha cabeça e sou levado ao mundo das realizações, onde quebramos a janela de um carro e nele entramos. No prédio, no subsolo há pouco movimento nesse horário e, assim, ninguém poderá nos incomodar. Ah... eu vejo meu corpo sobre o dela, enquanto a beijo do pescoço à orelha; são beijos quentes, molhados, apaixonados. Minha mão esquerda, curiosa como é, já invadiu a saia e está em contato com a calcinha molhada dela. Meu Deus, como controlar meus instintos?
Percebo que querer controlar o meu verdadeiro eu é uma grande besteira e, enquanto a beijava e a excitava com toques rápidos em sua vagina, com a mão direita pego um caco de vidro e cravo em seu pescoço. Meu pênis, já duro, ejacula ao ver tanto sangue jorrar. Ela não consegue nem gritar de tanta emoção. É o ápice do nosso amor.
Mas de supetão, meus olhos abrem, vejo-me sozinho no meu quarto, e, então, percebo que, novamente, vivi um grande momento somente na minha imaginação. Odeio quando isso acontece, pois acompanhado da frustração, vem um forte sofrimento. Minha cabeça que me deliciava, agora me destrói com a realidade da garota que me fascina; lembra-me que ela, nesse horário, dever estar no cinema com aquele Zé Roela com quem escolheu viver.
Ela, que é tão bela, jamais passou pela porta, imagina, então, pela janela. Trocaria a vida de qualquer borboleta que invade quartos na primavera pela presença dela em minha cama. Assim, e somente assim, eu poderia matá-la, digo, amá-la.