Retalhos de uma vida passada
Romão de Fonseca
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 07/12/16 04:38
Tags: vida
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 3min a 4min
Apreciadores: 5
Comentários: 4
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Usuários que Visualizaram: 14
Palavras: 482
Não recomendado para menores de catorze anos
Notas de Cabeçalho

Dica para leitura; https://www.youtube.com/watch?v=gr0XWmEbiMQ

Capítulo Único Retalhos de uma vida passada

Um dia qualquer em um lugar qualquer nos arredores de Florianópolis, Santa Catarina.

Era engraçado o modo como ele vivia... Recebia dinheiro do pai, não sabia o que era pagar uma conta, pois, vivia desafortunadamente com o sustento que não era seu. A cada período do tempo que passou lá, alguém o visitava, seja para conversas, erva, bebida ou sexo, mas nunca ficara sozinho. Pode ser que ele tivesse toda a liberdade do Mundo, saía quando queria, gastava o quanto podia(ou nem tanto assim), dormia o quanto desse e sempre que tinha chances, passeava à noite pelas ruas de Floripa - ele não sabia dos perigos da vida, nem da noite e nem da rua, afinal, nunca viveu nada de muito anormal.

O consideravam um boêmio, poeta, escritor, político(diziam que tinha a essência política), um quadro sindical em formação e onde passava era bem quisto. Na frente de todos, sorrisos. Na frente de todos, piadas. Na frente de todos, amores. Na frente de todos, felicidade. Na frente de todos, amante. Na frente de todos, inteligente. Na frente de todos...

Certa vez, em um breve momento de sua vida, aproveitou a amizade que tinha na república onde morava e decidiu ir à uma boate, o que exigia um grau de alucinação - o boêmio clássico é fã de Vinicius e Toquinho, segundo a regra, uma boate eletrônica não seria bem vista entre os semelhantes -, então o ofereceram um Bike 1944, o doce, aquele que direto de Amsterdão traz a alegria de seus usuários. Ele toma sem qualquer duvida e indisposição aquele papelzinho e não demora muito, o efeito acontece... O caminho que os amigos o levaram não era a balada e sim a Lagoa da Conceição, point paradisíaco de Florianópolis e lá ele tem uma das melhores experiências psicoativas de sua vida: a Baleia.

A Baleia saia da Lagoa de uma maneira nunca antes vista, supondo, é claro, que ela sempre esteve la. A cabeça do animal estava em sua direção, os olhos eram enormes, mas fundo demais para saber o que se passava na cabeça dela, a boca conseguiria engolir facilmente todos que ali estavam, talvez, todo o Mundo conhecido. E do nada, ela sorrira, como se quisesse contar algo a ele. Tudo foi filmado por seu cérebro. Tudo. Ela sumiu, desapareceu de seu olho, nem sua cauda, que diferente do corpo e cabeça, eram minúsculos. Ela sumiu de sua vida.

O engraçado é o que ele escondia atrás desses amores e coisas que sentia ou passava sentir, a solidão, o desprezo, o desespero, a depressão, o vício e a falta. Cada ítem milimetricamente selecionado por seu coração, no que resultava na maior farsa de todas: ele mesmo. Enquanto seus amigos e amores o cumprimentavam, a falsidade denotavam certa psicopatia.

A efemeridade da vida o persegue. E nesse texto tão desconexo e descontínuo, o desespero da ansiedade já me tomou conta para continuar. Desculpem.

❖❖❖
Notas de Rodapé

Obrigado.

Apreciadores (5)
Comentários (4)
Postado 16/12/16 16:39

Como um texto maravilhoso desses ainda não tem nenhum comentário, nenhuma apreciação? Desculpe pelas pessoas que passaram batido, seu escrito realmente tem um grau de profundidade que não se saberia ter se não lesse até o final, a fachada que a pessoa ostentava para fugir dos problemas internos que a perseguem, a crise, o vício, a depressão. A cena da Baleia foi linda demais, dava quase para capturar uma fotografia dele sentado e a figura marinha majestosa lhe sorrindo, como se entendesse o que ele passasse e o convidasse para se aventurar naquele mar perigoso onde as preocupações não o alcançarão.

Parabéns, Romão! Obrigada por compartilhar tão magnífico texto :3

Postado 18/12/16 09:38

Olá

Que comentário inesperado!

Eu sofro com alguma falta de identificação textual que prejudica um pouco a coesão e coerência dos meus escritos - não no sentido gramático, mas no conceito. É um mal criado pela filosofia e história, faculdades muito presentes na minha vida.

Ademais, fico realmente feliz por ter apreciado o texto, esse é um daqueles não se tem muito o quê eu falar, pois, só lendo que entende-se o que é, hehe.

Eu fico realmente grato.

Obrigado!

Postado 25/01/17 12:03

Outro grande texto. É um deleite ler teus escritos, a meses e meses eu não encontrava uma leitura que me prendia desta forma. O modo como você escreve e as coisas que escreve, é diferente dos demais. Gosto de coisas desconexas, sofridas, cinzas e cruas. Textos muito cor de rosa ou que fala de amor como algo belo e apaixonante me da vertigens, enfim... outro excelênte texto, sem dúvida.

Postado 25/01/17 20:42 Editado 25/01/17 20:43

Olá

Que bom que gostou desse texto também.

É desses textos que só me acontece poucas vezes na vida, pois grito pouco, não há pulmão que consiga gritar tanto e o meu, defasado que é, grita pouquíssimas vezes.

Sim, amor é rosa, mas também vermelho; é preto e cinza nos momentos de crise (pois há de se ter crise no amor) e realmente recompensador.

Obrigado por mais um caloroso comentário!

Postado 04/02/17 01:43

quando estava a ler, recordei-me de uma canção a qual eu escutava: https://www.youtube.com/watch?v=BfuWXRZe9yA

é aquela velha história " Fiz de mim o que não soube

E o que podia fazer de mim não o fiz.

O dominó que vesti era errado.

Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.

Quando quis tirar a máscara,

Estava pegada à cara. " e quando enfim tu consegues arrancá-la descobres que já não há porra alguma. ou talvez não foi bem assim. eu nunca sei. de qualquer forma, esqueci o que ia comentar. é provável que seria nada, mas resolvi deixar umas palavras aqui. sou péssima nisso. ótimo texto. valeu.

Postado 04/02/17 02:26

Olá

A canção cabe bem. Eu também nunca sei e esse nunca é sempre assim, morto.

Fico grato que tenha comentado, é sinal de que algo aconteceu, ruim ou não ao ler e isso já é mais do que suficiente.

Obrigado e obrigado.

Postado 19/11/17 22:44

É engraçado/trágico o quanto se pode esconder dos demais/si mesmo, o quão profundo é o Abismo pessoal de algumas/todas as pessoas neste Mundo.

Não seria a Baleia o verdadeiro Eu do eu-lírico revelando-se sem receios à pessoa que a mantinha oculta no seu oceano particular de farsas, medos, dúvidas, falhas e desespero?

O protagonista da obra... Há como não se sentir identificado, quiçá representado por ele? Sua dualidade é tão verossímel quanto deprimente, um engodo velado para um sofrimento/oco velado.

Não se lê, somente, uma obra assim. Se aprende. Se sente. E por isso o agradeço e parabenizo uma vez mais, Sr Romão.

Atenciosamente,

Um ser cuja existência se tornou descontínua, Diablair.

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Postado 22/11/17 19:31

Olá!

Mr. Diablair, sinto-me honrado por tamanho comentário. Ao mesmo passo em que admiro sua identificação para com o protagonista, pois, este certamente foi um dos objetivos do texto.

Obrigado e obrigado.