Minha querida, eu estive pensando... por onde andam as mulheres que já estiveram em minha cama? As que se aconchegaram em meu peito? As que disseram que me amavam? Por quantos corpos mais elas se perderam até se encontrarem aonde estão agora? Quantas loucuras profanas elas tiveram que se submeter em troca de um pouco de amor ou uma trepada sem graça com um pouco mais de cinco minutos de duração? Será que elas tiveram que partir alguns corações no caminho? Será que elas tiveram filhos indesejados? Ou quem sabe até, morreram sem antes escreverem uma carta de despedida?
É estranho, as vezes me pego pensando em todas estas mulheres e me perco em pensamentos profundos. Sabe, tive algumas boas mulheres, outras nem tanto, outras que me pisaram com um salto quinze de bico fino e outras que me amaram incondicionalmente, mesmo sabendo que meu coração andava sempre vazio. Lembro-me até hoje, há exatamente dois anos atrás, eu estava fazendo sexo com você, e quando terminamos, você me recolheu em seu peito e silenciosamente, sem hesitar, eu chorei descontroladamente... chorei como nunca havia um dia chorado, eu soluçava, ainda desnuda, chorava por cada mulher, por cada lembrança, por cada culpa, por cada momento de solidão... então, ao me ver esvaindo-me em lágrimas, você me apertou ainda mais forte de encontro ao seu peito e tentou ao máximo me manter segura. Você não disse nada, não soltou uma palavra se quer, não me perguntou o motivo de minhas lágrimas, apenas me abraçou compreendida e ciente de minha fragilidade.
Naquele momento, todas as recordações passadas giravam em voltam de mim, cada detalhe de cada mulher, cada singularidade brincava euforicamente bem diante de minhas lágrimas. Eu perguntava ao silêncio, aonde estavam cada uma delas, porquê nenhuma delas permaneceu ao meu lado? Por que todas se foram?Após alguns minutos me flagelando pelas memórias, abri os olhos e observei a cama desarrumada, os lençóis pendidos no chão, e uma metade da cama vazia...
Você me olhava com um sorriso acolhedor e silencioso, sem pedir explicações, apenas me deu um beijo terno e me abraçou mais uma vez... ficamos ali, um coração batendo no mesmo compasso que o outro coração. Eu me senti culpada por estar pensando em outras mulheres, eu me senti culpada por estar chorando por outras mulheres, eu me senti culpada por estar desejando um passado que jamais me pertenceria novamente.
Sabe o que é mais engraçado disso tudo, se é que tem algo engraçado nisso? É que já fazem quase três anos que nós duas estamos juntas e você jamais perguntou qual foi o motivo do meu sentimentalismo naquela noite, sempre que tocamos no assunto, você apenas sorri e com os olhos consente, respeitando meu silêncio... realmente, você é uma garota incrível, se fosse outra mulher, jamais reagiria da mesma maneira, jamais manteria minhas dores em silêncio, mas você não, você apenas me abraça e me pede que eu escreva meus pesares caso isso me ajude a me manter instável emocionalmente. E sabe, eu a amo por isso!
Anos e mais anos se passaram, mulheres vieram, mulheres se foram. Inúmeras mulheres se deitaram nessa mesma cama que eu irei me deitar agora, corpos e mais corpos, revestidos de vazios, almas perdidas e corações reconstruídos a base de desesperança... chega a ser engraçado, se não fosse trágico. Tragicamente perturbador. Cara, ainda posso sentir certos perfumes, ouvir certas risadas, sentir o gosto de uma vagina ou outra. Chega a ser surreal as vezes...
Um dia desses uma delas me procurou, perguntou se um dia eu a amei, se pelo menos uma única vez foi tudo real, se foi intenso o suficiente, se um dia eu pensei que poderia ser eterno? Apenas me calei por um breve momento... não pude responder sua pergunta, desliguei antes que ela tornasse a perguntar.
Nas noites de insônia eu me recordo ainda de cada uma delas, até daquelas que partiram meu coração com amores que elas sabiam que jamais poderiam me dar, e rio, eu rio e choro ao mesmo tempo, dependendo da intensidade eu até afundo minha face no travesseiro... e permaneci ali, até quase o ar me faltar e minha vida se tornar breve, breve demais para que outra lembrança me recolha...
Mulheres. Mulheres e seus crimes inafiançáveis. Mulheres e seus atos hostis. Mulheres e suas curvas perigosas. Mulheres e seus gênios maliciosos. Mulheres e suas armadilhas fatais. Eu as odeio! As odeio tanto que as amo, e amo intensamente, as amo como um dia amei cada corte em meus pulsos, as amo como cada garrafa esvaziada escondida em meu armário, as amo como cada rabisco feitos em minhas paredes, as amo como cada poesia escrita, as amo por cada mentira contada, as amo... as amo por cada tentativa de suicídio mal sucedida...
Tudo o que eu fiz, se tudo isso foi real, se tudo foi valioso ou insignificantemente indispensável, o que importa é que tentei, e hoje possuo memórias o bastante para me flagelarem toda vez que eu penso no amor como algo novo.
Com amor,
Sua grande novidade.