Realmente meu
Francisco L Serafini
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 28/02/16 21:21
Editado: 28/02/16 21:22
Gênero(s): Drama
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 5min a 7min
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Palavras: 844
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Notas de Cabeçalho

Para o desafio quinzenal, de tema "materialismo".

Capítulo Único Realmente meu

Uma mansão avaliada em dezessete milhões de reais, em uma praia particular a poucos quilômetros do centro de Maceió. Sobre a casa, há um “H” gigantesco, pintado de vermelho, o qual indica o local exato onde o helicóptero deve pousar. Aos fundos, existe uma piscina de trezentos mil litros, a qual é cercada por uma dezena de cadeiras luxuosas e por uma dúzia de coqueiros imperiais. No interior, os móveis remetem ao luxo e ao que há de mais tecnológico. Eles se distribuem entre os inúmeros cômodos, se concentrando nas seis salas e nos dez quartos. A garagem abriga carros esportivos, os quais lotariam um grid em uma disputa automobilística. Os empregados passam de duas dezenas de pessoas e são responsáveis para manter desde a integridade das flores no jardim de cem metros quadrados até o chão livre de qualquer grão de areia que possa incomodar.

Nessa mansão, tudo o que é consumido vem das mais variadas partes do mundo. As frutas vêm diretamente do Marrocos e da Espanha. Os vinhos vêm da Itália e do Chile. O papel higiênico vem dos Estados Unidos e os produtos de higiene pessoal vêm da França. Além disso, geralmente, os convidados que frequentam a mansão também são pessoas que vem de longe, como o Duque de Luxemburgo e o CEO da Samsung.

No centro disso tudo, existe um senhor de oitenta anos de idade. Fez sua fortuna após incontáveis anos de trabalho árduo, onde dedicou muito tempo e saúde de sua vida. Em sua mansão, na qual se emprenhou muito para deixar do jeito que ele queria, ele normalmente se encontra em quarto pequeno, mas aconchegante, de onde controla suas empresas. Em suas seis horas diárias de trabalho, é capaz de gerar milhões de reais e sustentar milhares de famílias.

A fortuna, as empresas, os carros, o helicóptero e a mansão são vistos como troféus dados pela vida para premiar seu sucesso professional. O conforto, os prazeres, as viagens, as pessoas influentes que conhece deixam o senhor idoso muito feliz, querendo sempre manter isso tudo perto de si até o fim de seus dias. O apego material desse homem nunca foi segredo para ninguém, tal como nunca foi segredo o que lhe faria sorrir mais intensamente: o abraço de suas netas. As crianças, por sua vez, eram os troféus conquistados pelo sucesso pessoal. Com dez e doze anos de idades, elas ao verem seu avô, corriam, o abraçavam com muita força e lhe davam um sonoro “Oi, vovô”. Elas eram frutos dos frutos do relacionamento do senhor idoso com uma linda moça, a qual sempre o acompanhou e sempre o fez muito feliz.

Nas festas de Natal, a história que o senhor idoso gosta de contar sempre a mesma história, apesar de sempre ficar com os olhos cheio de lágrimas.

— Naquela noite, a morte me pregou uma peça.

— Uma peça? Como assim, vovô?

— Sim, minha querida. Naquela noite, aquela senhora de negro apareceu na minha frente com um ar frio a cercando. Apontou sua foice em minha direção e me mandou escolher entre qual dos troféus eu deixaria para trás. Eu, sem pestanejar, escolhi que minha fortuna fosse levada embora, mas a aquela senhora de negro levou a linda moça, na clara intensão de machucar.

— Mas, vovô?! Nós não somos seus troféus?

— Sim, minhas queridas. Vocês são. Aquela senhora de negro achou que poderia acabar com a minha vida tirando a linda moça de mim. Ledo engano! Hoje estou aqui, com vocês, com seus pais e mais muita gente que me quer bem. Ela não conseguiu acabar comigo, no entanto me deixou uma cicatriz bem grande.

— Uma cicatriz, vovô?

— Isso mesmo. Se ela tivesse tirado toda a minha fortuna, ela nunca teria me deixado uma cicatriz, pois ela não teria tirado nada de mim. Vocês estão vendo a piscina?

— Sim, vovô!

— Se essa piscina estivesse na casa do vizinho, eu não me importaria. E sabem por quê? Porque ela de fato não me pertence. Ela é só o resultado do cimento, dos plásticos, de tudo que retirei da natureza. Eu posso pegar qualquer matéria-prima e ter uma piscina. No entanto, quando a senhora de negro tirou a linda moça de mim, um rombo foi feito em meu peito. Esse rombo foi tão feio, mas tão feio, que nunca fechou direito, criando assim uma cicatriz. E esse rombo só foi feito, porque o amor e o companheirismo da linda moça eram realmente o que eu tinha. Eram realmente o que eu posso dizer como “meu”. Eu não posso preencher meu peito com algo que não me pertence.

Bebidas refinadas e comidas exóticas eram presentes todos os dias na mesa de jantar da mansão. Nela se sentavam pessoas do alto escalão político de um país e empregados que mantinham a ordem na mansão. Essa simples atitude, entre tantas outras, faz com que o senhor idoso seja adorado por todos. Faz que seu coração exponha sua verdadeira face, a qual escancara um homem que procura ter cada vez mais e mais. Que procura ter o que realmente possa ser dele.

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Notas de Rodapé

Para saber mais, http://www.academiadecontos.com/forum/topico.php?id=20&p=1#post19

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