Em determinados momentos de nossas vidas, todos nós já nos encontramos pensando, qual o propósito? Ou então, eu estou fazendo o correto com a minha vida? Eu aproveito ela da melhor forma? Talvez essas indagações surjam por vivermos em um mundo de dúvidas, uma vastidão universal inteiramente carregada daquilo que não conhecemos, assim como tudo que temos ao nosso redor, assim como tudo o que temos por dentro.
Em busca de camuflar essa sensação de abismo que nos cerca e ao mesmo tempo nos preenche nos ocupamos com: trabalhos, invenções, entretenimento barato, coisas supérfluas e esportes, eu particularmente sempre detive um prazer maior ao praticar esse último. Especialmente aos que se encaixam na categoria de esportes radicais, como o surfe e o alpinismo.
Por muito tempo dediquei minha vida somente a maravilhosa arte do alpinismo. Eu e Artur é claro, é de extrema importância que não se permita escalar sozinho, afinal, por mais que haja gosto pelo esporte existe uma consciência mútua sobre os riscos de vida a seu respeito. Apesar de sermos muito diferentes, nos entrosamos bem, formamos um bom time. Ele sempre esteve envolvido em causas sociais, tinha uma boa família, eu sempre tive um desapego maior a esses sentimentos, apesar de que, amava a humanidade e o que ainda havia de ser conhecido.
Ganhávamos a vida competindo, entretanto, em todo momento em que eu avistava uma câmera em minha direção, ela fazia com que eu me sentisse hipócrita. Uma das grandes razões de eu ter optado pelo alpinismo ao invés de qualquer outro é a sensação de fugir daqui, escalar para longe de todos os olhares, que desde sempre me deixavam transtornado. Mas precisávamos do dinheiro para viver, e tive que abrir mão de um pouco desse prazer.
Como todo homem sedento por desafios, eu sentia a areia do tempo pesar cada vez mais sobre minhas costas. Este tipo de atividade é extremamente desgastante. A partir desta etapa, estava completamente decidido a enfrentar o maior desafio que eu pude encontrar, escalar o gigantesco Everest.
No momento em que pus os pés no Nepal e senti aquele clima gélido, com um monte de pessoas enfurnadas em barracos de bambu, já sentia-me incerto sobre minha viagem até aqui, era tudo muito diferente, digamos.
Hospedei-me em uma pequena aldeia denominada Bhapknu, onde os nativos me pareceram mais receptivos e calorosos de acordo com sua própria cultura. Fiquei em uma tenda de uma anciã a qual parecia ser uma das pessoas que recebiam maior apreço e carinho por parte dos outros aldeões. Ela era uma pessoa completamente reservada, raros os momentos em que se abriu para uma conversa e quando o fez, não durou mais que cinco minutos.
Em uma dessas conversas procurei entender um pouco mais sobre a cultura local e como viviam, mas ela se pontuou a apenas me dar alguns avisos.
—Saiba que ao escalar o monte, deve retornar logo mesmo que isso signifique que você não alcance o topo, e se houver qualquer problema, volte logo, se estiver cansado, volte logo, se ouvir alguma coisa estranha, volte logo. Há muito tempo que faço alguns turistas meus amigos apenas para rezar por suas almas mais tarde. — Falou a velha enquanto preparava seu cachimbo.
Apenas assenti com a cabeça e ela prosseguiu.
—Você irá sozinho? — Perguntou-me entre baforadas de fumaça.
—Meu companheiro deve chegar dentro de poucos dias, eu vim antes pois senti necessidade de dar um tempo pra cabeça.— Revelei a ela.