O céu de nuvens me remete a teus olhos – olhos nublados que escondem um belo céu azul. Olhos que dizem mais do que meras palavras ousam dizer.
Seus cabelos de verão ondulam em direção ao meu rosto, seu perfume quente toma conta de mim. Então eu perguntei se você gostaria de sair pra tomar um sorvete, mas você disse que preferia algodão doce. Eu nunca soube o porquê disso.
Então fomos a sua sorveteria favorita. Três bolas de sorvete de morango, com sua calda favorita, embalagem para levar; duas colheres. Eu e você. O vento que sacode as margaridas me fez crer que sua calcinha era azul. O caminho até a carrocinha de algodão doce era ladeado pelo verde vivo do gramado úmido. Talvez você não se importasse, mas o cara que atendia era um pipoqueiro. Cinco passos depois você comentou, nem um pouco sutil, que o doce tinha gosto de açúcar queimado, e então rimos. Rimos como dois retardados com os tênis sujos de lama.
Seu all star azul agora estava manchado, as margaridas do seu vestido preto tinham terra em suas pétalas; era o seu vestido favorito, e o meu também.
Você disse em um belo dia que gostava de garotos malvados. Apenas isso, e essa simples frase solta povoou minha mente por semanas.
“Será que sou malvado o bastante pra você?”
Eu gostaria que você respondesse? Sabe, Liz, as coisas poderiam ser mais fáceis se você não fosse tão você.
“Você poderia ser gay, Izy!” você disse enquanto assistíamos pela decima vez o seu filme favorito.
“E você poderia ser a amiga lésbica que gosta de futebol, Elizabeth” fiz questão de dizer seu nome por completo, letra por letra, daquele jeito que eu sabia que você odiava.
“Veado...” e então se aconchegou nos meus braços. “Seriamos veados perfeitos, seriamos um lindo casal de veados” e entrelaçou nossos dedos. “Como você consegue gostar de femeas?”.
“Como você não consegue gostar de femeas?” retruquei com humor.
Erámos iluminados pela luz da TV e pela meia luz de um fim de tarde que entrava por entre as cortinas empoeiradas de cor azul. Seu quarto era você em todos os aspectos, aquele tipo de bagunça organizada que da vontade de registrar com fotografia.
“Eu gosto de veados como você, Izy...” silêncio. “Somos veados estranhos, não acha?” você virou o rosto em direção ao meu, juntos o suficiente para fazermos tudo e nada.
“Acho...”, sua boca entreaberta exalava aroma de pipoca sabor bacon, o seu gloss era sabor cereja. Talvez não fosse tão errado desejar.
“Feche os olhos...”, uma ordem, apenas uma, e mesmo de olhos fechados eu ainda via você. Uma ordem, a sua respiração quente, o meu coração acelerado; cereja e bacon, uma confusão de sabores. A nossa confissão.
“Feche os olhos...”
As coisas poderiam ser mais fáceis, Liz. Quando você virou as costas eu jurava que era um adeus. Se as rosas fossem apenas cor de rosa talvez não seriamos tão confusos.
Apenas saiba que eu nunca te amei por um só dia.
Diga algo quando eu estiver partindo, diga qualquer coisa quando eu estiver desistindo de você. Quando se sentir fraca o suficiente para retroceder eu estarei à milhas de distância. À milhas de distancia de “nós”.
O engraçado era que você costumava dizer que antes do horizonte surgir céu e mar eram um todo azul.
“O que somos agora?”