Meus calcantes feridos e descalços sangram enquanto persistem em andar sobre os inúmeros cacos do que um dia eu cheguei a ser.
Este é o Reino dos Dilacerados, os fragmentos neste solo infértil são os fiéis súditos e eu sou sua eterna e solitária rainha.
Cada passo que dou é um segundo em que me torturo pensando mais em você. A dor de cada vidro que corta meus pés não é nada comparada a ferida profunda que deixou nessa cavidade que um dia foi meu coração
Com estilhaços nas mãos, observo o reflexo do sofrimento.
Um ser colorido com um vazio preto e branco dentro de si.
Nem mais nem menos; apenas esse nada chamado eu, cantando a mórbida melodia diariamente e lesionando a mim mesma como o pior dos masoquistas.
“Espelho, espelho meu. Espelha, espelha-me.
Se quebre em infinitas partes como quebraram a mim.
Espelho, espelho meu. Espelha, espelha-me.
Mostre-me aquele que em incontáveis pedaços me estilhaçou para não ficar com nenhum deles no fim.”
E como a mais dolorosa automutilação te observo enquanto mais uma parte de mim se despedaça e é lançada ao chão, formando mais um súdito que me idolatra em minha enorme e amargurada solidão.