Crônica I
Dia de Compras.
Estávamos eu e meu pai na rua grande da cidade fazendo compras. O sol quente do meio dia rachava o asfalto do lugar, mas não intimidava as pessoas. Fomos comprar qualquer besteira que pudesse ajudar a empurrar o tédio de uma sexta pra um buraco bem fundo.
Enfim passamos por uma loja de tecidos bem bonitos, paramos e vimos alguns retalhos, mas nada que chamasse a atenção.
Continuamos andando, rumando sem fim pelas calçadas esburacadas.
-Filha, vamos merendar algo? -Ele me perguntou apoiando a mão na testa para fazer sombra.
-Claro.
Me arrastando por entre as pessoas, fomos parar em uma lanchonete vagabunda e de terceiro mundo.
Meu pai bem fora de seu juízo pediu logo um copo de cana bem gelado e um pastel gorduroso. Como sou uma pessoa um pouco mais receosa, para não dizer fresca, apenas me contentei com uma garrafa de água bem lacrada
Nos 'alimentamos' e continuamos a percorrer o lugar.
Já havia se passado algumas horas desde o lanche anterior, meu pai encontrou uma banquinha de sorvete e tomou um. novamente pedi apenas água. Logo depois churros. Depois pastel.
Por volta de uma quatro horas da tarde, estávamos com os braços cheios de sacola: roupas, calçados, eletrodomésticos. Todo tipo de coisa que só se usa uma vez e depois esquece na caixa/gaveta.
Riamos alegremente quando meu pai que avançou na minha frente paralisou. Acabei esbarrando nele sem querer. Olhei para cima e vi que ele suava frio apesar do calor. Seus olhos esbugalharam e eu pensei: o que tá acontecendo?
Meu pai me encarou e logo procurou com os olhos alguma coisa.
Sera que ele foi roubado? ou esqueceu de comprar algo?
-Minha filha... -Ele começou meio gago. -U-um Banheiro?
-Agora pai? Aqui perto não tem nenhum. -Eu falei relaxando.
-Mas é urgente.
Ouvi sua barriga roncar.
-Égua, não vai dar tempo. -Ele murmurou.
Saímos as pressas entrando nas lojas e perguntando se tinha banheiro.
Ficava cada vez mais triste ouvindo o não das pessoas e o fato dos funcionários não saberem ajudar sobre onde ficava o banheiro mais próximo.
Meu pai corria com uma mão segurando as suas partes de trás, e eu teria rido se não estivesse preocupada.
Esse velho! Comeu tanta porcaria! Vai ver só depois.
Ele pegou munha mão e entramos em uma loja de roupas, algo com R, não sei dizer. Entramos vuados. Os funcionários nem chegaram perto. Subimos pela escada rolante e quando um senhor cm uma vassoura na mão foi passando meu pai o abordou:-Você pode me dizer onde fica o banheiro? -Ele sussurrava.
Vi eles trocando informações e logo meu pai deixou os trilhões de sacolas que carregava encima de mim.
Ele correu e pude vê-lo desabotoando a calça antes mesmo de entrar no pequeno comodo.
Como não sou besta, fui em direção ao banheiro feminino e entrei. Deixei as sacolas em um canto e fiz minhas necessidades. Lavei minhas mãos e sai.
Esperei 5.
10.
15.
20 minutos e nada dele. Já havia descido. Subido e sem sinal do meu pai.
Quando enfim ele saiu pela porta molhado de suor e ao mesmo tempo com água. Sua camisa estava encharcada e seu rosto pálido.
-Como foi? -Perguntei em tom de sarcasmo.
-Vamos comer agora só fibra.
Rimos e fomos pra casa.