O narrador pergunta ao personagem o que ele sente, o personagem por sua vez, distante e com agonia responde:
Rodrigo: É uma sensação, cara. Uma sensação estranha, nunca senti algo parecido na vida. Toda vez que bebo café, sinto o quente passando pelo meu corpo e meu coração vai em disparate como se fosse explodir - porém, no momento em que toco meu peito, os batimentos mostram-se seguros e firmes, como se não houvesse nada demais. Meu corpo defasado, chora. Minha cabeça cansada, sente. Eu já não sei mais o quê fazer.
O narrador por sua vez, efusivo e interessado, aprofunda a pergunta para o personagem.
- Você acha que vai morrer?
Rodrigo: Quando estou na rua, no transporte público ou sentado em casa, uma angústia me assola... Eu olho para as pessoas, para a televisão e só vejo uma única coisa: um cinza. É um cinza estranho, de vez em quando, tonto, sorrio pensando em música. Acho que eu morreria com música, sabe? Também penso em minha amada, procurando conforto e uma casa segura. Essa sensação tomou meu dia a dia, respiro isso, vivo isso e é como se não respirasse ou vivesse.
O narrador surpreso pela resposta, indaga uma questão certeira sobre a música e a amada.
Rodrigo: É, minha amada, Tânia, a qual tomou-me o coração. E sim, a música, presente nos dias de qualquer ser que se preze - porque só quem se preza, preza a música -, talvez seja um deleite morrer enquanto se houve algo ao lado de sua amada. Eu tenho medo, insegurança e uma certa aflição todas as vezes que penso sobre isso. É um tiro.
O narrador já não se faz mais narrador e sente-se obrigado a continuar.
- Um tiro?
Rodrigo: Um tiro. Rápido, ríspido e constante. Como a noite em uma boa festa com os amigos que não se tem mais. Um projétil lançado como o ato de deleitar-se nos brancos de folhas colombianas. E o coração dispara, junto dele, minha insegurança e dificuldade em respirar atrapalham um possível resguarde, mas, eu não culpo ninguém.
- Culpar quem?
Rodrigo: A falta de sentir, mesmo sentindo tanto. Quem explica a demasiada vontade de se viver? Essas noites em claro, sempre esperando alguém ou algo, sempre paciente em frente ao computador. É como estar em um aquário do tamanho do Oceano e sentir a solidão de todo um Mar.
O narrador não é mais necessário, pois, tornou-se o próprio personagem.
Rodrigo: É uma prisão, aposto eu. Encarceirado em meu próprio ser, sem conseguir respirar direito ou mesmo pensar. Independente da direção que olho, incertezas, dúvidas e aflições aparecem - sem espaço para qualquer outra coisa. Socorro, eu quero morrer! Antes, por favor, um café e um cigarro.
O narrador volta e explica que a entrevista fora realizada por algum jornalista ou coisa do tipo. O entrevistado em questão, matou os seus sentires, Tânia, a música e foi encarcerado, condenado por prisão perpétua na solitária, nos confins do Mundo. Eu estou preso e não pretendo sair. A ansiedade vai matando a mim, cada vez mais.