Hoje bateu aquela saudade fatigada,
Aquela vontade de saber de ti novamente,
De esperar qualquer resposta, de ser inconsequente,
"Oi", "como vai?", "tudo bem?",
"Quanto tempo", "como andas?"...
Ando devagar, perguntando-me se há motivo para nunca mais ter te falado,
Se há motivo para minha melancolia ou se é algum vazio,
Algum frio na barriga, alguma calma perdida, a espera pelo "um dia".
Ando como quem se esqueceu das responsabilidades,
Olho para a árvore que passa na janela do ônibus,
Olho para o casal de idosos que espera pelo vermelho do sinal,
Olho distante da realidade, olho me perguntando se o cinza das nuvens tem final,
Olho os pingos da chuva caírem, afinal,
Ouço uma vó dizer à neta que o céu está chorando,
A neta pergunta se não há ninguém para fazê-lo carinho,
Tal qual faz a mãe depois de algum machucado dolorido,
Enquanto o choro dos céus me inundam, sorrio da ingenuidade,
Deve ser a primeira vez em algum tempo que sinto algo,
Mesmo que o algo seja a roupa grudar, encharcada, não faz mal.
Continuo o dia como quem não tem pressa,
Todos correm da chuva na rua,
Será que se esqueceram da sensação de estar sob ela quando eram crianças?
Talvez o tempo não guarde nossas sensações, não, não é isso,
Prioridades, molhar-se não cai bem a vista,
Nossas aparências valem tão mais que o que não é visto...
Será que por isso não receio estar ensopado?
Talvez no essência de sentimentos
Esperar ideias sobre o que aparentamos
Seja a menor das preocupações...
Maldito corretor,
Sempre trocando excesso por essência,
Talvez ignorando um artigo equivocado,
Não faça tanta diferença.
Sentir, natural,
Se os céus choram tão regularmente,
A essência do transbordar
É controlar o excesso,
Mesmo para a saudade
Que se pode ir
No odor,
Nas marcas do rosto,
No sorriso posto,
Na inocência de uma frase dita...
— Como andas?
— Vou bem e a senhorita?