O Frasco no Baú
Wlader Gabriel
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 30/10/16 21:45
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 9min a 13min
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Este texto foi escrito para o concurso "Concurso de Halloween" No Concurso Oficial de Halloween da Academia de Contos, apoiado pela DarkSide Books, convidamos os participantes a escreverem textos no estilo "creepypasta", ou seja, obras detalhadas de terror escritas com o objetivo de assustar os leitores e deixá-los se perguntando o que é real e o que é ficção na história. Ver mais sobre o concurso!
Não recomendado para menores de catorze anos
Notas de Cabeçalho

Este diário de notas foi encontrado em uma casa abandonada, caindo aos pedaços, como de praxe.

Capítulo Único O Frasco no Baú

1 de agosto

Recebi uma carta de meu falecido tio no dia de hoje, um envelope fino em papel pardo, eu o abri e havia nele um pequeno endereço com instruções a serem seguidas com uma chave dentro. Resolvi anotar tudo neste diário. Algo dentro de mim parece querer que eu relate isso...

2 de agosto

Fui até a antiga casa de meu falecido tio, o endereço ao qual a carta indicava, entrei nela com a chave contida no envelope, é uma chave mestra para toda a casa, a instruções pedem para ir até o quarto principal onde meu tio dormia.

3 de agosto

Depois de sair da casa, com o baú em mãos, no dia de ontem, fui para minha casa e tentei abri-lo, mas a chave mestra não o abria, o baú contem inscrições por toda a sua extensão. Não tenho idéia do que significam, não sei se meu tio tinha crenças e se tinha quais eram. Deixei-o de lado e fui dormir, hoje, tentei abri-lo sem chave, a fechadura era falsa, o conteúdo do baú era composto por papeis amarelados pelo tempo, muitos papeis, e um frasco, um único frasco em formato de ampola, não sei o que tudo isso significa. Não sei por que, mas quero descobrir.

5 de agosto

Por questões familiares não puder documentar o dia de ontem, somente no começo do dia de hoje peguei o conteúdo daquele baú para estudar, os papeis são antigos, de pelo menos quarenta anos atrás, falam sobre uma viagem que meu tio fizera, metade dos relatórios não descobri o sentido, mas sei que o frasco e os papeis tem vinculo, não abri o frasco, nele contem um liquido negro cintilante, preenchendo metade do frasco, com uma rolha o tampando. Parece ser uma amostra de algo.

6 de agosto

Não peguei no sono essa madrugada, são quatro da manhã e não consigo parar de pensar naquilo tudo que meu tio me dera depois de falecido, não encontro sentido nisso tudo, nem ao menos conheci meu tio, ele morrera antes de meu nascimento, não está em seu testamento nada relacionado a nenhum baú ou coisa do tipo, então por que eu recebi isto? Por que eu?

7 de agosto

Passei literalmente o dia todo pesquisando cada significado dos papeis contidos no baú, é um relatório forense de uma doença que foi diagnosticada em cinco pacientes em estado terminal na década de setenta, os relatórios contem gravuras grosseiras de feridas amarelas esverdeadas nas extremidades dos membros superiores e inferiores de três dos cinco pacientes, o resto da papelada conta em detalhes semanalmente o que meu tio fizera na índia quando estava documentando isso, parece que um vilarejo inteiro morreu por causa dessa enfermidade, meu tio não foi chamado pelo governo ou por algum órgão, ele foi verificar isso por conta própria. Meu tio era um medico com carreira encerrada por problemas com alcoolismo, portanto não tinha dinheiro, morreu num incêndio do bar em que freqüentava toda noite. Meu tio teve uma vida e morte desgraçada, o que ele foi fazer na índia então?

9 de agosto

Terminei minhas pesquisas sobre o relatório, o que me deu a ligação do tal frasco com o liquido preto dentro. Meu tio foi até a índia, pois havia indícios de que algo como a antiga peste bubônica teria se alastrado por um vilarejo pobre e teria supostamente matado a todos os moradores, meu tio então foi até o vilarejo, mas não havia muita coisa para sua curiosidade, a vila estava destroçada, parecia que a natureza tinha feito aquilo após matar todos, não haviam corpos lá, o único corpo morto que meu tio encontrara fora no necrotério da cidade mais próxima, a uns vinte quilômetros do vilarejo. O corpo encontrado lá era de um homem com seus quarenta anos, aparentemente alto de boa estatura, tatuagens recentes em seus braços, me pareceram algo religioso, apesar do legista ter me afirmado de que não reconhecia tais símbolos, os tais símbolos estão no relatório, e a única foto da documentação é deste corpo. A doença lhe tinha tirado todos os dedos, as feridas eram de um verde nauseante, mesmo para um corpo em decomposição. A causa da morte fora infecção severa e generalizada, porem não se sabe por qual meio a infecção se alastrou, o mais provável é que tenha sido transmitido por vias aéreas ou sexualmente, tudo o que estou relatando está no relatório, não me faça perguntas, pois eu também tenho me feito varias. De alguma forma meu tio alega que a doença esta contida no frasco.

10 de agosto

Estudei mais a fundo o que tinha acontecido com o vilarejo, não encontrei nada, apenas lendo mais a fundo os documentos vi que os pacientes terminais que meu tio diagnosticou nas semanas seguintes, a pele era enegrecida nas feridas que se abriam nas extremidades dos dedos, antes de caírem, como uma necrose incrivelmente poderosa que causa a perda do membro, porem, os moribundos morriam antes disso. Meu tio relata que pode ser uma variação extremamente agressiva da peste negra ocorrida no século XIV em alguns países da Europa, apesar disso a doença tem varias convergências de sintomas, o relatório do legista afirmava que antes da morte o homem sofria de frequentes ataques e transtornos psicológicos súbitos, de tal forma que ele teria comido os próprios polegares num ato de loucura causado pela doença, ou talvez não, o cérebro da vitima já estava podre suficiente para não pode ser averiguado de modo mais cuidadoso, o homem teria morrido uma semana antes de ele ter ido ao necrotério, pois o homem estava na cidade, era um comerciante. Meu tio relata com destaque que um cérebro não apodrece tão rapidamente em uma semana.

11 de agosto

O frasco está em um mini cooler que comprei, estou com medo de tocar nele, se for mesmo um tipo de doença, então meu tio deu isso à pessoa errada, eu não quero esse tipo de problema pra mim, li o resto dos relatórios e pesquisei sobre doenças similares nos dias de hoje ou pelo menos nos últimos anos, não cheguei a conclusões satisfatórias, não tem nada sobre tal doença nos dias de hoje, mas encontrei recortes de jornais na internet, vilarejos que em questão de dias sumiam como o em que meu tio foi verificar na índia, não sei se tem ligação, são de todas as partes do mundo, irei pesquisar mais, não consigo mais dormir em paz.

14 de agosto

Descobri o significado do texto da ultima pagina dos manuscritos de meu tio, diz basicamente que ele fugiu da índia depois do quinto paciente morrer de tal forma que o mesmo arrancou um pedaço do braço de meu tio com a boca, como um animal, logo após o acesso de loucura, morreu assim como os outros.

Depois do ocorrido meu tio voltou para casa, e diz ele que guardou tudo neste baú, e depois fizera as inscrições. As suas ultimas linhas relatam que meu tio caiu adoecido dias depois de voltar, e o frasco com liquido preto, é uma amostra de sangue de meu tio pouco antes de morrer, ele diz que teve a sorte de viver isolado, caso contrario algo ruim provavelmente teria acontecido, ele não foi ao medico nem tentou se curar, ele sabia que seu tempo era curto demais, seu corpo estava infectado com a doença maldita, então ele deixou seus manuscritos e o frasco no baú escondido no forro embaixo de sua cama, então escreveu a carta que recebi dias atrás, ele diz que se alguém de sua família receber este envelope dentro de trinta anos ou mais seria o mais seguro, pois a doença no frasco já teria entrado em estado de hibernação, mas alguém teria que tomar responsabilidade pelo mesmo, pois a natureza é ardilosa e traiçoeira, e acima de tudo, inteligente. Porém ele dizia em sua ultima linha que o frasco não devia em hipótese alguma ser retirado do baú. Droga.

16 de agosto

Provavelmente esse será meu ultimo relato, estou doente, muito doente. Eu não devia ter retirado o maldito frasco do baú, não sei como, mas o cooler estourou o frasco. O frio talvez? Não, duvido que o frio fizesse isso com o frasco, não importa. Fui estúpido, negligente. Nada disso importa mais, estou moribundo e as pontas de meus dedos que escrevem este relato estão negras, não vai demorar muito para meus dedos se desprenderem de meu corpo então não poderei mais escrever, tenho sonhos febris toda noite quando tento dormir, sonhos sobre magias antigas e símbolos, sobre canibais antigos que cultuavam um deus que purificaria o mundo todo com artifícios naturais. Eu só espero que a morte venha logo, não quero mais sofrer, minhas veias parecem fogo ardendo, não tenho mais apetite, se como algo, logo após vomito, meu estomago não esta mais digerindo a comida, acho que meu fígado falhou, meus olhos estão amarelados. Meu tio sabia disso, que a morte logo viria, ele sabia que não devia se intrometer com forças da natureza, ou outras forças tão poderosas quanto. Tal flagelo jamais poderia ser destruído, poderia ser contido apenas, foi o que meu tio fez em sua ultima noite de vida, com o baú e seu sangue. E eu fodi com tudo. Em breve a morte virá me visitar e isso é inevitável. As pontas de meus polegares começaram a cintilar um verde doentio, adoecido, podre. Eles parecem tão... Deliciosos.

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Notas de Rodapé

Por: Wlader Gabriel Romário Ceccarelli Fernandes.

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