Meus pés doem. Meu corpo já realizou esses mesmos movimentos dezenas de vesses e nem por isso ficaram mais fáceis. Mais leve, mais gracioso, mais delicado, repito mentalmente como uma prece. A cada passo sinto meus músculos se alongarem e retraírem, controlo a respiração , calma agora , não posso ter pressa. Mais uma parada agora, postura, sempre controlada, sempre graciosa.
O coração bate forte, mas não posso demostrar nervosismo. Mais uma sequencia de giros e agora pose. A musica dos violinos me envolvem completamente, linda , forte, marcante. Seu ritmo me guia, me leva pra onde é meu lugar. Faço ponta , as sapatilhas são apertadas, machucam, mas já me costumei, agora não vivo sem elas. Dançar se tornou minha vida. As horas de ensaio, pequenos machucados, as dores, os calos, as frustações, tudo vem em mim agora em forma de emoção. Todo meu esforço, todas as noites em claro, todas as lagrimas. Ainda lembro de todas.
As primeiras sapatilhas, a primeira pirueta, a primeira ponta, primeiro sucesso e o primeiro fracasso, assim como os muitos depois desse. Lembranças me envolvem no ritmo da musica, nesse momento percebo que já não sinto mais dor, meu corpo me leva agora sem pensar na coreografia ensaiada até a exaustão.
Quantas coisas eu abri mão por esse momento? Quantos fins de semana passei sobre as sapatilhas? Muitos. E não me arrependo de nenhum, pois agora meu sonhos estão se realizando.
A musica esta em seus acordes finais, tão leves, tão tristes, como uma companheira que se vai. Os últimos passos vem com facilidade agora. A ultima posse e o silencio recai sobre mim, acompanhado pelo ensurdecedor barulho das palmas do teatro lotado. Não consigo segurar o sorriso que surge em meus rosto, a felicidade exala de mim. Eu consegui. Logo as cortinas descem mas minha alma flutua, e lagrimas de alegria rolam.
Eu nunca esquecerei, nunca. Ficou gravado em mim. Em minha alma de bailarina.