O mesmo recital de todo dia,
Cada som compondo a melodia.
A munição na câmara alocada:
Primeira nota da canção metálica.
O tambor sendo fechado:
Baque rústico e inspirado.
O mesmo depois girado:
Ritmo que o deixa fascinado.
O cano se volta para a cabeça
E isso o anima (por incrível que pareça).
O ponto alto da canção?
Dura nunca menos que uma fração...
Mas, é tão lindo em sua simplicidade
Que vale a pena a letalidade.
Já está morto, de qualquer forma;
Sexo, bebidas, nem mesmo drogas:
Nada mais o libertava da apatia
Exceto o som que o percurssor fazia
Quando o cão da arma se movia.
O estalar momentâneo de uma vida...
Estava tão viciado naquela música
Que uma dose diária virou duas
E quando isso não o satistez
Pensou logo "por que não três?"
Era como ouvir algo foda no repeat:
Prazer ou morrer, meio termo não existe.
Mais um dia, mais uma sequência,
Mais um concerto da inconsequência.
Um escárnio de sorriso é esboçado
Em seu rosto outrora entediado:
Será sua repetição número meia nove.
O dedo uma vez mais se move;
Uma espoleta finalmente é encontrada
Então com um estampido, o show acaba.