Amble
Vitória Turbiani
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 27/02/16 20:59
Editado: 08/03/16 10:34
Gênero(s): Drabble Drama
Avaliação: 9.65
Tempo de Leitura: 2min
Apreciadores: 13
Comentários: 7
Total de Visualizações: 1014
Usuários que Visualizaram: 27
Palavras: 343
Não recomendado para menores de catorze anos
Notas de Cabeçalho

Amble possui várias interpretações. Não é apenas uma texto sobre o holocausto, ocorrido na segunda Guerra Mundial na Alemanha. É sobre, também, um pouco do que se passa na nossa alma, no nosso ser.

Boa leitura a todos.

Capítulo Único Amble

Amble,um pequeno conto por Vitória Turbiani (Alphellya)

Meus olhos estavam fixos em meus pés sujos de barro e sangue, presos por algemas que eram unidas por uma pequena corrente de ferro que permitia que eu apenas desse alguns passos curtos. Meus braços também estavam presos, contudo as algemas que os prendiam não possuíam uma correntinha. Elas apenas mantinham minhas mãos juntas, atrás de mim, numa posição deveras desconfortável.

Eu não marchava sozinha. Ah, não. Eu era a primeira da fila, mas haviam outros logo atrás. Milhares de homens, mulheres, crianças, idosos... Todos presos por algemas nos pés e braços. Alguns eram torturados pelos homens fardados que erguiam-se com imponência e um ar arrogante.

Tsc. Malditos...

Virei meu rosto assim que um desses soldados iria acertar-me com uma bofetada. O golpe pegou em minha orelha esquerda, fazendo-me cambalear e cair pesadamente no chão lamacento. Meu rosto foi de encontro ao lodo; em segundos o gosto asqueroso de resíduos invadiu minha boca, deixando-me com náuseas.

— Levante-se, imunda.

Ouvi um dos homens de farda rosnarem. Em seguida, um puxão em meus cabelos castanhos fizera-me ficar em pé novamente. Com um empurrão, voltei à minha marcha.

A marcha da morte.

Olhei para frente e, mesmo com a visão embaçada por causa da lama em minha face, consegui ver a colossal câmara negra que nos esperava de portas abertas.

E é assim que tudo acaba... Pelo menos eu irei vê-los novamente... Não é mesmo, Senhor?

Olhei para o céu e um sorriso fraco brotou em meus lábios enquanto lágrimas escorriam por minhas bochechas. Em segundos eu estaria de cara com a morte e o sentimento que me bombardeava não era o medo... era alívio. E lá estava eu na entrada da câmara. Respirei profundamente pela última vez e fiz uma rápida oração.

— Vamos logo, judiazinha de merda. Entra nessa câmara logo.

O guarda que estava ao lado da porta gritou, empurrando-me para dentro. Me encolhi contra a parede do fundo e esperei.

Esperei os finos e gélidos braços da morte levar-me para um local de paz.

Finalmente... Paz...

❖❖❖
Apreciadores (13)
Comentários (7)
Comentário Favorito
Postado 06/06/18 14:40

A carga emocional deste texto, com certeza, me apunhalou na alma. É fato que esse tema já possui certo teor melancólico, mas ainda assim, ler sobre dói. Principalmente com uma narração tão bem redigida e com sentimentos tão vividos.

Tu conseguiu colocar em palavras um breve acontecimento que com certeza não irei esquecer. Toda essa comoção sofrida, o apelo pela morte, a violência extrema e a nostalgia de tempos que já se foram, afogam o leitor, abraçando-o e dizendo:"Sim, isso aconteceu. Isso foi sentido. Isso não pode ser ignorado".

Meus parabéns por uma obra tão bem escrita e elaborada ♥

Postado 27/02/16 21:48

Intenso, senti-me angustiado.

Postado 27/02/16 23:13

~ Wow! ~

Sabe aquele momento em que você consegue imaginar cada sena? Pois então. ( My God!)

Muito bom msm!

( P.s.Winter is coming )

Postado 28/02/16 04:39

Caramba! Que texto pesado e chocante! E a parte mais triste, é que também é realista.

Parabéns.

Postado 28/02/16 07:49

Particularmente, a estética do texto, com esses espaçamentos grandes, me incomodou um pouco. E também encontrei alguns deslizes de concordância, mas nada sério. No geral, gostei de como a história foi desenvolvida. Concordo com o Daniel e acho que o apelo dela vem, em grande parte, pelo fato de ser realista. Ainda que por outro lado, na minha humilde opinião, haja detalhes em excesso e que, se fossem removidos, dariam maior profundidade ao que se quis retratar. De uma forma ou de outra, parabéns pela obra! Até a próxima.

Postado 03/03/16 19:09

quando comecei a ler, foi como se eu soubesse como seria o final...um dejavù...incrível, vc conseguiu passar a angústia de um campo de concentração. parabéns

Postado 11/01/18 22:17

Eu me lembro de ter já lido esse texto, e apesar de fazer algum tempo, a intensidade continua sendo muito forte. Me lembra um pouco do "O Menino do Pijama Listrado", talvez por tratar de forma comum e cruel realidade dos judeus. Não importa se você era criança, adulto ou idoso, o final seria o mesmo: a morte.

Não sei exatamente o porquê, mas li o texto como se fosse uma menina contando, e isso intensificou ainda mais o aperto no peito. Os detalhes, a maneira como é descrita de uma forma conformista, sem esperanças, somente na expectativa de alcançar a tão almejada paz.

Dilacera a nossa alma e nos brinda com uma angústia significante. Parabéns, Vic!