Que nossa alma seja esmagada pelas piores dúvidas, que sejamos condenados à sina de uma decomposição perpétua, nosso espírito se desconstruindo a cada segundo na insônia, em toda parcela de intranquilidade e colapso físico… Que habitemos nas profundezas mais negras do terrível, de um inalcançável, na evidência de um abismo, e que sejamos para sempre prisioneiros dos piores demônios, aqueles multicoloridos espectros de dor e depressão, os diabretes que vagam em nossos interiores e espetam com lanças de gelo e cianureto nossos corações… Que nossa condição seja mais deplorável que a do verme caçado pelo pássaro, que estejamos eternamente a nos afogar em nossas próprias lamentações, com o peso de nossas ideias e culpas atado como aço a nossos pés, nossas mãos presas e feitas imóveis pela plena ausência de vontade, nossos corpos afundando no mais obscuro oceano de vômitos, no sangue coagulado de nossos fracassos… Que um inferno seja nossa vida, e que nenhuma visão de fogo ou trevas de algum mito possa ser comparada à nossa desgraça, esse nosso último orgulho, essa desesperada arrogância de uns miseráveis quaisquer…
Tudo isso não importará, nada disso será excessivo para nós; mesmo no vale da sombra da morte, nada temeremos… desde que não saibamos que existe algo a ser temido.