Uma promessa para a Lua
Izabella Dias
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 25/10/16 15:53
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 22min a 29min
Apreciadores: 4
Comentários: 1
Total de Visualizações: 1474
Usuários que Visualizaram: 15
Palavras: 3533
Este texto foi escrito para o concurso "Concurso de Halloween" No Concurso Oficial de Halloween da Academia de Contos, apoiado pela DarkSide Books, convidamos os participantes a escreverem textos no estilo "creepypasta", ou seja, obras detalhadas de terror escritas com o objetivo de assustar os leitores e deixá-los se perguntando o que é real e o que é ficção na história. Ver mais sobre o concurso!
Não recomendado para menores de doze anos
Capítulo Único Uma promessa para a Lua

O rapaz encarava a foto da moça no altar improvisado, os olhos acinzentados dela pareciam chamar o nome dele, a chama da vela tremulava e ele tinha quase certeza que ela era capaz de vê-lo também.

“_O que você está fazendo aí parado Joseph?” – Lívia perguntou enquanto ajeitava o xale sobre os ombros encurvados.

“_Vovó! A senhora me assustou.” – Joseph dera um pulo pra trás ao ouvir a avó – “_Eu só estava... Quem é ela?”

“_Alguém com quem você não deve se incomodar Joseph. Ela já morreu, e os vivos não devem se meter com os mortos. Por que você não vai brincar com seus irmãos?” – A avó tentava puxar o braço do rapaz sem sucesso.

“_Vovó, eu já tenho dezessete anos.” – Joseph sorriu para a avó “_Eu só quero saber quem é a moça porque eu nunca havia visto ela antes em nenhuma foto da família. E por que a vela? Não estamos no dia de finados.”

“_Não vai me deixar em paz não é mesmo Joseph? Você é cabeça dura, igualzinho à sua mãe.” – Lívia resmungou e puxou o neto para longe da foto, sentou-se na sua cadeira de balanço e apontou para que o neto se sentasse no chão a sua frente.

“_O nome dela é Emily... Era Emily” – A senhora se corrigiu rápido como que com medo de falar da mulher no presente. – “_A vela é para dar um pouco de luz à alma dela, mas não posso acender no dia de finados porque Emily... Bom, Emily não é como os outros mortos. Então eu acendo hoje, que foi o dia em que ela morreu. É isso. Ponto final.” – Lívia apertava as mãozinhas enrugadas e o neto percebeu o quanto ela estava incomodada em contar tudo aquilo, mas sua curiosidade era grande, ele precisava saber mais sobre aquela mulher.

“_Eu percebo o seu incomodo vovó, mas me conte mais, por favor. Não há de fazer nenhum mal não é mesmo” – Joseph pôs sua mão sob a da avó e sussurrou. A avó não respondeu. “_Ora, por favor vovó. Me conte, por que ela é diferente?” – A avó não conseguia dizer não para ele, era o seu neto preferido e ela amava contar histórias à ele. Não faria nenhum mal contar mais essa. Pelo menos era o que ela repetia para si mesma.

“_Está bem Joseph, seu menino mimado.” – Ela sorriu para o neto – “_Tudo começou no ano de 1894, aqui mesmo em Paris, o seu bisavô, Eduard Durand Carpienter, tinha mais ou menos a sua idade e estava prometido em casamento a uma garota chamada Emily...”

Emily era dona de uma beleza triste, possuía grandes olhos acinzentados, a pele pálida como a pétala de uma rosa branca e longos cabelos da cor da noite. Não possuía muitos amigos, pois seus gostos estranhos afastavam as pessoas. Eduard parecia ser o único que se importava com ela. Durante a infância, eles costumavam brincar no cemitério atrás da igreja, se esgueirando por entre os túmulos e rindo enquanto Emily lia histórias de terror em seus livros de capas escuras. A menina sempre fora um tanto quanto excêntrica, antes de completar quinze anos ela já havia tentado suicídio, tomara alguns calmantes e se submergiu na banheira da casa, os empregados, porém, conseguiram tirá-la a tempo e salvá-la. Era uma menina muito sozinha, a mãe morrera no parto e o pai, um rico comerciante, vivia viajando. Eduard fora e era a luz do sol no mundo anoitecido dela.

Os anos passaram, eles cresceram e uma certa noite, enquanto estavam sentados na ponte observando a lua deitar-se sobre o mar, Emily confidenciou que era capaz de ouvir a morte chamando por ela, como quem chama uma filha de volta para casa, chamava o nome dela baixinho durante as horas mortas da madrugada. Eduard ficou muito assustado e a pediu para prometer que ignoraria os chamados daquele dia em diante.

“_Ora Eduard, talvez eu deva ouvir. Eu não tenho nenhum motivo para permanecer aqui mesmo, estou cansada de não ter ninguém...” – Emily disse encarando o piso de madeira da ponte, e Eduard tinha certeza que ela estava chorando.

“_E quanto a mim, Emily? Eu não estou aqui para você?” – Eduard esticou a mão e tocou o ombro ossudo da garota.

“_Mas você só está aqui porque tem pena de mim Ed, e isso me dói muito. Me dói porque eu te amo imensamente, te amo desde a primeira vez que te vi.” – A menina disse e levantou os olhos acinzentados em direção a Eduard.

“_Eu também te amo Emily, você é a irmã que eu não tive.” – Eduard abaixou os olhos constrangido.

“_Para de dizer isso Eduard. Pare! Eu te amo como homem, não como irmão. Por favor, tente me amar também” - A garota gritou para ele enquanto os soluços subiam-lhe pela garganta em explosões de desespero. – “_Ou pelo menos, permita que eu te ame.” – Emily sussurrou, as lagrimas correndo pelas bochechas alvas

Eduard abraçou a menina instintivamente. Odiava ver ela chorando, principalmente quando o motivo era ele. Eduard sabia que ela precisava dele, que sua ligação com a morte era perigosa demais e que ele precisava ficar com ela. O que passou pela mente dele naquele instante fora uma loucura, mas ele sabia que era uma loucura necessária, que era o certo a se fazer. Se ele se cassasse com Emily, ela estaria segura e com o tempo ele, talvez, conseguiria transformar a amizade que sentia por ela em amor. Talvez, com o tempo e a convivência, ele não a visse mais como uma irmã e até começasse a desejá-la como mulher. Eduard respirou fundo e pronunciou, com a lua e o mar de testemunhas, as palavras que mudariam as vidas deles para sempre.

“_Seque as lágrimas Emily. Eu não quero mais que você se sinta sozinha ou abandonada.” – Ele a afastou para que pudesse fitar seus olhos acinzentados.

“_O que está tentando me dizer?” – Emily enxugou as lágrimas, a voz ainda tremula.

“_Prometa-me que vai ignorar os chamados da morte e de qualquer outra coisa... E eu prometo que me caso com você. Eu aceito o teu amor Emily, e também tentarei te amar.” – Eduard segurou a mão dela entre as suas, era gelada e pequenina.

Emily o encarou sem acreditar durante intermináveis segundos, piscava como quem tenta acordar de um sonho, e quando, aparentemente, percebeu que não estava sonhando, sorriu e puxou Eduard para si. Enquanto os lábios quentes dele tocaram delicadamente os frios dela, ouviu-se um trovão soar ao longe, talvez marcando aquela promessa.

Os dias seguintes correram tão bem quanto era possível, o pai de Emily aceitara o casamento de bom grado, a família de Eduard também aceitara o casamento, mas naquela noite, enquanto o menino se aprontava para dormir, seu pai entrou no quarto, sentou-se na cama e disse com a voz rouca:

“_Meu filho, eu admiro muito o que está fazendo por essa menina, mas casar-se com alguém por piedade é algo que está fadado à dar errado. Um dia, por mais que você esconde, ela irá descobrir que você não a ama e essa dor, filho, será grande demais.” – O homem levantou-se, tocou o braço do filho e antes de sair dirigiu-lhe um último olhar de aviso.

Eduard não dormira bem naquela noite, sonhara com Emily, vestida de noiva, chorando e gritando por ele. Quando os primeiros raios do sol tocaram a janela, ele acordou com a pele coberta de suor de com a respiração entrecortada. Passara o dia inteiro com os avisos de seu pai rondando sua cabeça, seu coração batia descompassado no peito, resolvera conversar com Emily. Marcara de se encontrar com ela na ponte, e quando chegara, ela já estava o esperando. A menina olhava absorta o mar, os olhos acinzentados fixos na água, os cabelos soltos dançando ao redor do corpo. Estava bonita.

“_Emily?” – Eduard chamou pela moça.

“_Hm?! Ah! Eduard.” – Emily jogou os braços ao redor do pescoço dele e o beijara com sofreguidão. Ele deixou-se ser beijado. Ela o soltou e o fitou com seus grandes olhos acinzentados, acariciava o rosto dele lentamente como quem acaricia uma peça frágil e quebradiça.

“_Sabe Eduard? Essa noite eu sonhei com nós dois olhando juntos a lua da ponte. E quando eu acordei, fiquei pensando que quando a morte vier nos buscar, iremos juntos e felizes.” – Emily sussurrou sorrindo.

“_Deus que nos livre Emily, somos muito jovens ainda, temos a vida inteira pela frente.” – Eduard disse ríspido, mas recuou ao ver os olhos dela – “_E você fala como se não tivesse medo da morte não é?” – Ele riu e deitou a cabeça dela em seu peito.

“_Eu tenho medo é da solidão Eduard. Tenho medo de perder você. A morte não me assusta não, já até quis encontrá-la algumas vezes, mas impediram ela de me receber.” – A menina riu baixinho contra a pele dele. Emily encostou o nariz no pescoço de Eduard e respirou fundo o perfume do rapaz – “_Percebe que nós dois somos iguais, meu amor? Eu e você somos feitos da mesma energia escura da lua. Os nossos destinos se pertencem.” - Emily sussurrou e Eduard percebeu que não conseguiria quebrar as esperanças dela, ele não saberia dizer não.

Contudo, como o dia sempre chega para dar lugar à noite. Chegou, também, à cidade uma moça, ela e a mãe foram contratadas para trabalhar na casa de Eduard, e ele se apaixonou perdidamente pela menina assim que a viu.

“_Boa Dia senhor. Vim buscar as suas roupas para lavar.” - A menina disse parada a porta, os olhos baixos e as mãos cruzadas atrás das costas. Eduard se virou para olhá-la e seu coração estremeceu ao ver a menina, os cabelos cacheados mal presos insistiam em cair-lhe sob o rosto, a pele bronzeada, as curvas, os lábios, os olhos amendoados, tudo nela lembrava à ele o sol. Eduard pegou as roupas jogadas na cadeira e entregou à moça, segurou-lhe a mão enquanto entregava e eram quentes, delicadas, porém precisas. A moça fitou-o assustada e ele soltou a mão dela acanhado, sussurrou um pedido de desculpas e ela riu enquanto descia correndo as escadas.

“_Desculpe-me vovó, mas quem era a moça?” – Joseph interrompeu.

“_Bom... Era minha mãe.” – Lívia respondeu baixinho. – “_Seu bisavô, era um rapaz muito bonito e ela também se apaixonou assim que colocou os olhos nele. Oh Joseph, ela não sabia que ele era noivo de Emily, talvez se ela tivesse sabido antes...”

Eduard não sabia o que fazer, seu compromisso com Emily era inquebrável, mas estava completamente apaixonado por Heloise. A cada toque, a cada sorriso, a cada olhar trocado ele se apaixonava mais. Passava as noites conversando com ela, rindo de suas histórias, sentindo o calor que ela irradiava e esquecia cada dia mais de Emily.

Os meses se passaram e chegou a semana do casamento. Eduard via-se preso em uma encruzilhada, resolvera falar com Heloise sobre tudo o que estava acontecendo. Explicou-lhe todo o seu drama e sua promessa à Emily.

“_Você a ama?” – Heloise perguntou, os olhos amendoados turvos de decepção.

“_Não. Eu amo você, mas...” – Eduard tentou pegar a mão da moça, mas ela a tirou antes.

“_Mas vai se casar com ela.” – A menina derramou algumas lágrimas e o coração de Eduard se apertou no peito. – “_Se me ama, vamos fugir Eduard. Vamos embora daqui, você e eu.” – Heloise implorou e o rapaz queria pegá-la no colo e sumir de Paris.

“_Eu... não posso.” – A menina derrubou mais lágrimas e ele se ajoelhou aos pés dela – “_Eu te amo Heloise, mais que tudo. Por favor, acredite. Eu te amo desde o primeiro dia em que te vi... Você é meu sol.” – Eduard fitou a menina por alguns instantes e então secou cada lágrima do rosto dela. Beijaram-se com desespero e então Heloise se levantou devagar e desabotoou, lentamente, o vestido escuro, deixando-o cair aos seus pés, o corpo moreno nu brilhava à luz das velas. Eduard sorriu e puxou-a para si.

Longe dali, Emily fitava a si mesma no espelho do quarto, o vestido de noiva que fora da mãe encaixava em seu corpo pequenino perfeitamente, ela sorria para si e repetia mentalmente que seria uma noiva belíssima, mesmo que no fundo ela não acreditasse nisso.

Eduard e Heloise acordaram com os raios de sol em seus rostos, os corpos ainda extasiados. A menina vestiu-se apressada e disse que estaria morta se soubessem que ela dormira no quarto dele. Beijou Eduard nos lábios e desceu correndo a escada, o menino, porém, permaneceu ali deitado. A cerimônia seria na noite seguinte e ele reconheceu para si mesmo que não seria capaz de se casar com Emily, deixou algumas lágrimas caírem ao perceber que ele nunca a amaria como amava Heloise. Se odiou ainda mais ao perceber que não teria coragem de contar isso à ela, resolveu, então, escrever uma carta e fugir com Heloise naquela noite ainda.

“Todo o perdão que eu lhe implorar ainda será pouco, mas será que encontrar o amor é um pecado assim tão grande? Peço aos céus que um dia você encontre uma forma de me perdoar.

E. D. C. “

Assim terminava a carta. Emily a leu e releu milhares de vezes após encontrá-la na sua porta, não podia acreditar no que seus olhos viam. Como ele fora capaz de fazer isso com ela? Quem era a menina que ele conhecera? Por que ele deixou que ela pensasse que ele a amava?

Emily subiu até seu quarto e gritou agarrada ao vestido de noiva da mãe. Chorou até seus olhos arderem, seu coração doía como se mãos o esmagassem, ela queria parar de sentir aquela dor, ela desejava parar de sentir. Apanhou a adaga de prata que seu pai guardava no cofre e se dirigiu até a ponte.

Eduard iria se arrepender, ela pensava. Ele iria amá-la, mesmo que por remorso. Subiu na beirada da ponte e fitou o mar revolto chocando-se contra as rochas.

“_Por favor, me ajude.” – Ela sussurrou ao mar. – “_Ah Eduard! Quando você se arrepender vai ter sido tarde demais.” – Emily apontou a adaga para o próprio peito e com um único grito atravessou seu coração despedaçado. Jogou-se ao mar ainda com a arma cravada em seu peito, e afundou nas águas salgadas assim como sua alma afundou na escuridão.

Naquela noite Eduard acordou assustado, Heloise dormia tranquila ao seu lado e a hospedagem onde se encontravam estava silenciosa, mas ele tinha certeza que ouvira alguém o chamar. “Foi apenas um sonho”, ele disse à si mesmo e voltou a dormir. Nas noites que se seguiram, ele sonhou com Emily em um vestido manchado de sangue gritando por ele. Não conseguia dormir mais, acordava suado e ouvindo os gritos dela em sua cabeça todos os dias. Ele precisava saber se ela estava bem, propôs a Heloise que voltassem a cidade por alguns dias para terem notícias, e com algum custo, a menina aceitou.

Quando ele retornou à cidade, seus pais o abraçaram preocupados com seu sumiço. Eduard perguntou pela ex noiva e quando contaram o que Emily havia feito, o rapaz cambaleou pela sala, ela havia se matado e ele sabia que a culpa era dele. Chorou copiosamente de vergonha, dor e remorso. Ninguém tentou dizer nada. O que diriam?

“_O que foi que eu fiz?” – Eduard repetia para si mesmo. Heloise o abraçou, sentia-se culpada também, sentia pena da moça e sentia vergonha de si mesma.

A noite chegou e Eduard permanecia acordado enquanto Heloise dormia agarrada a ele. A noite se arrastava sem se importar com eles, mas quando o relógio da igreja soou meia noite, o rapaz ouviu gritos vindo do quarto de seus pais. Acordou Heloise e se dirigiram desesperados até o cômodo, a porta estava trancada e quando ele tentou arrombar, sua mãe gritou para que ele corresse. Eduard continuou tentando arrombar, mas quando os gritos cessaram, a porta simplesmente abriu. O que ele viu dentro do quarto fez seu coração saltar em desespero dentro do peito, seus pais estavam caídos ao chão, as gargantas cortadas, e de pé ao lado da cama, sorrindo para ele, estava Emily, completamente molhada. As mãos empapadas de sangue ainda seguravam a adaga no ar.

“_Olá meu amor.” – Emily sussurrou irônica para ele. Eduard gritou por seus pais e fez menção de entrar no quarto, mas Heloise o puxou e correram em direção a escada, Emily, porém, se materializou na frente deles com cara de choro e fez um sinal de negação com a cabeça.

“_Não adianta tentar fugir Eduard. Não vou embora daqui antes de terminar o que vim fazer aqui.” – Emily disse e Eduard estremeceu, colocou Heloise atrás de si e pediu, mentalmente, que Deus os ajudasse.

“_O que você quer de mim Emily? Você já matou meus pais.” – Eduard gritou.

“_Está doendo? Pois vai doer ainda mais. Não é nem um terço do que você me fez sentir.” – Ela sussurrou pra ele. – “_Vamos até a ponte.” – Emily disse e apontou para a porta com a adaga. Eles não se mexeram. – “Vocês podem morrer lá ou morrer aqui, mas se escolherem aqui, prometo que irá ser muito mais lento.” – Heloise começou a chorar e Eduard a abraçou. Emily estremeceu ao ver e gritou para que andassem rápido. Quando eles chegaram na ponte, a lua cheia era a única iluminação e o mar revolto parecia gritar para que eles corressem.

“_Por que você fez isso comigo Eduard? Eu te amava e você me transformou em um monstro.” – Emily gritava e chorava desesperadamente.

“_Emily, eu nunca disse que amava você.” – Eduard disse, o coração palpitando.

“_Mas me fez acreditar que com o tempo conseguiria, me deu esperanças...” – Emily gritou e puxou Heloise pelos cabelos, Eduard tentou impedir, mas ela apontou a adaga para o pescoço moreno da menina. O rapaz ajoelhou, implorando, e ela gargalhou.

“_Emily, solte Heloise... A culpa foi minha, não dela. Por favor, solte ela...” – Eduard gritava, mas Emily continuava gargalhando – “_Solte ela Emily e eu irei com você... Eu irei com você” – Eduard suplicou.

“_Não!” – Heloise gritou, as lágrimas descendo pelo rosto.

“_Cala a boca!” – Emily gritou e apertou mais o braço dela – “_Você virá comigo Eduard? Ou é só mais uma de suas promessa sem valor?”

“_Eu irei com você Emily.” – Eduard fitou os olhos acinzentados da garota e se lembrou dela correndo entre os túmulos, de sua risada, de seus cabelos negros voando ao redor do rosto quando ela olhava a lua cheia, de como ele gostava de ouvir ela contar histórias, de como ele se preocupava com ela. Ele a transformara naquele monstro, era ele quem deveria salvá-la e trazer a menina boa de volta. Esticou a mão para Emily como num convite a dança, as mãos dela ainda eram pequeninas e frias.

“_Seja feliz Heloise. Por mim, pelo nosso amor.” – Eduard olhou uma última vez para o seu sol que chorava, desesperada, sem conseguir gritar ou se mexer, Emily a havia paralisado em um tipo de encantamento que ele não compreendia. Respirou fundo e olhou para sua lua e ela o fitava com os mesmos olhos grandes e acinzentados de sua infância.

“_Nossos destinos se pertencem Eduard. Somos iguais.” - Emily sussurrou.

“_Feitos da mesma energia escura da Lua.” – Eduard disse e fechou os olhos. Emily levantou a adaga alto e atravessou, com força, o coração daquele a quem ela tanto amava, o sangue quente dele sujou as mãos dela, mas ele não gritou e ela não sorriu. Caíram juntos na escuridão do mar.

“_Oh meu Deus, vovó... E o que houve com Heloise?” – Joseph perguntou, os olhos arregalados.

“_ A mãe dela a encontrou na ponte, chorando desesperadamente, logo depois. Sabe Joseph, ela nunca mais foi a mesma depois disso, pensava em suicídio todos os dias, só melhorou semanas depois quando soube que estava gravida de Eduard. Ela lembrou-se do pedido dele e tentou, por mim, ser feliz. Um dia, quando eu já tinha a sua idade, eu encontrei entre as páginas de um livro de capa escura essa foto de Emily e quando a perguntei quem era a moça, ela ficou branca feito papel e com muita insistência, me contou toda a história. Eu fiquei muito assustada e depois disso, resolvi acender uma vela para Emily todo ano, no aniversário da morte dela, para que ela permaneça em paz e nos deixe em paz também.” – Lívia falou lentamente cada palavra, parecia estar muito cansada, a história fora muito exaustiva para ela. Joseph a ajudou a se levantar da cadeira de balanço e a acompanhou até o quarto, deu-lhe um beijo na bochecha e pediu para que ela descansasse um pouco.

O rapaz retornou lentamente até a sala e fitou a foto da moça no altar improvisado mais uma vez, os grandes olhos acinzentados dela o encarando, o sorriso tímido, a pele branca feito mármore, os cabelos negros.

“_Eu entendo como você se sentia Emily. Eu teria sido capaz de te amar.” – Joseph sussurrou para a foto.

Naquela noite Joseph acordou sobressaltado, o corpo coberto de suor, sonhara com Emily parada na porta de seu quarto, a lua cheia iluminando a janela, ela chamava baixinho por ele, os cabelos negros voando ao redor do rosto.

Longe dali, na casa de Lívia, no altar improvisado, a chama da vela se apagou.

❖❖❖
Notas de Rodapé

Obrigada por lerem até aqui.

Eu espero que tenham gostado e aproveitado o conto.

Um grande beijo e até a próxima história.

- Izabella Dias

Apreciadores (4)
Comentários (1)
Postado 15/10/22 15:54

Aaahh uma linda história de amor em meio ao tenebroso suspense!

Muito legal e muito interessante o modo como os personagens se relacionam!